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Estudo francês não vê eficácia de hidroxicloroquina em pacientes internados com Covid-19

Pesquisa que analisou dados de 181 pacientes tem limitações metodológicas

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São Paulo

O uso da hidroxicloroquina em pacientes internados com a Covid-19 não tem eficácia significativa, segundo um estudo recente estudo francês ainda não publicado.

A pesquisa foi feita com dados de 181 pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 e internados em quatro hospitais franceses. Desses, 84 receberam tratamento com hidroxicloroquina em até 48 horas após a hospitalização e 97 não, recebendo apenas o tratamento padrão. A partir disso, os cientistas verificaram qual era o desfecho dos pacientes em sete dias.

Parte dos pacientes que tomaram a hidroxicloroquina também usou azitromicina.

A análise mostrou que cerca de 20% dos pacientes (16) que usaram a droga foram transferidos para a UTI ou morreram, enquanto no grupo que não tomou a droga as internações na UTI e as mortes ficaram em cerca de 22% (21 pessoas).

Levando em conta só as mortes, 2,8% (três pessoas) dos pacientes que tomaram a hidroxicloroquina morreram em um espaço de sete dias, contra 4,6% (quatro pessoas) no grupo que não tomou a droga.

Oito dos pacientes (9,5%) que usavam a hidroxicloroquina apresentaram modificações em eletrocardiogramas e tiveram que parar de usar a droga. Desses, sete tiveram um agravamento que pode levar à morte súbita.

Segundo os pesquisadores, os dados mostram que o tratamento com 600 mg por dia de hidroxicloroquina associada ao tratamento convencional não representou redução das admissões em UTIs ou mortes no período de sete dias após a entrada no hospital.

A pesquisa não mediu o potencial de diminuição da carga viral nos pacientes, mas os cientistas afirmam que o avaliação de desfechos clínicos, ida para UTI ou morte, é clinicamente mais relevante.

De acordo com os cientistas, a maior parte dos pacientes no estudo tinha um início de “tempestade inflamatória”, quadro que ajuda a explicar a mortalidade pela Covid-19. Isso quer dizer que a ação de defesa da pessoa é tão intensa que acaba sendo prejudicial para o próprio corpo.

Drogas que diminuem a carga viral podem ser inadequadas nesse estágio e, por esse motivo, há pesquisas com remédios anti-inflamatórios em curso. Cientistas franceses dizem que, apesar das propriedades de modulação imune da hidroxicloroquina, a droga não apresentou efeito no grupo estudado.

Os cientistas admitem que há uma série de limitações no estudo, como a falta de randomização (a distribuição aleatória dos pacientes em grupos que recebem medicamentos ou placebo, sem que se saiba quem está tomando o quê), o que poderia levar a resultados enviesados.

Décio Diament, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e infectologista no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e no Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que o desenho do estudo, que olhou retrospectivamente para dados que já existiam, não traz as melhores evidências científicas.

O especialista afirma que o melhor grau de evidência possível só será alcançado quando um estudo for randomizado, duplo-cego (quando o paciente não sabe o que está tomando e o médico não sabe o que está oferecendo) e com grupo controle.

"Conforme já relatado pelos autores, o estudo tem sérias limitações, fazendo com que seja necessária muita cautela na interpretação dos resultados", afirma Leonardo Weissmann, consultor da SBI.

Uma revisão sistemática sobre a eficácia e segurança da hidroxicloroquina publicada em março no periódico Journal of Critical Care afirma que há evidências pré-clínicas da efetividade da droga e clínicas de segurança para justificar o estudo da substância em pacientes com a Covid-19.

A revisão urge por estudos clínicos que possam fornecer dados de alta qualidade.

Foram analisadas na revisão seis artigos (como diretrizes holandesas e italianas e documento de consenso científico) e 23 estudos em andamento na China.

A hidroxicloroquina é uma das drogas em teste pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em seu estudo Solidarity (solidariedade, em tradução livre). Além disso, também há estudos no Brasil para tentar encontrar respostas mais definitivas para a possível eficácia da droga em pacientes com Covid-19. A Coalizão Covid Brasil vai analisar, a partir de três estudos controlados, a eficácia da hidroxicloroquina em uma amostra mais robusta de pacientes com quadros leves e graves do novo coronavírus.

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