Os investimentos no combate ao câncer no Brasil, além de direcionados para o próprio tratamento, precisam fortalecer outras duas áreas: a promoção da saúde e a integralidade do cuidado.
Prevenir e combater os fatores de risco, assim como integrar a assistência aos pacientes, desde o diagnóstico até os cuidados paliativos, são medidas igualmente importantes quando postas na balança junto com as tecnologias de tratamento.
Isso porque podem diminuir a incidência da doença no país —somente em 2020, são esperados 625 mil novos casos—, além de assegurar o bem-estar do paciente e a agilidade nos cuidados.
O diagnóstico foi feito por especialistas nesta quarta-feira (23), durante a sétima edição do Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, realizada virtualmente em razão da pandemia.
Katia Curi, da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), afirma que uma Certificação de Boas Práticas em Atenção Oncológica está sendo estruturada. A ideia é dar o selo para operadoras de saúde que se mostrarem capazes de oferecer um cuidado integrado aos beneficiários com câncer.
A certificação está sendo construída com base em experiência recente da ANS. De abril de 2017 a abril de 2018, 41 operadoras e prestadoras de saúde participaram do Projeto OncoRede, que buscou implementar um modelo diferenciado de cuidado aos pacientes oncológicos, com foco na integralidade da assistência.
Entre os objetivos, estavam agilizar o diagnóstico, assegurar laudos integrados de exames, formar times multiprofissionais e estruturar cuidados paliativos.
Os resultados, avalia a agência, foram positivos. A análise dos dados de 15 participantes que fizeram reportes mensais mostra que o tempo médio entre diagnóstico e tratamento caiu de 42 dias, em abril de 2017, para 37 em 2018.
No mesmo período, o percentual de pacientes em tratamento com laudos completos subiu de 81,3% para 94,3%.
Como lição, Curi lista uma série de estruturas a serem fortalecidas. “É fundamental investir em navegação do cuidado, ações para diagnóstico e detecção precoce, padronização das informações e atuação cooperativa dos prestadores de saúde, como laboratórios e hospitais.”
Promoção da saúde
O esforço deve ser feito também na promoção da saúde, o que tem impacto direto na prevenção ao câncer.
Em maio de 2019, a área ganhou um departamento específico no Ministério da Saúde. O Departamento de Promoção da Saúde está ligado à Secretaria de Atenção Primária e é responsável por um guarda-chuva de medidas, como a gestão dos agentes comunitários de saúde, a Estratégia de Saúde da Família, a promoção da alimentação saudável e o Programa Saúde na Escola.
Olivia Lucena de Medeiros, que compõe o departamento na coordenação-geral de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo, chama a atenção para a importância do investimento em pesquisa e informação. Ela menciona o Guia Alimentar para a População Brasileira.
Na última semana, o documento ganhou destaque ao ser criticado pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Elogiado internacionalmente por cientistas, o guia orienta que o brasileiro priorize alimentos menos processados —e, portanto, mais in natura—, indo na contramão do interesse das indústrias de ultraprocessados.
“Ele é em si um instrumento de promoção da saúde, por promover uma alimentação saudável baseada em comida in natura ou minimamente processada”, explica Medeiros.
Ela lembra também que o primeiro Guia de Atividade Física para a População Brasileira está sendo preparado pela pasta. O material está em fase de consulta pública.
Paula Johns, diretora-geral da ONG ACT Promoção da Saúde, afirma que há medidas institucionais a serem tomadas para mitigar os fatores de risco de câncer. Uma delas seria a tributação.
“Temos uma situação tributária de distorções no Brasil, que aprofunda as desigualdades sociais, e há também distorções de privilégios e benefícios a setores que causam prejuízos grandes à saúde”, pontua.
A ACT lidera atualmente a campanha #tributosaudável, que quer pressionar parlamentares a incluírem o aumento do tributo das bebidas açucaradas, principalmente o refrigerante, na reforma tributária em pauta no Congresso.
O debate teve mediação do jornalista Iuri Pitta, da CNN Brasil. O Congresso Todos Juntos Contra o Câncer segue com programação até sexta-feira (25), e as inscrições ainda podem ser feitas pelo site oficial.
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