É falso que testes são manipulados e pandemia não existe

Apresentadora dissemina informações enganosas em vídeo que viralizou nas redes sociais

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São Paulo

O Comprova investigou o conteúdo de um vídeo postado por uma mulher em seus perfis no Instagram e no YouTube no qual ela denuncia uma suposta “farsa” na pandemia da Covid-19 e uma alegada manipulação de dados. Essas afirmações não são verdadeiras. A doença existe e já matou mais de 870 mil pessoas no mundo –só de pessoas infectadas foram mais de 26,4 milhões, segundo a universidade Johns Hopkins. Apenas no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, foram mais de 124 mil óbitos e cerca de 4 milhões de infectados até a publicação deste texto.

A mulher, que se apresenta como Karina Michelin, diz no vídeo que a farsa acontece por causa da manipulação dos testes. Ela engana ao questionar a validade dos exames e dizer que há “muita controvérsia e resultados falsos”. Por ser uma doença nova e a pandemia, uma situação sem precedentes na história recente, há discussões em curso sobre a melhor forma de utilizar e divulgar os testes, mas “não há manipulação”, como diz Luiz Fernando Barcelos, presidente da Sbac (Sociedade Brasileira de Análises Clínicas).

“No início da pandemia, os testes não tinham a eficácia que gostaríamos, mas melhoraram muito e estão atendendo perfeitamente bem”, afirma ele. Barcelos alerta para outros fatores que vão na contramão do que Karina afirma e que confirmariam números da Covid-19 no Brasil ainda maiores: “Além de testarmos pouco, grande parte dos assintomáticos não entra no bolo dos quase 4 milhões de infectados no país (por não fazerem o exame)”.

Frame de vídeo no YouTube em que a apresentadora fala olhando para câmera
A apresentadora em vídeo que dissemina informações falsas - No YouTube

A mulher também erra ao afirmar que os Estados Unidos contam, entre os casos positivos, pessoas que não foram testadas para a Covid-19. O artigo que ela mostra na gravação, do CDC (Center for Disease Control and Prevention), dos Estados Unidos, é claro ao informar que o caso só será confirmado positivo se “atender a evidências laboratoriais”.

Outra desinformação que o vídeo traz é sobre “essa mania de contar mortes de acidentes de trânsito como Covid-19”, que, segundo a autora, “parece que virou moda e está se espalhando pelo mundo”. Ela conta sobre uma pessoa que morreu em um acidente de moto na Flórida e entrou para as estatísticas do novo coronavírus e ilustra com uma reportagem do site Fox 35 sobre o assunto. Mas Karina omite uma informação importante, que está no início do texto: dois dias depois da publicação da matéria da Fox 35, em 18 de julho, o óbito foi retirado da lista de vítimas da pandemia.

O Comprova tentou contato com Karina Michelin, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.

Verificação

Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Conteúdos que trazem desinformação relacionada à Covid-19, como o verificado aqui, são ainda mais perigosos pois podem custar vidas.

Karina, que já apareceu em uma verificação do Comprova, coloca a saúde das pessoas em risco ao dizer que a pandemia é uma farsa. O post investigado agora tinha quase 18 mil visualizações no Instagram e 549 no YouTube até 4 de setembro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.

O Comprova fez esta verificação baseado em dados oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis no dia 4 de setembro de 2020.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha e Nexo e publicada no sábado (5) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por UOL, BandNews, Estadão e Poder 360. 

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