Descrição de chapéu Coronavírus

SP registra quarta semana de queda no número de casos e mortes por Covid-19

Comportamento da população no feriado prolongado pode ocasionar alta nos números; membro do Centro de Contingência do Coronavírus diz que órgão não descarta rever decisões de flexibilização

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São Paulo

O Estado de São Paulo registrou quatro semanas consecutivas com queda de mortes e internações provocadas pelo novo coronavírus, fato que foi comemorado pelo secretário Estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn. Para ele, a redução se deve ao êxito das medidas de enfrentamento à Covid-19 no estado.

O número de novas mortes caiu de 252 para 196 na média diária, o equivalente a 22%. Entre as internações, a redução foi de 17%, de 1.714 para 1.418 novos pacientes hospitalizados diariamente.

A tendência de descida nas médias diárias tem se mantido semanalmente. Entre 9 e 15 de agosto, a média era de 252 novas mortes; baixou para 230 entre os dias 16 a 22 do mesmo mês; depois para 222, de 23 a 29 de agosto; e, desde 30 de agosto até 5 de setembro, para 196, representando uma queda de 12% somente nesta última semana.

Entre as internações, o número de pacientes hospitalizados nesses mesmos intervalos passou, respectivamente, de 1.714 para 1.605; depois para 1.498, chegando a 1.418 nesta última semana.

Especialistas alertam para o risco de alta nos números se situações como as presenciadas neste feriado prolongado persistirem.

Conforme a Folha mostrou, as praias paulistas ficaram lotadas. A fiscalização foi insuficiente para conter as pessoas sem máscaras, faixas de areia lotadas e aglomerações.

Apesar do apelo dos prefeitos, do governador João Doria e dos médicos do Centro de Contingência do Coronavírus, parte da população tem ignorado as recomendações das autoridades sobre o uso de máscaras e distanciamento físico.

"A gente sabe que, à medida que a economia abre, nós teremos uma subida. Por isso, deve ser feita de forma equilibrada para que não gere uma situação caótica nos serviços de saúde e mortes desnecessárias", alerta o infectologista Renato Grinbaum, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

"O Brasileiro precisa se acostumar a seguir normas oficiais. Na Europa, as pessoas seguem e mesmo assim estão vivendo uma segunda onda. Se a gente não acredita nas autoridades, se as autoridades agem de forma caótica e nós pensarmos que estamos acima da lei, a probabilidade de termos problemas maiores que a Europa é muito grande. Nossos números não são favoráveis, não são bons", afirma.

Na capital paulista, a queda no número de mortes foi de 37%— de 72 baixou para 46 no mesmo intervalo. Entre internações, de 603 para 497— 17% no período. A redução nesta última semana foi de 19% em novas mortes e de 4% em internações.

Na Região Metropolitana, houve queda de 31% nos óbitos (de 119 para 83) e 20% quanto à média diária de pacientes internados (de 931 para 749). Já nesta última semana a queda foi de 25% em mortes e 2% em internações.

No interior e na Baixada Santista, a média diária de novas mortes foi reduzida de 130 para 114 (12%), e de 782 para 670 entre internações (14%). Na semana epidemiológica que terminou no sábado (5) teve crescimento de 2% em novas mortes e redução de 9% em internações.

O vice-presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e membro do Centro de Contingência do Coronavírus, Carlos Magno Fortaleza, afirma que no Brasil há uma dificuldade para aprender com os erros dos outros países.

Ele explica que nos EUA, em Julho, e na Espanha e Itália, no início de agosto, houve a ressurgência na Covid-19. Não chega a ser uma segunda onda, mas um novo crescimento na curva epidêmica que se seguiu imediatamente após a abertura de bares, restaurantes e casas noturnas.

"O tom de triunfalismo sobre a Covid-19 me preocupa bastante, porque leva as pessoas a cederem aos seus instintos gregários. Esse aumento de interação, aumenta a oportunidade de infecção. Assim, o crescimento no número de casos é palpável. Aliás, isso já está ocorrendo no Norte e Nordeste do Brasil", diz Fortaleza.

O médico não descarta a possibilidade de o comitê de saúde voltar atrás nas decisões que comprovadamente levaram ao aumento no número de casos e mortes pela doença. Segundo ele, as informações epidemiológicas desta e da próxima semana darão a medida do impacto da aglomeração nas praias e serão essenciais para as decisões que o comitê tomará a seguir.

"Para qualquer pessoa que esteja trabalhando com Covid-19 choca o que aconteceu nas praias neste feriado. A impressão é que a população assumiu que a Covid-19 não existe mais. Isso pode refletir num aumento de casos e numa reavaliação das aberturas de serviços no estado de São Paulo", alerta.

Havia uma ideia de que com o impacto das mortes nas famílias que tiveram em seu círculo social alguém que esteve grave ou morreu por Covid, teríamos um pouquinho mais de cuidado com aglomerações. Penso que talvez não tenhamos dado a mensagem de que a Covid se transmite principalmente por via aérea e aglomerações. Talvez, a população tenha entendido a mensagem de algumas flexibilizações como liberou geral, que não é o caso. É preciso entender que o que diminuíram foram as medidas restritivas sobre os serviços não essenciais", aponta Fortaleza.

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