Descrição de chapéu Coronavírus

Só 45% usam máscaras de forma correta na Baixada Santista, diz estudo

Pesquisa analisou comportamento de mais de 12 mil pessoas em cinco cidades da região

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São Paulo

Um estudo em cinco cidades da Baixada Santista revela que apenas 45% de 12.588 pessoas observadas nas ruas usam máscaras faciais de forma correta, ou seja, ajustadas e cobrindo o nariz e a boca.

O restante (55%) transitava sem proteção ou usava incorretamente a máscara, o que aumenta o risco de contaminação pelo novo coronavírus.

Segundo modelos matemáticos feitos nos EUA, é preciso que mais de 80% das pessoas usem adequadamente máscaras faciais para que haja algum controle na disseminação da Covid-19. Na segunda (22), a Justiça determinou que o presidente Jair Bolsonaro use máscara em espaços públicos.

A Baixada Santista já ultrapassou 19 mil casos de Covid-19 e soma ao menos 844 mortes. Está na fase laranja do plano paulista de relaxamento das medidas de isolamento, em que podem funcionar, com capacidade limitada, shoppings, comércio de rua e serviços em geral.

A pesquisa de campo foi feita por cinco estudantes de medicina da Universidade São Judas Tadeu, sob coordenação do professor e infectologista Evaldo Stanislau de Araújo. O trabalho foi submetido à revista científica The Lancet.

É um dos primeiros estudos a medir o uso de máscaras faciais na vida real durante a pandemia. Foi feito de 17 a 19 de junho de 2020 nas principais avenidas de Santos, São Vicente, Cubatão, Guarujá e Praia Grande.

Por três dias consecutivos, por um período de uma hora, o mesmo pesquisador ocupou o mesmo local na mesma rua, observando e registrando o comportamento das pessoas em relação ao uso de máscaras.

“A gente tinha a percepção de que muitas não usavam corretamente as máscaras, mas agora existe um dado concreto dessa realidade, o que pode ajudar nas medidas preventivas”, diz Araújo.

Do total de pessoas observadas, 15,5% não usavam máscara; 24,9% estavam com o acessório, mas expuseram a boca e/ou nariz; 17,8% tocaram a máscara durante o uso, e 6,5% a utilizava de forma mal ajustada.

“As pessoas vão para as ruas, pensam que estão protegidas, que estão fazendo a sua parte, mas estão correndo riscos por utilizar a máscara de maneira errada. Estar nas ruas dessa forma é totalmente desaconselhável”, diz o médico.

Ele faz uma analogia com o uso do preservativo na prevenção do HIV. “A máscara está para a Covid hoje como o preservativo esteve para o HIV em algum momento.”

O infectologista diz que em ambas situações fica nítido que a necessidade de mudança de comportamento, mas as pessoas precisam ser educadas para isso.

“A máscara não faz parte da nossa cultura, é desconfortável, muita gente tem a percepção de que falta do ar, sobretudo a população idosa. Mas o uso correto é fundamental. Do contrário, estaremos alimentando o vírus.”

Inquérito sorológico de base populacional realizado na Baixada Santista mostra que, em dois meses, a taxa de anticorpos para o Sars-Cov-2anti-SARSCoV-2 passou de 1,4% para 6,6%.

“A Baixada é uma região de pessoas idosas, tem um cinturão de pobreza, e o vírus ainda está circulando de forma intensa.” Nesta segunda (22), Santos liberou banho de mar com distância de 1,5 metro entre os banhistas.

Uma simulação recente com 60 milhões de pessoas feita por pesquisadores do Reino Unido mostra que se todos usassem máscaras na maior parte do tempo não haveria segunda ou terceira ondas da pandemia de coronavírus porque o índice de propagação da doença cairia para abaixo de um.

Para o principal autor do estudo, Ricardo Stutt, pesquisador da Universidade Cambridge, as análises respaldam a adoção imediata e universal de máscaras. Ele afirma que se isso for combinado com distanciamento físico e algum grau de confinamento, a pandemia poderia ser administrada de modo responsável, com recuperação da economia antes mesmo de haver uma vacina eficaz.

No entanto, há os que defendem que ainda faltam evidências sólidas sobre a real efetividade dessa medida, já que realizar estudos científicos para medir diretamente a eficácia das máscaras seria muito complicado. Voluntários teriam, por exemplo, que ser deliberadamente expostos ao vírus, algo insustentável do ponto de vista ético.

A despeito das limitações, no início deste mês, a OMS (Organização Mundial da Saúde) passou a recomendar o uso de máscaras, aconselhando governos a encorajar a população a adotá-las em espaços públicos. Porém, ressaltou que essa é apenas uma das ferramentas usadas para reduzir o risco de transmissão da Covid-19 e que é preciso cuidado para que ela não traga uma falsa sensação de proteção.

Segundo Evaldo Araújo, a expectativa é que os resultados da pesquisa feita na Baixada Santista gerem campanhas públicas que ensinem o uso correto da máscara e que informem que a vida de alguém depende disso.

Para o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, o resultado do estudo mostra que "nunca dá para imaginar que o óbvio está óbvio". "É preciso reforçar o básico de novo: lavar corretamente as mãos, uso de máscaras e de álcool gel."

Ele lembra que as comissões de controle de infecção dentro dos hospitais se pautam pela repetição desses conceitos. "As pessoas esquecem, outras não aprendem, outras relaxam. Tem que ficar ensinando sempre."

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