Pazuello diz que trabalha para divulgar '100% dos dados' mas quer mudar registro de óbitos

País pode abandonar modelo usado por outros países, que registra a morte quando houve a notificação, e não no dia do óbito

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Brasília

O general Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, disse nesta terça-feira (9) em reunião ministerial que o governo trabalha para divulgar 100% dos dados referentes a mortos e infectados pelo coronavírus e reafirmou a intenção da pasta de mudar o registro de óbitos pela doença.

"Estamos trabalhando para divulgar 100% dos dados, e com a modelagem regional, estadual, cidade, capital, região metropolitana e interior. Se quiser ver o dado Brasil como um todo é só clicar Brasil, mas tem que compreender que alguns estados e municípios, podem não estar ali. É mais importante observar a ferramenta para os gestores, que são prefeitos e governadores" , afirmou Pazuello nesta terça em reunião ministerial.

O ministro afirmou que o governo propõe alterar a forma como são compiladas as mortes para que os óbitos sejam registrados na data da morte do doente e não no dia em que houve a notificação de que houve a morte.

"Hoje, os óbitos chegam pelos registros de óbitos e vão continuar chegando. Só quando chega a gente olha no registro de óbitos, você tem também a data do óbito e não apenas do registro. Não tem nada a ver com mudança de número de óbitos, eles estão registrados", disse. "Quando você bota no cálculo diário, você vê que ele é acumulado dos dias de registro. O que nós estamos propondo, coloco como proposta, é que a gente use os mesmos números, quantitativos, mas nos dias do óbito. Com isso, você vai ver exatamente o que aconteceu com mais transparência", explicou.

Segundo ele, assim seria possível ter um cenário mais real sobre o comportamento do coronavírus.

"Não tem nada a ver com número de óbitos ou de registros, mas, sim, com o lançamento do óbito no dia em que ele morreu e não no dia que ele foi registrado no boletim sanitário. E vai corrigindo os anteriores e aí você passa a observar exatamente a curva e passa a entender o que aconteceu", argumentou. ​

Em coletiva de imprensa nesta segunda (8), integrantes do Ministério da Saúde já haviam afirmado que a pasta vai adotar o modelo de divulgação com dados com base na data de ocorrência dos óbitos e não pela data de notificação, como vinha acontecendo desde o início da pandemia.

O modelo que será abandonado também é usado por praticamente todos os países.

Uma consequência é que os números de mortes serão menores. Isso porque o compilado dos óbitos pela data da notificação considerava não apenas os casos das últimas 24 horas mas também as mortes anteriores que ainda aguardavam a confirmação da infecção pelo novo coronavírus.

A mudança na divulgação de mortes e casos confirmados pela Covid-19 começou na quarta-feira (3). Naquela data, o Brasil registrou um recorde de mortes, chegando à marca de 1.349 novas mortes em 24 h e 28.633 novos casos.

Alegando um problema técnico, o Ministério da Saúde disse que o boletim do coronavírus seria divulgado excepcionalmente apenas às 22h, ou seja, após o fechamento das edições dos principais jornais diários e da emissão dos telejornais da noite.

No dia seguinte, o país bateu um novo recorde —1.473 óbitos em 24 horas, o que representava uma morte por minuto — e, pelo segundo dia seguido, o Ministério da Saúde atrasou a divulgação do boletim.

A divulgação às 22h se repetiu na sexta-feira, e o boletim daquele dia excluiu pela primeira vez o total de mortos e casos de infecção pelo novo coronavírus registrados desde o início da pandemia.

Após críticas do Judiciário, do Legislativo e de outros setores, nesta segunda (8) o Ministério da Saúde recuou e afirmou que divulgaria todos os dados.

Mesmo após a sinalização do governo, na noite desta segunda (8), o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou que o ministro retomasse a divulgação dos dados acumulados de coronavírus. ​

Nesta terça, Pazuello disse que não haverá horário para divulgação dos números e que eles ficarão disponíveis por 24 horas em plataforma do Ministério da Saúde.

"A hora que o dado chega [dos estados], ele é compilado e colocado à disposição", afirmou. "Os dados precisam ser completos e sem nenhuma dificuldade de acesso", disse o ministro.

Pazuello disse que conversava havia 20 dias com o presidente sobre a mudança na compilação e divulgação dos dados para ter informações de todos os estados e desde o início da pandemia. Os números, segundo ele, estarão disponíveis por meio de uma ferramenta que foi elaborada ao longo deste tempo.

"Uma tabela simples dizendo acumulado de mortos e acumulado de contaminados no Brasil não era uma informação digna para apresentar ao povo brasileiro. Se demorou, peço desculpas, foram 20 dias de trabalho e trabalhando todos os dias. Hoje nós temos condições de analisar exatamente a progressão de dados todos os dias, todas as semanas, até o dia de hoje", disse.

Na saída da reunião ministerial, o presidente Jair Bolsonaro disse que quer "número limpos" sobre os contágios e mortes pelo coronavírus, e não estatísticas mentirosas e que sirvam para "dar manchete em jornal".

"O número que sirva para fazer prognósticos, e não um número que sirva apenas para inflar e dar noticias em órgãos de imprensa", ressaltou.

O presidente afirmou que, dependendo de seu desempenho, Pazuello pode se tornar efetivo no cargo. A possibilidade, no entanto, enfrenta resistências nas Forças Armadas.

Na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse ainda que a OMS (Organização Mundial de Saúde) perdeu credibilidade e ressaltou que, passada a pandemia, o Brasil pode romper com a entidade mundial.

"A OMS é uma organização que está titubeando, parece até mesmo um partido político. Não é à toa que o presidente americano deixou de contribuir com a OMS. O Brasil vai pensar nisso. Quando acabar [a pandemia], vamos pensar seriamente se a gente sai ou não, porque não transmite mais confiança a nós", afirmou.

O presidente também criticou as análises sobre o coronavírus feitas por especialistas em saúde. Segundo ele, "não acertam uma".

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