O Instituto Votorantim, braço social do conglomerado de empresas de metalurgia homônima, anunciou nesta terça (14) a lista de cidades que receberão treinamento com foco em gestão de crise para se prepararem para a possível chegada do coronavírus.
Ao todo, 20 municípios foram selecionados entre aqueles que fazem parte das microrregiões brasileiras mais vulneráveis ao coronavírus, segundo análises realizadas por um grupo de pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
O estudo leva em conta microrregiões que podem ser afetadas em uma segunda e até terceira onda de disseminação do Sars-CoV-2 a partir dos principais centros urbanos de São Paulo e do Rio de Janeiro, por meio de transmissão sustentada, ou seja, de pessoa para pessoa sem que seja possível indicar a origem do vírus.
Os pesquisadores também apontam que as regiões Sul e Sudeste têm o maior potencial para que casos evoluam de forma grave. Também integram esse grupo os centros urbanos de Salvador (BA) e Recife (PE).
Segundo as conclusões do estudo, a medida mais eficaz para impedir que o vírus “viaje” promovendo novas ondas de infecção é o isolamento social. Além disso, as restrições intermunicipais, por meio das entradas e saídas das cidades, só funciona em casos em que estão associadas ao isolamento social local.
As microrregiões com maior vulnerabilidade estão nas regiões Norte e Nordeste. O conceito de vulnerabilidade adotado pelo estudo leva em conta expectativa de vida ao nascer, escolaridade segundo o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), porcentagem da população que vive em extrema pobreza, porcentagem da população vivendo em área urbana e também que tem acesso à água encanada e esgoto tratado, bem como acesso à eletricidade, além do índice de GINI (que mede a concentração de renda em determinada região).
Com isso, os municípios brasileiros foram classificados de A a E, sendo A os menos vulneráveis e E os mais vulneráveis e, portanto, que tinham maiores chances de serem beneficiados pela doação.
A assessoria técnica ofertada pelo instituto faz parte do programa de quatro meses chamado Municípios Contra o Coronavírus. O projeto treinará os gestores das cidades selecionadas de acordo com a metodologia desenvolvida pela ONG IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde).
O método têm quatro diretrizes, as quais chamam de boas práticas.
De acordo com Rafael Gioielli, gerente-geral do Instituto Votorantim, o programa tem como principal meta ajudar cidades mais afastadas dos grandes centros, o Brasil profundo, a preencherem a lacuna técnica necessária para combater surtos e epidemias.
“É importante destacar que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já têm um desafio enorme para esse enfrentamento; quando vamos ao Brasil profundo, essa lacuna técnica, financeira e de equipamentos é muito maior. Discutimos nos grandes centros a falta de respiradores e leitos de UTI. No Brasil profundo falamos sobre se há ambulância e leitos comuns. A crise precisa chegar gerenciada, esse é o objetivo do programa. Estamos começando com essas 20 cidades e devemos fazer outras chamadas em breve”, disse à Folha.
Dos mais de 5.000 municípios brasileiros, estavam entre potenciais selecionados para o programa 894. Destes, inscreveram-se 157, dos quais 149 tiveram suas inscrições validadas. Apenas 104 foram qualificados pelos critérios adotados pelo instituto. A partir da análise de vulnerabilidade, restaram 51 municípios. A decisão pelos 20 selecionados se deu a partir das respostas enviadas pelas prefeituras sobre como acreditavam que deveria ser o enfrentamento ao coronavírus e sua leitura do cenário diante da pandemia.
Investimento de R$ 50 milhões
O Instituto Votorantim também deve investir cerca de R$ 50 milhões em auxílio para o combate ao novo coronavírus.
De acordo com Gioielli, pelo menos R$ 20 milhões já foram investidos em compra de EPIs (equipamento de proteção individual) e insumos para hospitais e profissionais da saúde, e em cerca de 16 mil cestas básicas e vale compras de até R$ 120 para comunidades vulneráveis.
As cestas básicas e vale-compras serão entregues para as 16 mil famílias do primeiro grupo ainda em abril e a doação está garantida por três meses. O Instituto deve ampliar o número de pessoas assistidas.
Agora, com os programas encaminhados, é o momento de pisar no freio, segundo Gioielli disse à Folha. Isso porque a pandemia não tem data para chegar ao fim e os recursos são, paradoxalmente, amplos, mas escassos.
“Está cada vez mais evidente que essa crise vai se estender por algum tempo, então temos administrado os recursos de forma cautelosa porque sabemos que ainda há muito por vir. O interior do Brasil ainda não está vivenciando a emergência de casos vista nas grandes cidades, mas isso acontecerá. Se usarmos todos os nossos recursos nesse primeiro momento, não teremos quando precisarmos no futuro”, afirma.
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