Fake news é problema também para divulgação de informações sobre câncer

Acesso a informações confiáveis e dados corretos é fundamental, afirmam debatedores

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J. Marcelo Alves
São Paulo

Não faltam desafios na luta contra o câncer no Brasil, envolvendo fatores variados, como comunicação com o público, pesquisas clínicas, entraves e ineficiência regulatórias, dificuldades na obtenção de dados epidemiológicos de todo o país e modelos inadequados de financiamento à saúde.

Segundo Wilson Follador, líder do grupo de trabalho de acesso e tratamento do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (MTJCC), o acesso às terapias é um dos principais problemas.

"Não adianta ter um medicamento extremamente eficaz e seguro, se ele não chega ao paciente", diz Follador.

Ele participou do painel "Avanços e desafios do câncer no Brasil", parte do sétimo Congresso Todos Juntos Contra o Câncer.

Segundo ele, a falta de acesso às terapias se deve a altos custos, escassez de medicamentos, problemas estruturais ou gerenciais na logística de distribuição, interesses econômicos secundários, falta de integração no sistema de saúde e qualidade baixa da informação.

Alice Francisco, líder do grupo de trabalho de saúde feminina do MTJCC, apresentou os resultados de uma extensa coleta e análise de dados sobre câncer de mama e de colo do útero, no período de 2012 a 2019 –a pandemia atrasou a obtenção de informações deste ano.

Essas informações são cruciais para se monitorar a situação dos cânceres no Brasil e poder propor ações de melhoria na saúde da mulher. Todos os dados e análises, filtráveis por vários critérios, estão livremente disponíveis no site do MTJCC.

Denise Martins, líder do grupo de trabalho de financiamento em saúde do MTJCC, afirma que a crise econômica, o teto de gastos e outras limitações do orçamento são fatos incontornáveis da situação atual da saúde.

Um problema especialmente agudo é a defasagem nos valores de reembolso, pelo SUS, dos caros procedimentos realizados. Regras e periodicidade bem definidos para atualização desses valores são fundamentais para o funcionamento do sistema, segundo Martins.

A informação e a comunicação são indispensáveis na luta contra o câncer, como enfatizado pela moderadora do painel, Nilva Bortoleto, coordenadora do MTJCC, e por Simone Simon, líder do grupo de trabalho de comunicação do movimento.

"Todos nós assistimos, nesta pandemia, a um grande conflito de comunicação, muita fake news, e o câncer enfrenta isso desde sempre. Até pouco tempo atrás, a palavra câncer nem era mencionada."

O acesso de pacientes a estudos clínicos muitas vezes é a única oportunidade para receber um tratamento de ponta. Sonia Dainesi, membro do grupo de trabalho de pesquisa clínica do MTJCC, disse que está em planejamento uma plataforma brasileira de divulgação de estudos clínicos para facilitar o acesso de pacientes e equipes médicas a tudo o que está sendo feito no país.

No entanto, "há uma burocracia que atrapalha o processo de autorização de novos estudos e não há uma lei específica para pesquisa clínica", embora haja uma lei regulamentando a pesquisa em animais, afirmou Dainesi.

O Congresso Todos Juntos Contra o Câncer segue até sexta-feira (25), e as inscrições ainda podem ser feitas por meio do site oficial.

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