Descrição de chapéu Coronavírus

EUA têm aumento de 90% de casos de coronavírus em crianças em um mês

Relatório de organização pediátrica americana aponta que mais de 380 mil crianças já foram infectadas no país; números saltaram também em outras faixas etárias

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São Paulo

Um relatório divulgado pela Academia Americana de Pediatria no início deste mês apontou um aumento de 90% nos casos de infecção pelo novo coronavírus em crianças do país entre o início de julho e o início de agosto.

Ao todo, mais de 380 mil crianças foram infectadas pelo vírus desde a chegada da pandemia aos Estados Unidos, cerca de 9% do total de infectados. Os mais jovens representaram até 0,4% de todas as mortes causadas pela Covid-19 no país, segundo o relatório.

A hospitalização das crianças ficou entre 0,5% e 5,3% do total de internações feitas devido à doença.

A população de crianças e adolescentes nos Estados Unidos é de cerca de 76 milhões, segundo o relatório, o que representa 23% do total de quase 330 milhões de habitantes que o país tem hoje.

O levantamento foi feito com dados divulgados pelos estados norte-americanos. A definição da faixa etária que é considerada como criança variou de um estado para outro —em alguns locais, incluiu pessoas com idades de até 24 anos. A maior parte dos estados considerou apenas pessoas com até 19 anos de idade. Das 50 unidades federativas, 44 publicaram as idades dos mortos.

O aumento abrupto no número de casos entre os mais jovens seguiu a tendência do crescimento de infecções para todas as faixas etárias no país durante o mês de julho.

Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a média de novos casos diários da doença no país ficou entre 20 mil e 30 mil nos meses de abril, maio de junho. Em julho, o número de novas infecções por dia saltou para cerca de 60 mil, um incremento de aproximadamente 100%.

"Temos de olhar com cautela para esse número. Ele reflete uma explosão nas taxas de incidência da doença para todos os grupos etários; não é um número observado apenas entre as crianças", afirma o pediatra e infectologista Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

De acordo com o médico, o que os dados do relatório demonstram com muita clareza é que os casos graves e mortes causadas pela Covid-19 acontecem com muito menos frequência entre os mais jovens —fato que tem sido confirmado por estudos do mundo todo, que apontam que crianças, quando infectadas, têm formas mais brandas da doença.

Segundo Sáfadi, crianças e adolescentes são cerca de 25% da população mundial. No caso norte-americano, esse grupo representou aproximadamente 9% dos casos de infecção reportados.

"A maioria dos estudos sugere que o grupo de pessoas com menos de dez anos parece se infectar menos. Deve-se considerar também que o cenário epidemiológico que foi imposto com as quarentenas pode ter diminuído ainda mais os riscos de infecção para as crianças do que para os adultos", diz o médico.

Dados do Ministério da Saúde apontam que os números brasileiros estão próximos dos norte-americanos. De acordo com Sáfadi, as mortes causadas pela Covid-19 no grupo de pessoas com menos de 19 anos seriam cerca de 0,7% do total de óbitos. "Se a mortalidade fosse a mesma para todas as idades, esse número estaria perto dos 25%", afirma.

Há, porém, o desencadeamento de um efeito raro entre crianças que se infectam com o novo coronavírus. Trata-se da síndrome inflamatória sistêmica, que aparece depois da infecção e traz sintomas como reação inflamatória no corpo, febre e dor abdominal.

Nos Estados Unidos, o CDC registra 570 casos confirmados da síndrome, com 10 mortes. No Brasil, segundo Sáfadi, relatos começam a surgir, mas só recentemente uma linha de notificação foi criada para que os profissionais de saúde possam registrar as ocorrências, e os dados devem estar disponíveis em breve.

Levantamentos como o americano podem ajudar a definir melhor as políticas públicas de saúde, especialmente as ações voltadas para o público em idade escolar.

Nos Estados Unidos, as férias de verão, o recesso mais longo do ano escolar norte-americano, devem acabar em agosto, e os estados terão de enfrentar o retorno às aulas presenciais ou um adiamento.

Na página de internet do CDC, a instituição defende a volta às atividades escolares presenciais com protocolos de segurança para evitar a transmissão da doença. Em um artigo publicado no fim de julho, o CDC diz que o fechamento das escolas tem efeitos negativos para o indivíduo e para a sociedade,

De acordo com o texto, os exemplos de países que abriram os estabelecimentos de ensino "indicam que a Covid-19 representa risco baixo para crianças em idade escolar, pelo menos em áreas com baixa transmissão comunitária, e sugerem que é improvável que as crianças sejam os principais agentes de transmissão do vírus".

Para Sáfadi, a volta às aulas pode ser feita em locais em que os números da Covid-19 são controláveis, caso da Europa. Mesmo assim, não há ainda a eliminação total da doença, e o médico alerta que casos de infecção e transmissão devem acontecer.

Em São Paulo, o governador João Doria adiou a retomada das aulas presenciais para a partir do dia 7 de outubro.

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