É enganosa postagem que questiona ética de testes de vacinas para Covid-19

Meme usa foto antiga do governador da Bahia e afirmação de médico que defende drogas sem comprovação científica

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São Paulo

É enganosa a postagem feita por uma página no Facebook que diz que não é ético e nem humano o uso da “vacina chinesa que Rui Costa (PT) quer testar na população baiana”. O texto diz também que é um absurdo que as pessoas sejam feitas cobaias de laboratório do governo comunista chinês. O post reproduz uma afirmação do urologista Modesto Jacobino, médico que defende uso de drogas sem comprovação científica no tratamento da Covid-19. Especialistas consultados pelo Comprova refutaram a declaração feita pelo urologista.

O texto, verificado pelo Comprova, não menciona que, para serem aprovadas pelos órgãos regulatórios, todas as vacinas devem passar por uma fase de testes em humanos. No Brasil, os testes precisam passar pela aprovação da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa).

No meme que ilustra a postagem, o governador baiano Rui Costa (PT) aparece ao lado de Wang Dongfeng, prefeito da cidade chinesa Tianjin. A assessoria do governo da Bahia informou que a imagem é de 2017, quando Costa visitou o porto do município chinês.

O autor do post e o médico citado na publicação foram procurados pelo Comprova, mas não responderam ao nosso pedido de entrevista.

O governador da Bahia, Rui Costa, sentado em mesa
Rui Costa, governador da Bahia - Alberto Coutinho/GOVBA/Divulgação

A vacina que pode ser testado na Bahia é do Sinopharm (Grupo Farmacêutico Nacional da China), que fechou parceria com o governo do Paraná. A expectativa é de que seja assinado um protocolo de cooperação entre o governo baiano e a empresa em breve. Contudo, para validar o acordo, é necessária a aprovação da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), da Anvisa. Se validada a parceria, testes devem começar em setembro.

Foram desenvolvidas duas versões do fármaco pela estatal chinesa usando material genético desativado do vírus. As versões já estão sendo testadas desde julho nos Emirados Árabes, em um estudo com 15 mil participantes.

Além do acordo com a China, houve também uma articulação com a embaixada da Rússia no dia 30 de julho. Em uma videoconferência com o chanceler russo, Sergey Akopov, e o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, foi discutida uma possível parceria entre os centros científicos russos e as instituições de pesquisas baianas para a testagem da vacina. A possibilidade de incluir outros estados e municípios também foi discutida. A Sputnik V, segundo o presidente Vladimir Putin, seria primeira vacina contra a Covid-19. Conforme a agência de notícias russa Interfax, a dose passou nos testes necessários e a vacinação será “exclusivamente voluntária”. Porém, a comunidade científica alega que a substância não está dentro das especificações adequadas e a vê com ceticismo.

Verificação

O Comprova, em 2020, está em sua terceira fase. Neste ciclo, a equipe verifica conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. No caso da Covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas.

A postagem de Leandro de Jesus, gera desconfiança e tem capacidade de fomentar movimentos que desestimulem voluntários a participar de testes importantes para que se encontre uma vacina capaz de frear o novo coronavírus. Além do mais, desinforma ao usar uma imagem fora do seu contexto e um argumento carente de validade científica e filosófica.

Enganosos, para o Comprova, são os conteúdos retirados do contexto original e usados em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induzem a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdos que confundem, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a Covid-19 disponíveis no dia 14 de agosto de 2020.

A investigação desse conteúdo foi feita por Estadão e GaúchaZH e publicada na sexta-feira (14) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, Jornal do Commercio, SBT e Nexo.

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