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Hospitais de SP se adaptam à Covid-19 e retomam atendimentos eletivos

Com cuidados, médicos voltam a fazer cirurgias, exames e consultas

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São Paulo

Triagem telefônica antes da ida ao serviço médico, fluxo separado de pacientes com e sem sintomas gripais, temperatura medida na entrada, teste de Covid-19 antes de cirurgias, salas de espera mais vazias e até veto a colares e brincos nos consultórios.

Adaptados ao “novo normal”, hospitais e clínicas privadas de São Paulo estão retomando rotina de cirurgias, exames, consultas e outros procedimentos eletivos praticamente paralisados nos últimos três meses.

Segundo as instituições, medidas adotadas para proteger pacientes e profissionais dão segurança para a retomada.

A volta ganhou força na semana passada com a decisão da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) de restabelecer os prazos máximos que devem ser cumpridos pelas operadoras de saúde para atendimentos eletivos de usuários de planos.

Sala onde foi feito cirurgia robótica em paciente com Covid-19, no Hospital Albert Einstein
Sala onde foi feito cirurgia robótica em paciente com Covid-19, no Hospital Albert Einstein - Divulgação

Esses tinham sido suspensos em março. A recomendação foi que hospitais priorizassem atendimentos de Covid-19 e reduzissem os eletivos, que representam cerca de 45% de suas receitas.

A medida, associada ao medo das pessoas de contágio, provocou queda até de 90% do movimento. A previsão da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) é que as instituições terminem o ano com 30% a menos em caixa, ou R$ 13,1 bilhões —isso se o movimento realmente crescer partir deste mês.

A ANS diz que a decisão de retomar cirurgias eletivas ocorreu após análise criteriosa de documentos das instituições de saúde dando conta que têm condições de atender a essa demanda com segurança e sem prejudicar o atendimento de casos de Covid-19.

Segundo Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Anahp, mais de 85% dos pacientes eletivos atendidos nos hospitais associados não utilizam unidades de terapia intensiva, mas leitos comuns.

Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, afirma que a retomada é importante porque muitas emergências foram adiadas nos últimos meses sem que o paciente percebesse que se tratava de uma urgência.

“Operei apendicites perfuradas com sete dias de dor. Crises hipertensivas que também não foram cuidadas de forma adequada. O atendimento às emergências caiu demais no mundo inteiro, com muita gente morrendo em casa.”

No Einstein, que viu a receita cair 45%, a taxa de ocupação dos leitos, que não chegava a 50%, atingiu 80% na semana passada. “Foi um incremento além daquele que a gente imaginava”, diz Klajner.

Cirurgião do aparelho digestivo, ele nota a diferença no próprio consultório, que ficou um mês e meio fechado. Na última semana, atendeu sete pacientes por dia.

No Sírio-Libanês, a taxa de ocupação dos últimos dias girou entre 85% e 90%, um terço de pacientes confirmados ou com suspeita de Covid.

Fernando Ganem, diretor de governança clínica do Sírio, diz que houve alta expressiva na taxa de conversão, ou seja, pacientes que passam pelo pronto-socorro e são internados: de 12% para 35%.

“No pronto-socorro, ainda estamos operando com 50% do que era antes. Mas as pessoas que procuram têm realmente coisa mais séria”, reflexo da demanda reprimida.

“São pessoas, por exemplo, com insuficiência cardíaca que seguraram até o último momento em casa, tomando remédio, diurético”, diz.

Exames diagnósticos também cresceram. O movimento que girava em torno de 15% um mês atrás chega agora a 80% do que era pré-pandemia.

No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, 50% das consultas e das cirurgias eletivas foram retomadas. “É uma volta feita com muito cuidado. As necessidades dos pacientes não podem esperar mais. E a gente já sabe o que fazer para protegê-los”, diz Antonio da Silva Bastos Neto, diretor-executivo médico da instituição.

Segundo ele, o hospital aprendeu muito sobre segurança com a realidade dos doentes que não puderam se afastar do serviço, como os renais crônicos que fazem diálise. “Não tivemos nenhum caso de contaminação entre esses pacientes.”

Uma medida do hospital foi alargar a agenda de exames invasivos, como a endoscopia, pois a nova rotina de segurança demanda mais tempo.

“Antes da pandemia, era feita uma endoscopia a cada 30 minutos. Agora, é uma a cada uma hora. Já existia rigor de higienização, mas agora é muito maior. Tem também o tempo de troca de EPIs (equipamentos de proteção individuais) entre os procedimentos.”

Os hospitais criaram fluxos diferentes para pacientes com sintomas respiratórios daqueles com outras queixas, com unidades de recepção e internação separadas. Profissionais que atendem os pacientes suspeitos de Covid não se misturam com os demais.

A temperatura é aferida na porta. Salas de espera ganharam poltronas com a distância recomendada. Após cada atendimento, o pessoal da limpeza higieniza o ambiente.

Contra aglomerações, a parte burocrática da internação é feita no local onde a pessoa ficará hospitalizada. Pacientes para cirurgia são testados para Covid na véspera.

“A regra básica em relação à Covid é tratar todo mundo como suspeito”, diz Ganem, do Sírio. Entre os pacientes assintomáticos, 5% deles tem testes positivos. No Einstein, ao menos 20 assintomáticos e com testes positivos tiveram procedimentos eletivos adiados.

A telemedicina também tem evitado que pacientes como os doentes crônicos vão até os hospitais. O Einstein viu aumentar a procura por coleta domiciliar de exames.

“Está mais seguro hoje ir a clínicas e hospital bem preparados do que em supermercados”, diz o ginecologista Maurício Abrão, professor da USP e gestor da ginecologia da BP (Beneficência Portuguesa).

Segundo ele, as cirurgias eletivas também são feitas sob novos protocolos de segurança, especialmente as laparoscópicas, que são 90% dos procedimentos na ginecologia.

Ele diz que é recomendado uso de EPIs para evitar os possíveis aerossois gerados pela técnica, além de filtros especiais para evitar que eventuais partículas do vírus se espalhem pelo ambiente.

Abrão também já sente uma retomada de pacientes no consultório, embora haja a limitação das que moram em outros estados e dependem de viagens aéreas.

“De 60% a 70% das minhas consultas são de fora de São Paulo. Oriento a paciente por teleconsulta, vejo os exames e, quando ela, puder já vem para fazer o tratamento.”

Consultórios espaçam atendimentos para não concentrar pacientes na espera e retiram revistas, que já não devem passar de mão em mão.

No entrada da clínica, o oftalmologista André Borba colocou um tapete umedecido com solução de hipoclorito de sódio para desinfectar calçados. Também não permitirá o uso de pulseiras, colares, brincos ou acessório metálico no espaço das consultas.

“Aconselho todos a carregar bolsas menores, apenas com objetos pessoais necessários. É de responsabilidade de cada médico adotar medidas de prevenção”, diz Borba.

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