Estados sem leitos no SUS devem ter déficit de UTI por dois meses

Sem unidades intensivas, isolamento será principal maneira de evitar aumento nas mortes

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São Paulo

Na semana em que o presidente Jair Bolsonaro fez uma caravana ao STF para pressionar a Justiça a permitir que comércio e indústria voltem à atividade normal, os leitos de UTI acabaram rapidamente na rede pública em vários estados do Brasil.

Segundo ferramenta criada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e alimentada regularmente, em parceria com a Folha, com números oficiais sobre a evolução da epidemia, o déficit de leitos públicos em alguns estados durará por pelo menos dois meses.

Já as vagas na rede privada também estão no fim em alguns estados. Confira abaixo as últimas previsões, atualizadas com dados até sexta (8).

Sem leitos de UTI por períodos prolongados, o isolamento social poderá ser, em breve, a única forma de evitar mortes pelo coronavírus.​

Segundo as projeções da ferramenta, a maioria dos estados brasileiros deve atingir neste mês a ocupação máxima dos leitos de UTI no SUS.

No sistema privado, um número menor chegará ao limite de suas UTIs em maio. Até o fim de junho, porém, a maioria dos estados deverá ter os leitos particulares e públicos lotados.

Em ambos os sistemas, o tempo de internação em UTI de pacientes com a Covid-19 pode chegar a variar de 21 a 35 dias –o que torna a falta de leitos prolongada.

Com base em informações pregressas sobre o total de infecções e parâmetros reais a respeito do número de leitos, sua taxa de ocupação e o tempo médio observado nas internações, o modelo estima em quanto tempo o sistema pode saturar.

O modelo faz ainda uma estimativa de preenchimento dos leitos gerais dos hospitais, utilizados por pacientes menos graves. Nesses casos, o risco de colapso do sistema é bem menor.

De um modo geral, a expectativa é que a falta de leitos de UTI comece a ocorrer duas semanas antes no SUS do que no sistema privado.

A razão disso é que, além de atender cerca de 75% dos brasileiros, o SUS tem somente 1,4 leito de UTI, em média, para cada 10 mil habitantes. No sistema privado, são 4,9 leitos por 10 mil segurados.

Essas previsões, no entanto, podem ser alteradas no caso de estados e municípios passarem a integrar leitos privados ao SUS, como a cidade de São Paulo já faz. Nesses casos, o custo diário de um leito de UTI gira em torno de R$ 2.000.

Leitos de hospital de campanha do Leblon para o combate à epidemia - Alexandre Brum/Enquadrar

No cenário atual, é preciso considerar também que, se por um lado as subnotificações de casos existentes antecipam a chegada do colapso, novos leitos gerais e de UTI dos hospitais de campanha incorporados ao sistema vêm postergando esse momento.

Assim, a data de ruptura dos sistemas de saúde público e privado pode oscilar em relação ao apontado pela ferramenta.

A ferramenta permite também aos gestores de saúde estaduais e de hospitais envolvidos no combate à Covid-19 fazerem suas próprias simulações sobre a velocidade com que os leitos gerais e de UTI serão ocupados.

Entre os parâmetros preestabelecidos, considera-se que 1% da população apresentará sintomas mais graves da infecção no pico da epidemia, casos que serão confirmados por testes do tipo PCR, padrão adotado pelo Ministério da Saúde nos estados e municípios.

Entre eles, cerca de 14% dos casos notificados precisarão de internação, tomando-se a experiência internacional como base. Dos internados, 25% ocuparão leitos de UTI e 75%, leitos gerais.

O modelo de previsão considerou ainda uma ocupação inicial de 70% dos leitos no período anterior à pandemia, quando vagas foram abertas com o cancelamento de cirurgias eletivas e a diminuição de muitas ocorrências –como acidentes graves.

Esse valor também pode ser ajustado para cada estado individualmente pelos gestores do sistema de saúde que quiserem fazer suas próprias projeções com os dados que tiverem.

As curvas relativas ao Brasil, aos estados e às capitais com o número de casos e ocupação de leitos podem diferir em eventuais somas por se tratar, no modelo matemático, de projeções individuais.

Além do modelo de consulta disponibilizado pela Folha, a ferramenta completa está disponível no site do Laboratório de Tecnologias de Apoio à Decisão em Saúde (Labdec) e traz todas as notas técnicas e critérios adotados pelo Departamento de Engenharia de Produção e pelo Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), órgão de ensino e pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG.

Para consultar e fazer projeções com a ferramenta, os gestores de saúde ou qualquer pessoa podem acessá-la no endereço labdec.nescon.medicina.ufmg.br.

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