Descrição de chapéu Coronavírus

Alta de retransmissão e estabilidade de casos ativos acendem alerta para Covid no interior paulista

Regiões se mantêm abaixo de limiar, mas retomada de atividades coloca em risco controle da pandemia

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Americana (SP)

Cidades do interior de São Paulo passaram a apresentar estabilização nos casos ativos e alta na taxa de retransmissão do novo coronavírus nos últimos dias, interrompendo uma tendêndia de queda e destoando dos dados gerais do estado, aponta ferramenta de análise de dados e monitoramento em tempo real da pandemia em municípios paulistas.

Todas as 22 regiões monitoradas pelo SP Covid-19 Info Tracker mantêm hoje o índice de retransmissão (Rt) do vírus abaixo de 1,0 —considerado o limiar para definir se a pandemia está sob controle ou não.

Porém, muitas se aproximam desse índice, em um contexto em que escolas e atividades comerciais em geral foram retomadas. Das 22 regiões, 7 apresentam taxa de retransmissão acima de 0,80, considerada alta, e estão mais sujeitas a complicações no futuro próximo.

Piracicaba é uma das regiões em que a reversão da queda na tendência de novas infecções fica mais evidente, segundo a ferramenta desenvolvida por pesquisadores da USP e da Unesp. Após pressão do prefeito Barjas Negri (PSDB), que entrou na Justiça para reverter a classificação no Plano SP, região pulou direto da fase vermelha para a amarela do Plano SP em 7 de agosto.

Movimento na região central de Bauru (SP) - Malavolta Jr-13.jul.20/JCNET

No fim de agosto, o número de casos ativos, antes em constante redução, se estabilizou, enquanto a tendência de reprodução do vírus (medida pelo Rt), que caía em ritmo acelerado, se inverteu e passou a registrar viés de aumento.

Em 18 de agosto, o Rt em Piracicaba era de 0,70, subindo constantemente até atingir 0,91 nesta terça-feira (8), com 5.482 casos ativos da doença na população. No ranking de retransmissão, a região ocupa hoje o quarto lugar.

Presidente Prudente apresenta um paralelo com o caso de Piracicaba. Estava com Rt em queda, em torno de 0,60 em meados de agosto, quando, em setembro, os casos ativos se estabilizaram. Hoje está com 1.436 casos ativos e Rt de 0,81. O viés é de baixa, mas lenta, podendo atingir 0,78 na próxima semana.

A região de Marília também tem trajetória similar, com Rt subindo de 0,84 para 0,92 no mesmo período.

Piracicaba registrava até esta quarta-feira 12.796 casos confirmados de Covid-19 e 305 mortes. Marília ocupa o segundo lugar no ranking de cidades com maior crescimento de óbitos nos últimos sete dias, com um total de 34. São 2.139 casos confirmados da doença. Já Presidente Prudente tem 3.663 casos confirmados e 101 mortes.

O fato de o número de casos ativos apresentar estabilidade não necessariamente é uma boa notícia, explica o pesquisador de dados Wallace Casaca, coordenador do SP Covid-19 Info Tracker.

"Depois de 15 dias, os casos ativos ou vão se recuperando ou vêm a obito, um dos dois. Então para o dado ficar estável é porque o fluxo de pessoas que está saindo [mortes ou recuperação] é igual ao fluxo de pessoas que está entrando [novos casos]. Este é o problema de ter os casos ativos estáveis por muito tempo", explicou Casaca, matemático da Unesp.

Barretos é um caso peculiar de região que viveu uma segunda onda de pandemia, na avaliação de Casaca. Na primeira quinzena de agosto, a situação parecia sob controle, com um número baixo de casos ativos. Então os casos começaram a aumentar em demasia, ultrapassando a barreira dos mil casos ativos e, em 18 de agosto, a região registrou Rt de 1,17.

"Está no platô desse segundo pico", afirmou Casaca, com Rt atual de 0,89 e projeção de que caia para 0,76 até 18 de setembro.

Já Bauru apresenta grande instabilidade na Rt. Chegou a ter o índice acima do 1,0 há um mês e vem oscilando, o que indica pouco controle da pandemia, com taxa de 0,92.

O matemático ressalta que o fato de todas as regiões estarem com Rt abaixo de 1,0 é bom, mas a proximidade de muitas delas com esse limiar é perigoso. A mensagem é de alerta, disse.

"Às vezes a gente fala que está decrescendo, que a situação está melhorando, mas estamos sendo mal interpretados", afirmou. "A situação está melhorado visto que ela estava muito ruim. Obviamente, se você está no fundo do poço, se você conseguiu subir em duas pedras a coisa melhorou, mas ainda está muito ruim."

Segundo dados do SP Covid-19 Info Tracker, o interior de SP está no mesmo patamar de novos casos e novos óbitos de junho. "A perspectiva é de melhora se a população se conscientizar, se ficar em casa, cumprir o distanciamento. Mas este fim de semana me deixou muito preocupado", afirmou.

"As pessoas vão para a praia e daí vão na sorveteria, que é um lugar fechado, ou voltam para o escritório em São Paulo, que é um lugar confinado. E aí vira uma bola de neve. Se eu tiver que dar um palpite, nós vamos ver o resultado disso daqui a uma semana."

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