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Prefeitura de SP fecha serviço para usuários de drogas; corpo é encontrado na cracolândia

No início da noite, Justiça mandou reabrir o local; funcionários afirmam que homem não identificado tinha tuberculose

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Usuários removidos da cracolândia

Usuários removidos da cracolândia Marlene Bargamo/Folhapress

São Paulo

A Prefeitura de São Paulo fechou nesta quarta-feira (8), o Atende 2 (unidade de Atendimento Diário Emergencial), equipamento público para dependentes de drogas na região da cracolândia, centro de São Paulo, e levou 213 usuários para um novo serviço, no Glicério, a cerca de 2 km.

No início da noite, no entanto, a Justiça decidiu liminarmente que o centro de acolhida deve permanecer aberto. Na prática, a decisão da juíza Celina Kiyomi Toyoshima não obriga a gestão Bruno Covas (PSDB) a levar de volta os usuários removidos, mas mantém o local aberto e funcionando para novas abordagens.

De acordo com a juíza, o local o "é o único ponto de atendimento na região central da cidade, que concentra uma grande parte de pessoas vulneráveis". A liminar havia sido pedido na terça-feira (7) pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

A prefeitura afirma que vai recorrer da decisão e que o novo equipamento, no Glicério, "atende todos os requisitos de Direitos Humanos e oferece melhor atendimento no acolhimento e no tratamento da saúde de usuários de álcool e drogas em situação de vulnerabilidade".

Logo cedo, durante a remoção de usuários, um corpo foi encontrado nas imediações do Atende 2 e levado para o equipamento público. De acordo com informações de funcionários, o homem, não identificado, teria tuberculose.

Arthur Guerra, psiquiatra e coordenador do programa Redenção, estratégia municipal para o atendimento de usuários de drogas, afirma que a causa da morte está sendo investigada pela Polícia Civil. Apenas depois disso, a possibilidade de ser um caso de Covid-19 poderá será apurada.

O novo coronavírus já causou a morte de 800 pessoas no país e infectou quase 16 mil. Apenas nesta quarta, 188 óbitos foram registrados no Brasil, o maior número em um só dia desde os primeiros casos.

Na região da cracolândia, as condições sanitárias favorecem a disseminação do vírus.

Por volta das 8h, três ônibus levaram 160 usuários do serviço para o novo equipamento da prefeitura, o Siat 2 (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica), no Glicério. Outros 53 foram a pé. Apesar das reclamações e do clima de tensão que se formou no local, não houve incidentes.

“Havia muita aglomeração no Atende. O novo serviço junta a assistência social com o atendimento em saúde. Nosso objetivo é salvar vidas”, diz Guerra em relação aos riscos de contaminação dos usuários em meio à pandemia. “É uma população que já é vulnerável: 9,5% têm tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis.”

O Atende 2 tinha capacidade para 185 pessoas e oferecia serviços como espaços de descanso, banheiros e refeitório, além de oficinas socioeducativas. O novo serviço, no Glicério, diz a prefeitura, poderá atender 200 pessoas diariamente. "Nosso objetivo é salvar vidas", diz Guerra.

Entre os funcionários do serviço e voluntários ligados a entidades que atuam na região, no entanto, o clima era de insatisfação. A distância do novo equipamento e a ausência de um serviço municipal no local, reclamavam, pode causar ainda mais vulnerabilidade para os usuários.

Um voluntário, da Craco Resiste, que pede para não se identificar, afirma que o temor maior a partir de agora será, com a ausência do serviço de assistência social, a violência policial. Segundo ele, a medida faz parte de um processo de remoção de usuários da Luz com objetivos de viabilizar projetos imobiliários.

O local conhecido como fluxo, onde os usuários se aglomeram para fumar a pedra, continua inalterado, dizem os voluntários. Durante a remoção, muitos se espalharam pela região e voltaram logo que o serviço foi fechado.

Guerra afirma, porém, que houve redução no número de pessoas no fluxo –cerca de 450 durante o dia e 700 no final de tarde e fins de semana.

Sobre a ausência de serviços municipais, ele afirma que ainda há no local a atuação do Redenção na Rua, equipes que fazem a abordagem dos usuários e diagnóstico médico. Elas passaram de 18 para 25.

As acomodações que os usuários irão ocupar no Glicério também são questionadas. Contêineres foram colocados no bairro para abrigar essa população. Quanto à possível nova aglomeração a ser formada no local, Guerra afirma que as equipes do Redenção na Rua farão o diagnóstico em caso de infecção pelo novo coronavírus previamente.

Além das reclamações de quem atua na cracolândia, moradores do Glicério não ficaram satisfeitos com a chegada dos usuários ao Siat 2. Segundo eles, ninguém foi avisado da instalação dos contêineres no local. Eles afirmam que a praça em que eles foram colocados fica ao lado de uma escola e de uma creche.

“Moro aqui há 50 anos e estamos brigando com a prefeitura desde dezembro por causa disso”, diz Sandra Conceição Madour, que faz parte do movimento Reage Glicério. “Temos duas ações protocoladas com o Ministério Público e um boletim de ocorrência registrado.”

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