Descrição de chapéu Coronavírus

Periferia do DF enfrenta barreiras para atendimento a Covid-19

Ministério da Saúde recomenda que casos leves busquem ajuda, mas faltam médicos e testes nas unidades

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Coronavírus

Brasília

Cinco meses após o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, quem apresenta sintomas da doença ainda encontra dificuldade para obter atendimento médico e realizar testes no Distrito Federal e nas cidades no entorno, em Goiás.

Na Unidade Básica de Saúde 12 de Ceilândia, A estudante Ane Stephany Martins, 19, foi em busca de ajuda. Ela estava com dor no corpo e seus pais já tinham sido diagnosticados com a doença.

Mas na unidade avisaram que o teste rápido, que verifica a presença de anticorpos a partir de amostras de sangue, nao havia chegado. Já o teste RT-PCR, que atesta a presença de material genético do vírus em amostras respiratórias, era restrito a casos graves.

Ane voltou para casa sem atendimento após parte das consultas ser cancelada para atendimento de uma emergência. “Por causa da demora, muitas pessoas já tinham desistido e foram embora”, disse.

Situação em Posto de Saúde em Ceilândia, região administrativa do DF, na área destinada aos casos de sintomas respiratórios e suspeita de Covid-19 - Pedro Ladeira/Folhapress

Assim como Ane, outras pessoas têm encontrado barreiras para conseguir atendimento. Isso ocorre a poucos quilômetros do Palácio do Planalto, onde o Ministério da Saúde anunciou mudanças nas orientações.

A pasta passou a recomendar, no dia 9 de julho, que pacientes procurem atendimento médico nos primeiros sintomas da Covid-19. A intenção é evitar o agravamento da doença, reduzindo complicações, internações e mortes.

A pasta anunciou dias antes que passaria a ofertar testes para pacientes com sintomas leves, como parte do programa Diagnosticar para Cuidar. Eles seriam realizados nas unidades sentinelas e nos centros de atendimento da Covid-19.

”Não faltam testes, inclusive, o Ministério da Saúde tem estoque grande. O estado faz a solicitação com antecedência e não chega a faltar. Caso aconteça, a pasta tem um critério de logística para enviá-los em horas”, afirmou a diretora do departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde Substituta, Greice Madeleine do Carmo, ao ser questionada na quarta-feira (5) pela Folha.

Apesar da afirmação, casos leves da doença têm tido dificuldade para obtê-los.

Sala de espera de laboratório particular em Águas Lindas, cidade do entorno do DF, procurado por moradores dispostos a pagar pelo exame de Covid-19 - Pedro Ladeira/Folhapress

A atendente Patrícia dos Reis, 46, procurou a UPA de Ceilândia sentindo febre e com a perda do paladar e do olfato. Voltou para casa sem realizar o teste. ”Dizem que não tem teste rápido, o RT-PCR somente em casos críticos. Acredito que vou precisar realizar esse teste numa clínica particular”, afirmou.

Na UPA de Samambaia, a auxiliar de produção Maria Helena de Souza Nascimento, 41, também voltou para casa.

”Alegaram que só estavam atendendo emergência, que o teste de Covid-19 faziam apenas em quem estava com a oxigenação baixa e com o pulmão ruim. Nós que estamos com gripe, tosse, não conseguimos nada”, contou.

Os problemas não são exclusivos do DF. Em Águas Lindas de Goiás (GO), há falta de médico, dificuldade para realizar testes e até a recomendação de funcionários da rede pública para que o exame seja feito em clínicas particulares.

Na UBS Mariano Rufino de Faria, a recepção informou que o médico estava de férias. Na UBS Jardim Barragem II e na UBS Jardim Barragem V, os médicos responsáveis chegariam na parte da tarde.

Na UBS Daniel Marques, as funcionárias informavam que o médico solicitava testes para Covid-19, porém indicavam que fosse realizado em laboratório particular. Essa recomendação ocorreu em outras UBSs, sob alegação de que o resultado sairia mais rápido.

Nas clínicas recomendadas por funcionários da UBSs, o teste custa entre R$ 160 e R$ 380. Em uma delas havia dez pessoas na espera. Enquanto isso, na Policlínica, onde os testes agendados na rede pública são realizados, não havia ninguém.

”Eu marquei o teste e ao tentar realizar disseram que não estava agendado, agora não consigo marcar novamente”, disse o empresário Fernando Medeiros Martins, 30.

Para Walter Cintra Ferreira, professor de Gestão em Saúde da FGV e médico sanitarista, a situação é grave.

”Não adianta dizer para a população procurar o profissional de saúde se não há médico em todos os locais. Orientar o paciente para que procure uma clínica privada para realizar o teste é sinônimo de que o sistema de saúde está em colapso”, afirmou.

Outro lado

A Secretaria de Saúde do DF informou, em nota, que a porta de entrada para atendimento é a UBS e que as unidades estão abastecidas com os testes RT-PCR.

Já o exame com coleta de sangue está disponível desde terça (4) em todas as UBSs das regiões de saúde Norte, Central, Centro-Sul e Leste, e em algumas unidades das regiões de saúde Sul e Sudoeste.

”Pessoas com sintomas da Covid-19 residentes em Ceilândia ou Brazlândia devem procurar a UBS mais próxima de sua casa onde serão atendidas, avaliadas e, caso necessário, encaminhadas para fazer o teste na UPA ou hospital”, informou.

O IGESDF (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde), que administra UPAs e hospitais distritais, informou que as UPAs não fazem testagem em massa da população. Essas estruturas são responsáveis por atendimento médico e testagem de casos suspeitos.

”Os estoques de testes rápidos e RT-PCR estão abastecidos nas UPAs, sendo destinados para pacientes que procuram a unidade que tenham sintomas da doença, mesmo em casos leves”, afirmou.

O governo de Goiás, por nota, informou que segue os protocolos do Ministério da Saúde de que as pessoas, mesmo com sintomas leves, busquem as unidades de saúde para consultas. Já a testagem é prioritária para casos graves e mortes.

Um programa para ampliação da testagem por meio do aplicativo Dados do Bem está em curso. A ferramenta faz a triagem, mesmo de casos leves, e a pessoa é orientada a procurar uma unidade de saúde de sua cidade, com data e horário pré-agendados.

”Nós não fornecemos testes —importante ressaltar. Nós repassamos aos municípios os kits de coleta. Todos os municípios que aderiram, inclusive Águas Lindas, já foram capacitados, já buscaram os kits e já vão começar as coletas na próxima semana”, disse.

Em relação à falta de médicos, disse que é responsabilidade dos municípios manterem médicos nas UBSs. As prefeituras das cidades citadas foram procuradas, mas não responderam até a conclusão deste texto.

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