Descrição de chapéu Coronavírus

Pazuello afirma que dados sobre vacina russa ainda são 'rasos' e 'incipientes'

Em evento da OMS, ministro omite que Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes por Covid

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Brasília

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta quinta-feira (13) que a nova vacina russa contra a Covid-19 ainda é muito “incipiente” e “rasa”. Embora não descarte outras opções, o titular da pasta afirmou que a parceria com a Universidade de Oxford ainda se mostra a melhor opção para o Brasil.

Em audiência na comissão mista do Congresso Nacional que acompanha as ações de enfrentamento à Covid-19, Pazuello disse que manteve uma videoconferência com o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e com os técnicos que assinaram um acordo de cooperação com o Fundo de Investimento Direto da Rússia para pesquisa e produção da vacina.

“Essa videoconferência mostrou que, concordo com os dados ali, está muito incipiente, as posições estão muito rasas. Nós não temos profundidade nas respostas. Não temos acompanhamento dos números”, disse o ministro, após ser questionado por parlamentares.

A Rússia anunciou na terça-feira (11) que concedeu a primeira aprovação regulatória do mundo para uma vacina contra a Covid-19, que foi chamada de Sputnik V para os mercados estrangeiros.

A aprovação foi dada pelo Ministério da Saúde do país à imunização produzida pelo Instituto Gamaleya de Moscou após menos de dois meses do início dos testes em humanos, segundo afirmou o presidente russo, Vladimir Putin.

No dia seguinte, o governo do Paraná assinou um memorando de entendimento com a Rússia para dar início às tratativas relativas à vacina. A parceria vai ser dar por meio do TecPar (Instituto de Tecnologia do Paraná).

“Pode até haver tudo isso [eficácia], mas tem que ter muita negociação, muito trabalho para que isso seja de uma forma efetiva, digamos, avalizado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], para que nós possamos discutir a compra”, disse o ministro.

Reportagem da Folha mostrou que as informações oficiais sobre os testes da vacina contra Covid-19 da Rússia foram modificadas na base internacional que registra experimentos com humanos.

Nesta quarta (12), as informações sobre os experimentos com humanos da vacina da Rússia passaram a incluir também uma segunda fase, concomitante à primeira. Agora, consta que os estudos foram finalizados no dia 3 de agosto, mas não há informação sobre conclusões dos testes.

Pazuello também repetiu que os técnicos estão monitorando o desenvolvimento das vacinas no mundo e devem aderir à primeira imunização que se mostrar mais eficaz e segura.

“Resumindo: nós estamos atentos à vacina russa e caso essa prospecção seja positiva, nós devemos também participar, seja por intermédio da Tecpar, em Curitiba, seja por intermédio de uma outra ala de fabricação nossa”, disse.

“É orientação e diretriz minha que todas as vacinas que se mostrem em uma prospeção positiva, devemos estar acompanhando, devemos estar parceiros e com opção de compra.”

O ministro acrescentou que mantém encontros com outros laboratórios que estudam uma vacina e está em contato com o governo de São Paulo para obter informações sobre a parceria desenvolvida pelo Instituto Butantan com uma farmacêutica chinesa.

No entanto, afirma que, até o momento, a parceria da Fiocruz com a empresa Aztrazeneca e com a Universidade de Oxford ainda é a melhor opção para o país. “É a mais promissora, mas a gente não deixa de estar atento a todas as outras."

Pazuello afirmou que o Ministério da Saúde não consegue atender nem metade da demanda de estados e municípios por hidroxicloroquina —medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19 e defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

​“Aqui eu coloco de forma bem clara que nós atendemos demandas, não distribuímos sem demanda”, disse o ministro, evitando emitir opinião sobre o medicamento.

“Alerto que nós não conseguimos atender nem 50% do que nos demandam, por exemplo, de hidroxicloroquina. Isto foi o que nós distribuímos em milhões de doses: 5,284 milhões de doses para todo o país, todas elas demandadas por secretarias de estados e de municípios”, completou.

O ministro afirmou que sua pasta tem “estoque zero” do comprimido e que há uma demanda reprimida de 1,6 milhão de comprimidos —ele não especificou para qual fim.

Segundo ele, está em negociação a compra de 4 milhões de comprimidos do medicamento com a Fiocruz, para atendimento da demanda em condições normais desconsiderando a pandemia da Covid-19. O medicamento doado pelos EUA está sendo trabalhado pelo laboratório do Exército —será preciso retirar das cartelas e embalar novamente.

Ao ser questionado sobre o futuro da pandemia, Pazuello respondeu que será necessário mais um mês para se ter uma perspectiva mais fidedigna —mas ressaltou que não há um “fim” para o coronavírus.

“Não existe fim do coronavírus. O coronavírus veio para viver conosco. Então, vamos começar a nos lembrar disso. Não houve fim do H1N1, só se ele mudar para outro número. O coronavírus vai viver conosco também”, disse.

“Acho que no meio de setembro, no final de setembro vamos estar com os números do centro-sul bem definidos para dar uma resposta clara de como vai estar no final do ano. Eu posso lhe afiançar que no final do ano, no centro-norte, nós vamos estar vivendo uma nova normalidade, com novos hábitos”, afirmou.

Antes da audiência no Congresso, por videoconferência, Pazuello participou de uma sessão informativa promovida pela OMS (Organização Mundial de Saúde). O ministro apresentou dados sobre as ações do governo para combater a pandemia, mas em nenhum momento mencionou que o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes em decorrência da Covid-19.

Apesar de lamentar as mortes, o ministro ressaltou a quantidade de pessoas curadas da Covid-19 no Brasil.

“Até o final do dia [desta quarta], o Brasil contabilizava 2.309.477 casos recuperados de Covid-19. Estamos entre os líderes mundiais em pacientes recuperados, o que evidencia o acerto das ações do governo brasileiro em resposta à pandemia”, disse Pazuello.

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