Descrição de chapéu Coronavírus

Naturalmente isoladas, ilhas restringem circulação antes da chegada de coronavírus

Temor é a pouca estrutura de saúde e dificuldades para remoção de doentes

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Rio de Janeiro

Isoladas do continente onde o novo coronavírus se espalha, algumas ilhas do país já orientam seus moradores a ficarem em casa a fim de evitar a contaminação. O temor é a pouca estrutura de saúde e dificuldades para remoção de doentes.

Se a Covid-19 ainda não chegou, o impacto econômico foi imediato. A vocação turística desses locais foi imediatamente afetada, sem a geração de qualquer renda durante o período de isolamento social.

O Ministério da Saúde confirmou nesta quinta-feira (26) o registro de 2.915 casos de Covid-19, tendo 77 mortes em razão da doença.

A ilha de Paquetá, na capital do Rio de Janeiro, se assustou na última terça-feira (24) quando o painel Covid-19 da prefeitura indicou que um morador do bairro estava infectado com o vírus.

Descobriu-se, depois, que tratava-se de uma pessoa que, embora residisse ali, não ia ao local desde janeiro. Há, contudo, um homem com sintomas da doença na ilha —na cidade, já são 368 confirmados e um óbito.

“Por um lado, temos uma sensação de proteção. Por outro, temos uma população muito vulnerável. Temos muitos idosos”, disse Conceição Campos, diretora-adjunta da Morena (Associação de Moradores da Ilha de Paquetá).

O hospital da ilha tem apenas um respirador. Transferência para o continente depende de helicóptero ou transferência pela própria barca usada como transporte público.

Após meses para tentar ampliar a frequência das viagens das barcas para a ilha, a associação se viu na obrigação de pedir a redução ao máximo as viagens após o início da pandemia. Restaram apenas quatro horários, restritos a moradores.

Campos já solicitou ao governo do estado a distribuição de cestas básicas para as famílias mais pobres da ilha, como charreteiros que ficaram sem qualquer renda com o isolamento da ilha para os turistas.

Em Ilha Grande, no município de Angra dos Reis (RJ), a prefeitura montou um hospital de campanha para evitar que casos suspeitos contaminem o posto de saúde da Vila do Abraão, espécie de capital do distrito.

Um dos cais da ilha foi fechado e o outro recebe apenas a barca uma vez por dia. Os turistas saíram do local na semana passada, deixando também um vácuo econômico.

O casal Martin e Helen, da Eslováquia, contudo, não conseguiu deixar a ilha. O voo para Viena marcado para esta sexta-feira (27) foi cancelado e eles não conseguiram transporte para a capital em razão das restrições de trânsito no estado. Estão hospedados num albergue da Vila do Abraão, cumprindo isolamento.

“Nos sentimos protegidos na ilha, porque aqui há menos pessoas do que na cidade. Isolamento não é assim tão duro. Restaurantes e lojas estão fechados, mas as mercearias estão abertas. Podemos sair do quarto para caminhar”, disse o casal, por mensagem.

Ainda não há casos suspeitos em Ilha Grande. Ainda assim, um carro dos Bombeiros orienta para que os moradores fiquem em casa e evitem aglomerações.

“As mercadorias podem chegar contaminadas e alguns moradores precisam ir ao continente resolver algumas pendências. Todo cuidado é importante”, disse Frederico Britto, dono da Caiçara Pousada.

Em Fernando de Noronha (PE) os turistas também deixaram o local há uma semana. Os voos foram reduzidos a dois por semana —eram oito por dia. Três carros circulam na ilha pedindo para que as pessoas permaneçam em suas residências. Os moradores que retornam do continente são orientados a ficar sete dias em casa.

O hospital da ilha tem duas “salas vermelhas” com respiradores. O planejamento é que os casos graves sejam imediatamente transferidos para Recife, a fim de liberar os recursos da unidade. Fernando de Noronha registrou nessa sexta (27) o primeiro caso confirmado —em Pernambuco, são 48 casos confirmados e três mortes.

Assim como nas demais ilhas, a preocupação imediata é atender à população que vive da renda imediata do turismo, como guias. A Administração da ilha pretende distribuir 2.000 cestas básicas.

O fim temporário do turismo vai afetar também o próprio poder público de Noronha. A receita da administração da ilha vem 80% da taxa cobrada dos visitantes e 20% do ISS recolhido dos estabelecimentos locais, que atuam em sua quase totalidade no turismo.

“O mais importante é que todos compreendam que, mesmo 95% de nossa economia sendo o turismo, entre a economia e a vida, optamos pela vida”, disse Guilherme Rocha, administrador da ilha.

Em Morro de São Paulo, na Bahia, os empresários também estão se cotizando para distribuir cestas básicas para os moradores que atuam no turismo. A ilha não tem casos suspeitos e está completamente isolada, sem transporte público para visitantes ou moradores —há apenas barcos privados.

“Sofremos três baques grandes no turismo nos últimos meses. Primeiro foi o óleo que atingiu as praias do Nordeste, depois a crise no Chile e na Argentina, de onde vêm muitos dos nossos turistas. Agora o vírus. O governo federal precisa de um plano urgente para apoiar o turismo no Nordeste”, disse Christian Willy, presidente da Associação Comercial de Cairú, cidade a qual Morro de São Paulo está subordinada.

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