Estudo italiano não propõe hidroxicloroquina para tratar novo coronavírus

Site distorce informações de pesquisa sobre a droga, que não tem eficácia comprovada contra a doença

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São Paulo

É verdadeira a publicação do site Conexão Política que descreve um estudo realizado por pesquisadores italianos que observou uma taxa menor de mortalidade nos pacientes hospitalizados com Covid-19 que tomaram hidroxicloroquina.

Ainda que as informações, verificadas pelo Comprova, estejam de acordo com o que foi publicado no estudo, a pesquisa não traz nenhum dado conclusivo sobre a eficácia da hidroxicloroquina. Por se tratar de um estudo observacional, não foi oferecido placebo para o grupo de controle, o que permitiria comparar os resultados dos dois grupos. A pesquisa também não seguiu o modelo duplo cego randomizado, em que os participantes de um grupo que recebe o remédio e do grupo de controle são sorteados aleatoriamente, para evitar que fatores externos, como idade, influenciem nos resultados.

Estudos observacionais podem apontar possíveis tratamentos a serem estudados mais a fundo, mas não permitem atestar a eficácia de drogas. A própria conclusão do estudo italiano traz ressalvas sobre a aplicação prática de seus resultados. Além disso, pesquisadores brasileiros ouvidos pelo Comprova destacaram que o estudo italiano tem uma série de limitações e não acrescenta novidades na literatura já disponível sobre o medicamento.

Caixa de remédio azul com a inscrição "sulfato de hidroxicloroquina"
Caixa de hidroxicloroquina, droga que não tem eficácia comprovada contra o novo coronavírus - Dirceu Portugal/Fotoarena/Agência O Globo

O site brasileiro erra ao afirmar que os autores do estudo propõem o uso da hidroxicloroquina para tratar pacientes com o novo coronavírus, o que não condiz com os resultados da pesquisa. O artigo científico italiano afirma somente que os dados do levantamento “não desencorajam” o uso da droga.

O Comprova tentou contato por e-mail com o Conexão Política, mas não recebeu resposta até a publicação desta checagem.

Verificação

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. No caso da Covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. Quando se trata de medicações para o tratamento do novo coronavírus, essas verificações se tornam ainda mais importantes porque o uso de drogas sem comprovação científica pode colocar em risco a saúde dos pacientes.

Por isso, é necessário cautela ao afirmar a proposição de um tratamento, como é o caso do conteúdo analisado nesta verificação. O estudo do país europeu afirma não desencorajar o uso da hidroxicloroquina, mas não indica que o medicamento seja usado como potencial tratamento, como escreve o portal Conexão Política no trecho “os pesquisadores propõem que a hidroxicloroquina seja usada como potencial tratamento para a Covid-19”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado, que induz a uma interpretação diferente da intenção do seu autor, ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

A investigação desse conteúdo foi feita por GaúchaZH e Jornal do Commercio e publicada na segunda-feira (31) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, UOL, Gazeta do Sul e Estadão.

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