Descrição de chapéu Coronavírus

Estudo alerta para risco em regiões que concentram idosos, maioria dos mortos pelo novo coronavírus

Na envelhecida Copacabana, dos 7 óbitos, 6 tinham mais de 60 anos; Sul e Sudeste têm maior percetual

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São Paulo

Proporcionalmente mais ricos e das classes A/B e C, um quinto deles chefes de família, quase todos avós, com maior prevalência nas regiões Sul e Sudeste e moradores em menor número nas periferias e favelas. Esse é o perfil dos idosos no Brasil, maior grupo de risco durante a pandemia do novo coronavírus.

As pessoas com 65 anos ou mais representam 10,5% dos brasileiros, mas elas superam os 14% em cidades como Porto Alegre e Rio de Janeiro, onde Copacabana tem 27,5% de idosos.

Em muitos municípios do Rio Grande do Sul a taxa é até maior, como na gaúcha recordista em idosos Coqueiro Baixo, onde os maiores de 65 anos somam 30,7% dos 1.528 moradores, percentual maior do que a média do Japão.

Na outra ponta, em Luís Eduardo Magalhães (BA), município relativamente novo e polo do agronegócio de 87,5 mil habitantes, eles são menos de 1,4% da população.

O Brasil tem cerca de 22 milhões de habitantes acima dos 65 anos, mais do que toda a população do Chile e o dobro da portuguesa.

Segundo as investigações feitas pelo Ministério da Saúde sobre os mortos pela Covid-19, cerca de 80% deles tinham mais de 60 anos.

No Rio de Janeiro, por exemplo, das 82 mortes divulgadas pelas autoridades até quinta (9), 8,5% foram registradas em Copacabana —dos 7 mortos do bairro, 6 eram idosos.

Considerando apenas o risco etário, as regiões menos propensas a ter um número absoluto significativo de mortes são a Norte (com 7,9% de idosos), a Centro-Oeste (8,7%) e a Nordeste (10%). O risco aumenta no Sudeste e no Sul, com média de 11,5%.

Esse quadro, no entanto, pode ser alterado devido às disparidades regionais na cobertura dos sistemas de saúde, tanto público quanto privado, e do número de leitos de UTIs e ventiladores mecânicos disponíveis nos estados.

A disponibilidade de leitos, médicos e de UTIs por 10 mil habitantes é superior no Sudeste e no Sul e bastante menor no resto do país —com a exceção do Distrito Federal.

Considerando apenas o SUS (Sistema Único de Saúde), onde 75% da população é atendida (geralmente os mais pobres), as regiões mais carentes do Nordeste e do Norte têm proporcionalmente bem menos leitos de UTI, o que pode aumentar o impacto da Covid-19 sobre a população.

Seus municípios também têm menos gente, o que é um problema quando só 10% das cidades brasileiras, as maiores, têm leitos de UTI.

Entre as pessoas com mais de 65 anos no Brasil, 61% são pais e mães, fato que também sugere dificuldades na política atual de isolamento familiar de vulneráveis e na eventual decisão de isolar verticalmente alguns grupos de risco.

Por outro lado, os domicílios com idosos são 25,6% menores em número de pessoas do que a média, o que pode limitar o contágio.

Em relação à distribuição por faixas de renda, os idosos somam 17,5% entre os 5% mais ricos e apenas 1,7% entre os 5% mais pobres.

“O fato de os idosos serem proporcionalmente mais ricos nesse momento é bom, porque isso os protege em muitas frentes”, afirma o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, que reuniu essas informações como subsídios para eventuais políticas públicas durante a epidemia. Os dados estão no site da FGV Social.

Além de os idosos terem renda relativamente mais elevada, ela também é estável por causa de aposentadorias do INSS (quase 60% recebem) e de repasses do BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Outro aspecto é que há menos idosos em habitações precárias, como nas favelas. No Rio, por exemplo, a Rocinha é o terceiro bairro com a menor proporção de idosos.

No geral, quase 30% vivem em casas próprias, em terrenos próprios ou de terceiros. Quase um terço também recebe algum dinheiro de aluguel ou de arrendamentos.

Os dados mostram ainda que algumas cidades do Brasil onde há mais médicos também têm proporcionalmente mais idosos, como Niterói, Florianópolis, Vitória e Santos —o que não deixa de ser uma vantagem no momento.

Em termos globais, o Brasil é um país intermediário em relação ao percentual de idosos. A Europa é bem mais velha e a Itália, um dos piores epicentros da pandemia, é o segundo país mais idoso do mundo (23,3% da população), atrás só do Japão (28,4%).

No total, segundo a ONU, existem 705 milhões de pessoas acima de 65 anos no planeta, mais do que os 680 milhões de crianças de zero a quatro anos. A inversão entre os dois grupos ocorreu em 2019.

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