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Meses de dados coletados ajudaram cientistas a traçar um quadro geral de um caso sintomático de coronavírus

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Katherine J. Wu Jonathan Corum
Nova York | The New York Times

Depois de passar meses minimizando a gravidade da pandemia de Covid-19, na manhã da sexta-feira passada (2) o presidente Trump anunciou que ele e a primeira-dama Melania Trump haviam recebido diagnóstico positivo para o coronavírus. Trump foi internado no Centro Médico Militar Nacional Walter Reed e apresentou sintomas de leves a moderados, incluindo febre, tosse e congestão. Ele também teria sofrido queda nos níveis de oxigênio no sangue pelo menos duas vezes, na sexta-feira e no sábado e teve alta na segunda (5).

Ainda é cedo para saber se sua doença vai seguir a trajetória típica da Covid ou quanto seus sintomas podem se agravar. E, com milhões de pessoas doentes em todo o mundo, não existe uma linha do tempo única capaz de abranger toda a gama de casos de Covid. Mas meses de dados coletados ajudaram cientistas a traçar um quadro geral de um caso sintomático de coronavírus.

Exposição e incubação

O tempo passado entre a exposição inicial ao vírus e o aparecimento dos sintomas é conhecido como o período de incubação. Esse período tipicamente dura quatro a cinco dias, mas pode se prolongar por até 14 dias ou possivelmente ainda mais tempo, em casos raros.

Ainda não está claro quem transmitiu o vírus a Trump, mas há muitos nomes potenciais, vários dos quais se reuniram com o presidente em 26 de setembro num evento na Casa Branca para a juíza Amy Coney Barrett ou que viajaram com ele para comícios de campanha apinhados de pessoas.

Sintomas e recuperação

A maioria das pessoas que adoece com Covid se recupera em cerca de duas semanas e não precisa ser hospitalizada. Mas os casos graves da doença podem levar muito mais tempo para ser superados. E um grupo crescente de pessoas que sobreviveram ao coronavírus relata sintomas e efeitos colaterais –incluindo fadiga, memória prejudicada e problemas cardíacos—que podem se arrastar por meses, na chamada Covid persistente.

As pessoas que desenvolvem casos graves de Covid tendem a ser hospitalizadas em até duas semanas após o aparecimento dos sintomas. Mas muitos dos fatores que levam certas pessoas a apresentar formas graves da doença ainda são um enigma científico. Os cientistas sabem que homens, pessoas mais velhas e obesos —todas elas descrições que se aplicam a Trump—correm risco mais alto de sofrer mais efeitos graves da Covid.

Carga viral

Após uma exposição inicial, o número de partículas do vírus no corpo de uma pessoa –ou seja, a carga viral— leva tempo para se acumular, à medida que o patógeno infiltra as celas e se copia repetidamente. Modelos matemáticos indicam que a carga viral tende a chegar ao pico antes de os sintomas se manifestarem, se é que isso ocorre, e começa a diminuir rapidamente nos dias seguintes aos primeiros sinais da doença.

Especialistas dizem que as pessoas provavelmente estão mais contagiosas quando sua carga viral está alta. Se for fato, a janela de contagiosidade máxima talvez dure apenas alguns dias, começando um ou dois dias antes de os sintomas aparecerem e e fechando-se em até uma semana depois disso.

Isso também significa que as pessoas podem estar altamente contagiosas durante a chamada etapa pré-sintomática, nos dias antes de desenvolverem sintomas. Em separado, portadores assintomáticos do coronavírus também já foram identificados muitas vezes como a fonte de eventos de transmissão, embora o comportamento do vírus no corpo dessas pessoas seja menos conhecido.

Se os sintomas de Trump apareceram na quarta-feira (30/9) ou quinta (1/10), ele pode ter exposto várias pessoas nos dias anteriores. É provável que ele ainda esteja infeccioso. Em uma série de tuítes na manhã da sexta, o presidente confirmou que ele e Melania Trump iam se isolar –anúncio que levou ao cancelamento imediato de vários eventos no período tenso que antecede a eleição de 3 de novembro. Mais tarde ele foi levado ao hospital Walter Reed. Trump recebeu um tratamento experimental à base de anticorpos desenvolvido pela empresa farmacêutica Regeneron, um antiviral chamado remdesivir e o esteróide dexametasona.

Os testes do vírus

A Casa Branca há meses vem testando pessoas que entram em contato estreito com Trump. Em muitos casos são testes rápidos que rendem resultados acionáveis em questão de minutos, sem a necessidade de enviar amostras a um laboratório. Essa rapidez e conveniência pode ter custos em termos de precisão: os testes rápidos nem sempre acusam cargas virais baixas ou infecções muito recentes, além de mais frequentemente darem negativos ou positivos falsos. Alguns especialistas argumentam que os positivos verdadeiros dados pelos testes rápidos podem coincidir com o período em que as pessoas estão mais contagiosas, embora essa ideia ainda não tenha sido confirmada.

Testes rápidos como o muito discutido teste Abbott ID Now e o BinaxNOW receberam aprovação emergencial do FDA apenas para uso em até sete dias após o início dos sintomas dos doentes. O uso desses testes em pessoas que não se sentem doentes é considerado divergente da indicação oficial, e os resultados negativos desses testes não podem excluir a possibilidade de infecção ou contagiosidade.

As pessoas que sabidamente estiveram expostas a uma pessoa infectada –como Trump—ou que já desenvolveram sintomas podem precisar fazer um teste mais sensível. Os especialistas frequentemente recomendam testes laboratoriais que utilizam uma técnica chamada PCR (reação em cadeia da polimerase), capaz de detectar quantidades muito pequenas do vírus, mas que geralmente leva várias horas para ser feito em aparelhos sofisticados e caros.

Pelo fato de o teste PCR ser mais sensível a cargas virais mais baixas, é possível que consiga detectar uma infecção por coronavírus em estágio muito inicial. Mas o teste diagnóstico também pode acusar partículas inofensivas do vírus que permanecem no corpo depois de os sintomas terem se resolvido e possivelmente depois de a pessoa ter deixado de ser contagiosa.

Os anticorpos são produzidos pelo corpo em resposta a um patógeno invasor, começando cerca de uma semana após o contágio, e podem persistir no sangue durante meses. Outro tipo de teste, o chamado teste sorológico, procura esses anticorpos, em lugar do vírus. Os especialistas não consideram os testes de anticorpos uma maneira confiável de determinar se uma pessoa está com o coronavírus.

Como prevenir o contágio

Como o vírus pode ser transmitido por pessoas que se sentem saudáveis, os especialistas enfatizam a importância de utilizar múltiplas medidas de saúde pública para combater sua propagação. Embora nenhuma tática isolada confira proteção total, a combinação de ações como uso de mácara, distanciamento físico, lavagem das mãos e evitar espaços apinhados reduz o risco rapidamente.

Máscaras que cobrem o nariz e a boca podem bloquear boa parte da transmissão e parecem ser especialmente eficazes em bloquear o vírus que sai de um indivíduo infectado. Mas há evidências de que as máscaras também podem evitar a entrada de uma porcentagem dos patógenos recebidos por quem as utiliza, embora não tornem a pessoa imune ao contágio.

Trump tem evitado constantemente usar máscara durante boa parte da pandemia. Na noite da terça-feira (29/9), durante o debate presidencial, ele zombou do ex-vice-presidente Joe Biden por sua adesão estrita ao uso de máscara e ao distanciamento social.

As pessoas infectadas também podem reduzir a chance de transmitirem o vírus a outras, isolando-se por pelo menos dez dias após a manifestação dos sintomas, desde que continuem a melhorar. Pessoas que estiveram expostas a alguém com um caso conhecido do coronavírus devem fazer quarentena por duas semanas e fazer um teste. Até 40% dos infectados podem não apresentar sintomas, mas algumas estimativas indicam uma porcentagem ainda mais alta.

Com base em dados colhidos de outros vírus respiratórios, pesquisadores acham que é provável que haja uma dose infecciosa mínima do coronavírus, ou seja, um número mínimo de partículas do vírus que é necessário para criar uma infecção. Esse número provavelmente varia de uma pessoa a outra, e ainda não há dados robustos sobre qual pode ser uma dose típica.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) destaca que pessoas com Covid provavelmente não podem continuar a transmitir a infecção por mais que dez ou 20 dias após o início de seus sintomas.

Fontes: Centers for Disease Control and Prevention; New England Journal of Medicine; Susan Butler-Wu, University of Southern California; Daniel Larremore, University of Colorado, Boulder; Brandon Ogbunu, Yale University; Saskia Popescu, George Mason University.

Tradução de Clara Allain

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