Descrição de chapéu Ao Vivo em Casa

Não podemos politizar as vacinas como fizemos com os tratamentos, diz médico

Chefe de infectologia da Unesp falou em live da Folha sobre avanços médicos e científicos contra a Covid-19

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São Paulo

O Brasil cometeu três erros principais no combate à Covid-19 até aqui: regiões se prepararam mal para receber a grande leva de doentes, a estratégia de testagem foi inadequada, e a falta de unidade de ações entre as esferas políticas confundiu as pessoas.

Assim resumiu a resposta brasileira ao novo coronavírus o médico Alexandre Naime Barbosa, chefe do setor de infectologia da Unesp de Botucatu (SP) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Barbosa foi o convidado do Ao Vivo em Casa desta quarta (2), série de lives da Folha durante a pandemia do novo coronavírus.

Alexandre Naime Barbosa, médico infectologista da Unesp de Botucatu (SP)
Alexandre Naime Barbosa, médico infectologista da Unesp de Botucatu (SP) - Reprodução

“Precisávamos no Brasil de um líder que pensasse coletivamente, como nação, mas não vemos isso com intensidade em nenhuma das esferas federativas”, disse. “A falta de unidade deu um nó no cérebro das pessoas, que não sabem em quem acreditar”, completou.

Do ponto de vista estratégico, a falta de testagem em massa, ao primeiro sinal de sintomas e com o teste mais adequado —o RT-PCR—, também dificultou a identificação e o isolamento de pessoas infectadas e transmissoras da doença. Ao contrário, usamos um enorme volume de testes sorológicos, o que foi um desperdício de recursos, segundo Barbosa.

Por outro lado, ele afirma que a velocidade de aprendizado sobre a doença foi inédita. “Nunca na história da medicina houve uma curva de aprendizado tão rápida sobre uma doença. A ciência foi sendo feita em tempo real”, disse.

Institutos de pesquisa, universidades e hospitais se uniram para fazer estudos clínicos e adequados com mais agilidade e segurança sobre ações para melhorar o tratamento, e novas práticas foram sendo incorporadas.

Dentre os exemplos, Barbosa destaca a mudança de protocolo para intubação precoce (inicialmente indicada para todos, mas que hoje é conhecida por não ser adequada para pacientes mais idosos), e a incorporação da pronação, técnica de fisioterapia que deita o paciente de bruços para aumentar a oxigenação dos pulmões.

Há avanços também no campo dos medicamentos. Uma coalizão de pesquisa brasileira, por exemplo, concluiu que a dexametasona, um corticoide, reduz o tempo de intubação de pacientes em estado grave da doença.

Há no entanto, um longo caminho a percorrer. Segundo Barbosa, ainda sabemos muito pouco sobre a transmissão, o tratamento e possíveis sequelas da doença.

Mesmo as vacinas, um ponto aparentemente pacífico, são mais motivo de dúvidas do que de respostas. “Não sabemos se elas vão funcionar, e por quanto tempo”, disse.

Além disso, o tema dá sinais de que pode ser politizado como foram a hidroxicloroquina, a ivermectina e outros medicamentos defendidos sem base científica por grupos políticos e figuras públicas para o tratamento da doença.

“Não podemos politizar as vacinas. Isso vem acontecendo com o tratamento e está sendo péssimo”, disse Barbosa.

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