Descrição de chapéu Coronavírus

Servidores de SP relatam falta de material de proteção até em alas de infectados

Prefeitura de São Paulo nega o problema e estuda confisco de material

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São Paulo

"Queremos EPIs, queremos EPIs, queremos EPIs", gritava um grupo de funcionários em um dos corredores do Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

Cenas como essa têm se repetido em hospitais e unidades de saúde no estado de São Paulo. Funcionários relatam falta de equipamentos adequados até para os profissionais que têm contato direto com casos suspeitos de coronavírus, relatam servidores.

No Hospital do Tatuapé, por exemplo, há cerca de dez funcionários que contraíram coronavírus, segundo o sindicato da categoria. O clima de medo e a situação de risco levaram profissionais a ameaçar abandonar seus postos.

Segundo um protocolo do Ministério da Saúde, os profissionais responsáveis por atender casos suspeitos ou infectados deveriam ter gorro, óculos de proteção ou protetor facial, máscara, avental impermeável de mangas longas e luvas de procedimento.

Preparando-se para a escassez dos equipamentos no mercado, a gestão Bruno Covas (PSDB) cogita até confiscar esse tipo de material. A administração afirma que quem precisa dos equipamentos os têm à disposição.

No entanto, a Folha conversou com médicos de UTI e do Samu que dizem receber equipamento inadequado em hospitais da prefeitura.

Espaço para itens de segurança contra o coronavírus em hospital paulistano
Espaço para itens de segurança contra o coronavírus em hospital paulistano - Reprodução

"Não estamos usando o EPI adequado. Não há gorro e os aventais não são impermeáveis, como deveriam ser", diz um médico do Samu sob a condição de ter o nome mantido em sigilo.

O médico relata falta de preparo das equipes também. "A falta de treinamento faz com que os funcionários se sintam inseguros, façam uso inadequado dos materiais e comecem a fazer estoques próprios."

No Hospital do Servidor Público Municipal, funcionários relataram que o isolamento entre pacientes com e sem infecção do coronavírus foi feito com cortinas plásticas improvisadas. Ali, segundo eles, o avental é descartável, e não impermeável, e há apenas uma máscara por semana disponibilizada.

O Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo) afirma que o problema é generalizado. A prefeitura afirma que o equipamento não é para todos, mas o sindicato discorda.

"Há o EPI básico, que todo profissional da saúde deveria ter, que é viseira, máscara e avental. Há aqueles que vão para as alas dos infectados, que precisam também de máscara N95, gorro e macacão impermeável", disse o vice-presidente do órgão, João Gabriel.

Segundo ele, sem máscaras e testes os servidores podem transmitir coronavírus aos pacientes suspeitos.

O órgão de classe citou ainda que há um relato de que a direção de um hospital da capital recomendou que os funcionários não usassem máscaras para não assustar os pacientes.

A reportagem também recebeu relatos de falta de equipamentos em unidades de referência, como o Hospital das Clínicas da USP e o Hospital São Paulo, da Unifesp.

O secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, disse à Folha que não falta equipamento para os funcionários que precisam. "Não é para todo mundo, é para urgência e emergência", disse. "Se todo mundo seguir a regra, hoje tem uma carreta inteira de máscara".

Aparecido diz que o decreto sobre coronavírus na cidade permite o recolhimento administrativo de material, se necessário.

A prefeitura afirmou que, diante da escassez mundial de produtos de proteção, comprou 5 milhões de máscaras cirúrgicas e 1 milhão de máscaras N95.

Segundo a administração, os funcionários estão recebendo kits específicos de acordo com os setores onde trabalham. "A Prefeitura de São Paulo, por meio do Serviço Funerário Municipal, informa que os funcionários estão recebendo os EPIs específicos para cada área. Todos os sepultadores receberam kit contendo máscara, luvas e o macacão TYVEC [impermeável]", diz a prefeitura.

O Hospital das Clínicas da USP afirmou que, desde janeiro, instituiu um comitê de crise para acompanhar e prevenir todas as necessidades decorrentes da epidemia provocada pelo novo coronavírus. "O hospital possui todos os insumos, incluindo álcool em gel, máscaras e luvas para os profissionais. Adotou todos os protocolos para garantir a segurança de profissionais e pacientes, incluindo o uso de máscaras, que não estão em falta para os casos necessários", diz o hospital.

O HC, no entanto, alerta que o uso indiscriminado de máscara e outros insumos por parte de quem não tem indicação de uso pode, sim, provocar a falta do material para os profissionais de saúde.

Já o Hospital São Paulo afirmou que possui os equipamentos de proteção e a indicação de qual tipo de máscara, óculos e aventais devem ser usados de acordo com o tipo de contato. Em nota, a instituição afirma que, diante de risco de contágio, as pessoas querem a melhor proteção possível, ainda que haja uma indicação de uso para cada um dos equipamentos.

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