Descrição de chapéu Coronavírus

Rússia anuncia vacinação em massa contra Covid-19 para outubro

Falta de transparência nos resultados dos testes gera desconfiança internacional

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, anunciou neste sábado (1º) que o país deve iniciar vacinação em massa contra o novo coronavírus em outubro. A produção da vacina russa foi anunciada pelo Kremlin no último dia 29 de julho.

Murashko afirmou na última semana que profissionais da saúde serão vacinados ainda em agosto, antes dos resultados da fase 2 do ensaio clínico, segundo informações do Moscow Times.

"Faremos uma produção em larga escala da vacina e uma aplicação também em larga escala", afirmou Murashko.

A rapidez com que a vacina foi desenvolvida e a falta de transparência do governo russo sobre os resultados dos ensaios clínicos levantam suspeita da comunidade internacional. O estudo que levou ao fármaco acompanhou por seis meses 38 voluntários remunerados com idade entre 18 e 65 anos. Os resultados são fruto de um ensaio clínico de fase 1.

Kirill Dmitriev, diretor do fundo soberano da Rússia, que financiou a pesquisa, comparou o projeto do país a uma vitória sobre os Estados Unidos durante a Guerra Fria.

"É um momento Sputnik", afirmou, ao fazer referência ao lançamento do primeiro satélite de sucesso em 1957.

Segundo os cientistas russos, a vacina do Instituto Gamaleya foi desenvolvida rapidamente porque é baseada em uma vacina modificada usada para diferentes doenças.

As autoridades de saúde do país disseram que os dados da vacina estarão disponíveis para revisão e publicação no início do próximo mês.

Até o momento, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), há 26 vacinas sendo testadas em humanos, seis delas no estágio mais avançado --a fase 3-- e 139 em estudo pré-clínico.

Entre as candidatas em fase 3 está uma vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, cujo testes estão sendo realizados, entre outros lugares, no Brasil, em parceria com o Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e com o Instituto D'Or (Idor).

Há também uma candidata em desenvolvimento no Instituto Butantan, em São Paulo, fruto de um estudo promovido pelo laboratório chinês Sinovac. Se for eficaz, o imunizador poderá ser produzido em larga escala pelo instituto. A primeira dose da vacina já foi aplicada no Hospital das Clínicas de São Paulo.

O Ministério da Saúde russo deve aprovar a vacina entre os dias 10 e 12 de agosto, iniciando a vacinação dos profissionais da saúde no dia 15.

O desenvolvimento de uma vacina pode levar anos e precisa passar por uma sequência de testes que comprovem a segurança e a eficácia da substância para proteger pacientes contra a doença. Os chamados testes clínicos, feitos em humanos, precisam de três diferentes fases para comprovar o bom funcionamento da imunização. Uma autorização para uso da vacina na população só vem após a conclusão dos testes clínicos.

Em regra, os desenvolvedores de vacinas publicam resultados dos testes em periódicos especializados, que contam com a revisão do conteúdo feita por outros cientistas. Nenhuma das vacinas anunciadas até agora pela Rússia teve uma publicação do tipo até o momento.

O país é o quarto do mundo em total de casos confirmados com mais de 843 mil infectados e o 11º no total de mortes causadas pela Covid-19, com 14 mil vítimas.

Com 4,6 milhões de casos confirmados e 153,9 mil mortes, os EUA são o país mais atingido pela pandemia. Depois, vem o Brasil, que soma mais de 2,6 milhões de infectados e 92,4 mil mortos.

A Rússia tem sido criticada por outros países em relação ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. No dia 16 de julho, EUA, Reino Unido e Canadá acusaram o governo russo de tentar roubar informações de pesquisa realizadas em diversos países para produzir vacinas.

Naquele mesmo dia, o prefeito da cidade de Norilsk acusou o governo russo de subnotificar casos de Covid-19 e ignorar o impacto da doença no país. Na ocasião, o número de casos confirmados no país era de 752,7 mil.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.