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Uso diário de óculos pode ajudar a proteger contra coronavírus, diz estudo

Artigos científicos vêm sugerindo que os olhos são rota importante para a infecção pelo Sars-CoV-2

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São Paulo

Pessoas que fazem o uso diário de óculos por longos períodos estão menos expostas à infecção pelo novo coronavírus, segundo um estudo divulgado na quarta-feira (16) na revista científica JAMA Ophthalmology, publicada pela Associação Médica Americana (AMA).

No artigo, pesquisadores de instituições de saúde e pesquisa da China descrevem um estudo feito com um grupo de 276 pacientes hospitalizados com a Covid-19 na cidade de Suizhou, próxima a Wuhan, na província de Hubei, marco zero do coronavírus.

Dos internados, apenas 16 (5,8%) usavam óculos por mais de 8 horas por dia, todas pelo mesmo motivo: miopia. Na província de Hubei, cerca 31,5% das pessoas com a idade média dos participantes da pesquisa (42 a 57 anos) são míopes, segundo o estudo.

Para os cientistas, a menor proporção de usuários de óculos entre os internados com Covid-19 sugere que a proteção dos olhos, além das máscaras que resguardam nariz e boca, pode ajudar a evitar a infecção. Os pesquisadores afirmam que o estudo não é conclusivo e que mais pesquisas sobre o tema devem ser feitas.

"Desde o início do surto de Covid-19 em Wuhan, em dezembro de 2019, percebemos que poucos pacientes que usavam óculos deram entrada no hospital. Assim, coletamos informação sobre o uso de óculos de todos os pacientes com a doença como parte do histórico médico e usamos esses dados para examinar a relação entre o uso de óculos e a infecção da Covid-19", escrevem os autores no artigo.

O estudo contou com pacientes que ficaram internados entre janeiro e março deste ano, período em que as taxas de transmissão do Sars-CoV-2 na China ainda eram altas. Todos os participantes tiveram o diagnóstico de Covid-19 confirmado por teste do tipo PCR, que detecta a infecção na fase aguda.

"Nossa hipótese é que os óculos evitam que as pessoas toquem os olhos diretamente, prevenindo assim que o vírus seja transferido das mãos para os olhos", afirmam os cientistas no texto.

Um artigo publicado por pesquisadores da Finlândia em 2017 no periódico The Open Ophthalmology Journal mostrou que há abundância do receptor ECA2 nos olhos, o mesmo que o novo coronavírus usa para se conectar com a proteína em forma de espinho a iniciar a infecção nas células humanas.

Médicos de diversas partes do mundo têm relatado sintomas nos olhos de pacientes, como conjuntivite, que podem estar relacionados à infecção pelo Sars-CoV-2. Um estudo publicado em março, também na revista JAMA Ophthalmology, demosntrou a presença do vírus na conjuntiva (mucosa dos olhos) de infectados. Estimativas de cientistas apontam que até 12% dos doentes podem ter algum sintoma nos olhos.

Segundo Émerson Castro, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês, as manifestações causadas pela Covid-19 nos olhos são pouco frequentes e geralmente mais brandas do que as geradas por outras viroses que atingem o órgão. Há a possibilidade do aparecimento de uma lesão na retina, imperceptível para os pacientes e sem consequências graves, mas que pode também estar ligada ao Sars-CoV-2.

Há ainda indícios de que, a partir dos olhos, o vírus pode ser transportado para a mucosa nasal e dar início a uma infecção respiratória.

Em um comentário publicado também pela JAMA Ophthalmology sobre o artigo dos pesquisadores da China, a infectologista Lisa Maragakis, da Universidade Johns Hopkins, aponta algumas limitações do estudo, como o número pequeno de participantes e os dados sobre a presença da miopia na população geral, coletados décadas atrás e que podem estar desatualizados.

Mesmo assim, a infectologista admite que o uso dos óculos pode oferecer proteção às pessoas. "Embora os óculos não forneçam a mesma proteção que os óculos de segurança ou os escudos faciais, eles podem servir como uma barreira que reduz a inoculação do vírus, semelhante ao que as máscaras de tecido fazem", afirma Maragakis.

"O estudo é provocativo, e levanta a possibilidade de que o uso de uma proteção ocular pela população geral possa oferecer algum grau de proteção contra a Covid-19", completa.

Para Castro, do Sírio-Libanês, a hipótese levantada pelo artigo é plausível. "Em média, tocamos os olhos cerca de 10 vezes por hora, e os óculos podem funcionar como uma defesa contra esse toque", afirma.

O oftalmologista alerta para cuidados que devem ser tomados por quem usa os óculos para diminuir os riscos de contaminação. "Devemos evitar tocar os óculos o tempo todo, principalmente quando estivermos na rua e com as mãos não higienizadas", diz.

"Em locais públicos, os óculos estão expostos à contaminação, e depois trazemos para dentro de casa. Assim como limpamos o corpo com um banho, é importante lavá-los na torneira, com água na temperatura ambiente e sabão", sugere o médico.

O embaçamento das lentes causado pelas máscaras também não deve impedir o uso dos óculos na rua, segundo Castro. "Basta colocar um esparadrapo prendendo a máscara na região do nariz para evitar a saída do ar quente que embaça as lentes."

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