São enganosas as afirmações feitas em vídeo pelo médico João Vaz, no qual ele diz que o uso prolongado da máscara não tem eficácia para combater a propagação do novo coronavírus. Segundo ele diz na gravação, verificada pelo Comprova, a proteção “só tem uma serventia, não para nós, mas para o vírus”. Ainda de acordo com Vaz, isso ocorreria porque, ao inspirar o ar expirado na máscara, o corpo absorveria partículas de gás carbônico, o que tornaria o sangue mais ácido e “um meio propício ideal para o vírus”.
Especialistas ouvidos pelo Comprova disseram que Vaz está “completamente errado” e o que ele afirma “é contra qualquer racionalidade”. Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que “o uso correto de máscaras, cobrindo nariz e boca, reduz a transmissão do vírus e não causa qualquer mal ao organismo”. Ele explicou que a máscara não causa, em nenhuma situação, o aumento de gás carbônico no sangue. “Os poros das máscaras, mesmo não sendo visíveis, permitem as trocas gasosas. O indivíduo que está protegido com máscara não vai inalar seu próprio gás carbônico.”
Em documento publicado no dia 5 de junho, a Organização Mundial da Súde (OMS) lista potenciais malefícios decorrentes do uso prolongado da máscara pelo público em geral, mas não cita nenhuma desvantagem sobre a troca de gases comentada por João Vaz. Dificuldades respiratórias, lesões cutâneas e agravamento da acne estão entre os danos. No texto “Orientações Gerais – Máscaras faciais de uso não profissional”, divulgado em 3 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), agência ligada ao Ministério da Saúde, reforça que os equipamentos “não fornecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência” e recomenda o uso em locais públicos, como supermercado e farmácia.
Em entrevista ao Comprova, o médico afirmou: “É a minha opinião [o que ele diz no vídeo]”. “Tenho 49 anos de profissão, doutorado na Alemanha, não estou para discutir com ninguém. Cada um que aprenda.” Questionado sobre a existência de estudos que comprovem suas afirmações, ele respondeu que tem “evidência pessoal com os 5.200 pacientes” que havia atendido até a data da conversa (23 de junho). Em maio, João Vaz já havia aparecido em uma verificação do Comprova que considerou suas afirmações enganosas. Dentre outras declarações, ele criticava o isolamento social e o uso de respiradores.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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