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Governo Bolsonaro cria 'Placar da Vida' para destacar recuperados da Covid-19

Publicações iniciam na semana em que o país registra recorde de óbitos pela doença

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Brasília

Atendendo ao pedido do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República passou a divulgar um "Placar da Vida".

O instrumento nas redes sociais destaca dados positivos relacionados à Covid-19, como número de curados. O início das postagens coincide com alta no número de mortes confirmadas por dia no país.

Na terça-feira (28), o Brasil registrou recorde de óbitos, com 474 confirmados em 24 horas. Na segunda (27), quando houve a primeira publicação da Secom, foram 338, número acima da média da semana anterior.

Atualmente, o total de mortes confirmadas pela Covid-19 chega a 5.466, acima do registrado na China, primeiro país a registrar casos da doença.

"Mais de 32,5 mil brasileiros curados da Covid-19. Até as 14h desta terça-feira (28) foram registrados no Brasil 71.886 diagnósticos confirmados da doença e 34.325 (48%) casos seguem em acompanhamento", diz a publicação desta terça.

Há ainda um quadro, intitulado "Placar da Vida" com os números ligados à doença.

Esse placar inclui o número de infectados, o total de curados e em recuperação. Foram destacados em amarelo o número de curados, 32.544, o que equivale a um percentual de 45%. Não há menção ao total de mortes registradas.

Especialistas também afirmam que, com a baixa oferta de testes, o número real de casos da doença pode ser maior, o que gera imprecisão nos dados. Há ainda casos que esperam por diagnóstico e confirmação, além de possível subnotificação nos registros. Isso poderia influenciar na avaliação de curados —tanto para mais ou para menos.

Segundo boletim do Ministério da Saúde de quarta, há atualmente 1.452 óbitos em investigação.

Questionada pela Folha sobre a nova estratégia, a Secom não respondeu até a conclusão deste texto.

Também na terça, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se esquivou ao ser questionado sobre o recorde de mortos no Brasil. Ele tem insistido na necessidade de reabertura do comércio e retomada das atividades.

"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre​", afirmou Bolsonaro ao ser questionado sobre os números na porta do Palácio da Alvorada na noite de terça.

O pedido por mais destaque positivo em notícias sobre a doença tem sido frisado por Ramos. Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, na semana passada, ele criticou o que chamou de "cobertura maciça de fatos negativos" da imprensa na crise do novo coronavírus.

"No jornal da manhã é caixão, corpo; na hora do almoço, é caixão novamente. No jornal da noite é caixão, corpo e número de mortos. Eu pergunto a todos: como é que você acha que uma senhora de idade, uma pessoa humilde ou que sofre de outra enfermidade se sente com essa maciça divulgação desses fatos negativos. Não está ajudando", disse.

Na sequência, o ministro, que tem a Secom como órgão subordinado à sua pasta, disse que com isso não estava pedindo que dados ruins fossem ocultados.

"Os senhores [jornalistas] têm que também... eu conclamo e peço encarecidamente, tem tanta coisa positiva acontecendo", disse.

A pressão do governo para que fossem divulgados mais dados positivos e menos negativos vem desde a gestão de Luiz Henrique Mandetta na Saúde. Ele foi demitido por Bolsonaro após divergências sobre a condução da política sanitária em meio à crise.

Seu substituto, Nelson Teich, fez algumas concessões aos pedidos do Planalto. Na primeira coletiva técnica após a posse do novo ministro, a pasta buscou apresentar dados que mostram cenários diferentes da epidemia no país e rebater críticas sobre subnotificação de mortes pela Covid-19.

Em um dos casos, o ministério apresentou dados de incidência, parâmetro que compreende o total de casos pela população, distribuídos em mapa, mostrando que o impacto é maior em algumas regiões, caso de Manaus —sem apresentar os índices completos por estado, como vinha acontecendo anteriormente, tampouco classificá-los em parâmetros de alerta.

Anteriormente, estados com maior incidência de casos de Covid-19 eram classificados como em situação de emergência, por exemplo.

Teich, porém, negou que a apresentação tenha sido uma tentativa de minimizar o impacto da epidemia e argumentou que aquela era uma tentativa de frisar o que chamou de abordagem técnica.

Após dizer na última semana que não via um crescimento explosivo de casos e que novas mortes tinham de ser avaliadas, o ministro reconheceu na terça que há um agravamento da doença no país. Para ele, porém, a situação é restrita a algumas regiões, caso de Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, citou.

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