Após se curar de coronavírus, o chefe do centro de contingência de São Paulo contra a pandemia, o infectologista David Uip, fez um relato emocionado sobre como foi enfrentar a doença.
O médico, durante entrevista coletiva nesta segunda-feira (6) no Palácio dos Bandeirantes, relatou sofrimento extremo e muita angústia.
Ele teve diagnóstico anunciado no dia 23 de março e voltou nesta segunda ao comando do centro de contingência. Durante a coletiva em que retornou ao cargo publicamente, ele agradeceu à sua família e à equipe do governo e deu um depoimento sobre sua experiência.
Há dois domingos, eu me senti muito mal. Pessoal da televisão quis me entrevistar, eu não consegui falar. Eu estava extenuado, fiquei sentado numa cadeira e pela primeira vez na vida eu me neguei a falar a uma emissora de televisão. Eu não consegui.
De domingo para segunda, eu passei muito mal e na segunda de manhã fui fazer o exame e a tomografia. O exame deu positivo, a tomografia normal. A semana que se seguiu foi de extremo sofrimento. Na semana seguinte, eu voltei a fazer o exame e a tomografia. Nessa tomografia, apareceu a pneumonia.
Então, esse sentimento de você se ver, como médico infectologista com uma pneumonia sabendo que muito provavelmente entre o sétimo e décimo dia você iria complicar, eu quero dizer para vocês que foi um sentimento muito angustiante. Você dormir não sabendo como iria acordar. Felizmente, Deus me ajudou e eu venci a quarentena.
Quero dizer para vocês que não é fácil ficar isolado. É de extremo sofrimento, mas absolutamente fundamental. Eu tive que me reinventar, eu tive que criar um David novo. Seguramente, mais humilde e sabendo os limites da vida.
Hoje, é o momento que eu quero fazer esse depoimento muito mais como paciente do que como médico.
O segundo fato que ficou claríssimo para mim, que acho que todos devem entender: quem vai sair vivo são indivíduos que estiverem sendo atendidos em estruturas hospitalares arrumadas, protocoladas, bem equipadas e com equipes médicas bem estruturadas. Com este achatamento [da curva da doença], além de outras vantagens, está se possibilitando que os hospitais públicos e privados se reorganizem. Está possibilitando que indivíduos como eu que ficaram adoecidos voltem para a frente de trabalho.
Eu quero dizer ao governador que vou dividir meu tempo entre fazer o que estou fazendo, ajudando o senhor, e vou voltar a atender pacientes. Porque eu passo a ser um ativo, que eu já passei pela doença. Então eu, teoricamente, não me contamino de novo. É um testemunho de quem esteve do outro lado: não é brincadeira.
Por favor, aqueles que estão subestimando, achando que não é nada ou pouco, eu desejo ardentemente que não adoeçam, é um sofrimento muito grande.
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