Descrição de chapéu Coronavírus

Brasil pode ter 180 mil mortes por Covid-19 até início de 2021

Estimativa de instituto americano leva em consideração cenário atual; com relaxamento de medidas sanitárias, número pode chegar a 182,3 mil

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São Paulo

O Brasil pode registrar 180 mil (de 172 mil a 192 mil, segundo margem de erro da estimativa) mortes por Covid-19 até o dia 1˚ de janeiro de 2021, mantendo as estratégias de distanciamento social e isolamento em vigor. Se as medidas de distanciamento forem flexibilizadas, podem ser contabilizadas até 182,3 mil mortes (de 172 mil a 196 mil, também segundo margem de erro). As previsões são do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME, na sigla em inglês) da Universidade de Washington.

O instituto é um dos maiores centros de pesquisa em doenças globais e métricas de saúde pública. Além do Brasil, o instituto traz previsões para outros 163 países, e também uma estimativa global. A última atualização no site é de 2 de outubro.

No sábado, o país atingiu a marca de 150 mil mortes por Covid-19 em cerca de sete meses. Se continuar nesse ritmo, a estimativa é de mais 30 mil mortes em menos de três meses, equivalente a uma média de 377,75 mortes diárias.

No último dia 28 de setembro, o mundo chegou a 1 milhão de mortes por Covid-19, em um momento em que vários países da Europa, América do Norte e Ásia voltam a ter aumento de casos.

A projeção do IHME é de o dobro de mortes no mundo até 1˚ de janeiro, com 2.342.648 óbitos. Esse número leva em consideração uma manutenção da situação atual. Caso o uso de máscaras seja universal, ou seja, caso 95% das pessoas usem máscaras sempre que saírem de casa, e as medidas de isolamento social sejam mantidas, o número cai 25%, contabilizando 1.751.378 óbitos.

Se houver relaxamento das medidas restritivas e afrouxamento do uso de máscaras —como uma suspensão dos decretos obrigatórios para uso do equipamento— a projeção sobe para 3,2 milhões de mortes.

A estimativa global do instituto é mais conservadora do que uma previsão feita por Alan Lopez, diretor de um grupo de pesquisa da Universidade de Melbourne, na Austrália, que estimou de 2,5 milhões a 3 milhões de óbitos até o final de 2020.

Lopez afirma que este foi um valor estimado tendo como base o fato de muitos dos casos e mortes não serem identificados pela falta de testes.

Ali Mokdad, professor do IHME e principal pesquisador do Grupo de Estratégias para Saúde Pública, disse à Folha que as estimativas são feitas segundo os dados diários de mortes e os índices de isolamento e uso de máscaras indicados por cada país ajustados.

“Para fazer o ajuste nós usamos os inquéritos sorológicos feitos pelos países. Em países como Espanha, Alemanha e Coreia do Sul, que fizeram inquéritos sorológicos na população, temos um ajuste muito mais próximo do que deve ser. Em outros locais, as estimativas são mais difíceis de fazer. Por isso, levamos também em conta a quantidade de testes —países que testam pouco costumam ter índices de mortalidade muito abaixo da realidade.”

Mokdad explica ainda que existe um excesso de óbitos não reportado que consiste em todas as mortes por outras causas, como doenças cardiovasculares e câncer, ocasionadas por uma menor assistência a essas outras doenças durante a pandemia. “Não temos esses dados para todos os países, apenas para aqueles com pesquisas feitas nesse sentido. Por isso, as mortes globais não contabilizam esses óbitos.”

Nos Estados Unidos, o uso das máscaras é mais politizado. O equipamento de proteção é rejeitado por 66% dos republicanos, segundo pesquisa da agência de comunicação Edelman realizado em agosto.

“Aqui nos EUA infelizmente temos vozes influentes que dizem não ao decreto [de uso de obrigatório de máscaras], que não devemos usar máscaras, e isso confunde ainda mais a população. O que observamos é que se esses decretos forem derrubados, vamos ter mais de 434 mil mortes nos Estados Unidos até 1˚ de janeiro.”

O país americano acumula mais de 213 mil mortes por Covid-19, o país com maior número absoluto de óbitos, seguido pelo Brasil.

No caso do Brasil, as projeções do IHME mostram valores também por unidade federativa. Em São Paulo, estado com maior número de mortes, a previsão é de 44.655 mortes até 1˚ de janeiro.

A capital do estado sustenta nas últimas três semanas uma média diária de mortes abaixo de 30. O número de casos, mortes e de internações nos últimos 28 dias, comparadas aos 28 dias anteriores, foi um dos critérios considerado na última sexta-feira (9) pelo governador João Doria (PSDB) para a passagem da fase amarela para a verde na capital.

Além da capital, as regiões de Campinas, Baixada Santista, Piracicaba, Sorocaba e Taubaté entraram na fase verde.

Embora o governo do estado defina as regras do Plano SP, os prefeitos dos municípios possuem autonomia para adotar critérios mais ou menos restritivos. Com isso, prefeituras podem orientar a população a não criar aglomerações, especialmente no feriado prolongado do dia 12 de outubro, mas podem flexibilizar o comércio e as medidas restritivas.

A reabertura parcial de atividades como cinemas e teatros e a ampliação do horário de funcionamento do comércio, porém, podem gerar mais aglomeração, que podem gerar os chamados “superespalhadores”, ou seja, indivíduos assintomáticos ou pré-sintomáticos que contaminam muitas outras pessoas.

Mokdad vê com preocupação a situação mundial, especialmente no Brasil, e faz um alerta para uma situação no país semelhante à do verão americano, quando centenas de jovens se aglomeraram em praias e parques e levaram ao repique dos casos.

“As pessoas estão cansadas do lockdown e se sentem frustradas. O nosso comportamento natural é querer sair às ruas, mas espero que o que ocorreu nos EUA e na Europa ocidental durante o verão sirva de exemplo. A transmissão do vírus não diminui nos meses mais quentes”, afirma. ​

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