É falsa a mensagem que circula em redes sociais atribuindo ao virologista Paolo Zanotto a autoria de um texto sugerindo que estudo conduzido em Manaus com cloroquina é uma trama contra o Brasil. O protocolo da pesquisa foi suspenso após efeitos colaterais em pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Embora defensor do remédio no tratamento contra a Covid-19, Zanotto nega ter escrito a mensagem que viralizou e se refere a ela como um “lixo”. “O que aconteceu em Manaus está nas mãos do MPF [Ministério Público Federal] e não me cabe comentar. Por favor compartilhem”, afirmou o virologista em sua rede social na semana passada.
O estudo em questão dividiu pacientes em dois grupos. Um grupo foi tratado com dosagem baixa de cloroquina e outro recebeu dose mais alta.
Os primeiros resultados foram divulgados no dia 6 de abril pelo infectologista Marcus Vinícius Lacerda, da FMT (Fundação de Medicina Tropical). Em entrevista coletiva ao lado do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), ele afirmou que os pacientes "se beneficiaram discretamente" da cloroquina e que os resultados encorajavam a continuidade, mas que, em dose mais alta, o medicamento "pode, sim, dar arritmias graves e levar à morte".
No mesmo dia, porém, foi suspensa a ministração da dosagem mais alta porque "havia tendência de mais efeitos colaterais nos pacientes".
A pesquisa chamada CloroCovid-19 foi feita com 81 pacientes em estado grave internados na capital amazonense, com o envolvimento de 70 pessoas de instituições como FMT de Manaus, a Fiocruz, a USP e a UEA (Universidade do Estado do Amazonas).
Pelo menos onze pacientes do grupo de alta morreram, na maioria idosos. Em artigo publicado em inglês no site MedRxiv, os pesquisadores apontam que pacientes com Covid-19 não deveriam ingerir a alta dosagem, devido à toxicidade.
O texto viral atribui falsamente a Zanotto a acusação de que o estudo é um “assassinato e conspiração disfarçado de estudo científico”. A mensagem questiona a alta dosagem de cloroquina no tratamento.
O Ministério Público Federal determinou em 20 de abril a instauração de inquérito para investigar a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no estudo realizado em Manaus. Ainda não há, porém, acusações formais contra os autores do estudo.
Também segundo a mensagem falsa, o estudo foi realizado sem registro da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conesp). A aprovação da pesquisa, entretanto, foi concedida pela comissão em 23 de março.
Após a suspensão do protocolo, os autores da pesquisa passaram a ser alvos de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro que defendem a cloroquina. Alguns sugeriram que o estudo foi mal conduzido e que o objetivo era desacreditar o medicamento.
Vale lembrar que, nos últimos dias, dois grandes grandes estudos apontaram que não foram encontradas evidências de que o uso da hidroxicloroquina influenciaria na redução de mortes e intubações.
O ultimato de Bolsonaro sobre a cloroquina, na quinta (14), resultou no pedido de demissão de Nelson Teich do ministério da Saúde nesta sexta-feira (15).
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