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Congressistas e entidades elogiam consórcio de imprensa para coletar dados da Covid-19

Medida é reposta a ameaça do governo federal de sonegar divulgação de números da doença

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São Paulo

Personalidades do mundo político e jurídico, juntamente com entidades representativas de profissionais e veículos de imprensa, elogiaram a formação de um consórcio de veículos de imprensa dedicado à coleta e à divulgação de dados sobre a Covid-19.

Em resposta aos entraves impostos pelo governo federal, Folha, O Estado de S.Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL decidiram trabalhar de forma colaborativa para buscar as informações diretamente nos 26 Estados e no Distrito Federal.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elogiou nesta segunda-feira (8) a iniciativa de veículos de comunicação de se juntarem para buscar informações sobre a pandemia no país.

Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a doença, os cinco veículos vão trabalhar de forma colaborativa.

"É uma excelente iniciativa. Mostra a importância da liberdade de imprensa para que nós tenhamos transparência não apenas na divulgação de dados, mas em todas as ações dos agentes públicos. Uma iniciativa fundamental, importante, e continuo esperando que o ministério volte a apresentar os dados da forma anterior, no horário anterior, para que esse tema não seja mais um tema de conflito no Brasil", afirmou Maia.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou, em nota, que o trabalho conjunto dos jornais é louvável. “Neste momento de pandemia e de incertezas, trazer a informação correta, consolidada, verdadeira, confiável, é exatamente o que a população espera, da imprensa, e precisa, como nação”.

Equipes desses veículos vão dividir tarefas e compartilhar as informações obtidas para que os brasileiros possam saber como está a evolução da doença e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus. O balanço diário será fechado às 20h.

Desde o início da pandemia, o governo federal vem diminuindo o nível de transparência na divulgação de informações sobre a crise. Com a saída do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, o Executivo reduziu entrevistas sobre a situação e, desde a semana passada, passou a omitir o número total de mortes no país, divulgando apenas a quantidade de óbitos nas últimas 24 horas.

O deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), autor de um projeto que obriga o governo a informar os dados, também elogiou o consórcio dos veículos de comunicação. “Isso é muito importante porque no momento em que perdemos o rastro dos dados perdemos a capacidade de tomar decisão, que bom que temos essa parceria para nos ajudar”, disse o deputado.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também comemorou a iniciativa. “Apesar da determinação de Bolsonaro de nos colocar no padrão da ditadura do Turcomenistão, aqui, no Brasil, nós temos imprensa livre que nos reaproxima dos regimes democráticos”, afirmou.

Para o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, a parceria inédita para informar os dados “é uma iniciativa meritória, que evidencia a relevância dos meios de comunicação num momento grave como esse da pandemia no país”.

Rech lamentou a posição do governo federal de restringir a divulgação dos dados. “O Brasil, me parece, é o único país onde é necessária uma aliança dos meios de comunicação para trazer a verdade sobre os números da doença”, afirmou o presidente da ANJ.

Para Rech, “é lamentável que isso ocorra por parte do governo, porque evidencia uma tentativa de esconder informações da população”. Por outro lado, “demonstra a importância da ação dos meios de comunicação na busca pela informação correta para a sociedade”.

Para Manoel Galdino, diretor-executivo da Transparência Brasil, a iniciativa da imprensa de juntar forças para divulgação de dados sobre o impacto da doença “é uma alternativa importante para a sociedade" no contexto da epidemia de coronavírus.

Para Galdino, porém, “o óbvio seria pensar que essa é uma obrigação do governo”, destacou. Segundo ele, “o governo brasileiro está omitindo os dados e informações sobre a doença numa decisão de de caso pensado”.

Ele diz que a divulgação dos dados da Covid-19 “não é uma responsabilidade da imprensa, mas sim uma responsabilidade do governo federal”. Galdino afirmou ainda que a mudança na política de informação sobre a doença “faz parte de uma estratégia do governo federal que é um retrocesso claro verificado em várias áreas, como os dados sobre emprego e dificuldades para atender à Lei de Acesso à Informação”.

Repercussão

"Na década de 1970, a ditadura militar escondeu, por meio de censura, a existência de um surto de meningite. Por isso, as famílias não foram alertadas para a epidemia, o que ocasionou grande número de mortes de crianças.

Agora, diante da multiplicação de mortos pelo coronavírus, que faz do Brasil um dos recordistas mundiais nesta macabra lista, o governo Bolsonaro tenta esconder os números reais.

Estamos diante de um crime.

Nesse quadro, a iniciativa dos veículos de comunicação de, em conjunto, consolidar esses números e divulgá-los, tem total apoio da ABI.

É uma iniciativa que honra a imprensa brasileira."
Paulo Jeronimo, presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)

“Felicito a parceria realizada entre os veículos de comunição —O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL— em coletar e divulgar os dados nacionais da evolução da Covid-19. Infelizmente, a confusão provocada por novas metodologias e atrasos na divulgação do número de mortos e de novos casos confirmados tem gerado questionamentos quanto à confiabilidade dos dados e insegurança em representantes da área de saúde. A iniciativa só reforça a importância da transparência e a relevância da imprensa em uma sociedade livre”,

Sergio Moro, ex-ministro da Justiça

“A transparência é mandamento constitucional. São, portanto, bem-vindas todas as medidas que visem reforçar a transparência e ampliar as fronteiras do acesso à informação. Essa iniciativa é mais uma demonstração do trabalho de excelência realizado pela imprensa em auxiliar nas informações necessárias ao combate da pandemia.”

Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal

"O presidente da República vem adotando medidas que contrariam a Constituição Federal, a Lei de Acesso à Informação e as boas práticas de transparência pública com o objetivo de retaliar a cobertura jornalística sobre os erros de seu governo no combate à pandemia de Covid-19. Ocultar o número de mortos é a mais nova ocorrência em sua política de atacar o mensageiro para não prestar contas ao povo brasileiro. A união de toda a imprensa é fundamental neste momento de degradação da democracia."

Marcelo Trasel, presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)

"O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo condena de forma veemente a atitude do governo Bolsonaro de suspender a divulgação diária do conjunto de números referentes à evolução nacional da Covid-19. É um ato de censura e um verdadeiro crime contra a população brasileira, que tem o direito de acompanhar a realidade da doença para poder se defender dela. Consideramos positiva a atitude de veículos de comunicação que decidem somar esforços para suprir esta lacuna informativa, pois é missão do jornalismo profissional fazer todos os esforços para apurar e divulgação o conjunto de informações de interesse público a respeito da doença, neste momento de pandemia."

Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo

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