Descrição de chapéu Coronavírus

Deixar o coronavírus circular livremente é antiético, afirma OMS

Organização diz que ainda há muito desconhecimento sobre a Covid-19, e estimular o contágio levará a a mortes desnecessárias

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Bruxelas

“Deixar que um vírus que não conhecemos bem circule livremente é antiético. Não é uma opção”, afirmou nesta segunda o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A declaração foi feita uma semana depois da publicação de uma carta aberta escrita por cientistas americanos e europeus defendendo que os jovens levassem “vida normal” para aumentar a circulação do vírus e acelerar a obtenção da imunidade de rebanho (aquela na qual a porcentagem de pessoas com anticorpos é grande o suficiente para bloquear a transmissão da doença).

"Tem havido alguma discussão recentemente sobre o conceito de alcançar a chamada imunidade de rebanho, permitindo que o vírus se espalhe. Nunca na história da saúde pública a imunidade coletiva foi usada como estratégia para responder a um surto, muito menos a uma pandemia", afirmou o diretor.

Segundo Ghebreyesus, “a escolha não pode ser entre deixar o vírus circular ou fazer confinamentos. Há muitas ferramentas já conhecidas e disponíveis para evitar a transmissão da doença”.

Sem mencionar especificamente os cientistas da chamada Declaração do Grande Barrington, que defende que os idosos e doentes sejam protegidos e os jovens voltem a circular, o diretor da OMS citou várias razões pelas quais discorda dessa estratégia.

Homem de óculos, bigode, cabelo curto meio grisalho, terno cinza e gravata
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na sede da organização em Genebra - Fabrice Coffrini - 3.jul.2020/via Reuters

A primeira delas é a de que há um número ainda muito grande de pessoas suscetíveis à Covid-19 no mundo. A porcentagem de quem já contraiu o vírus varia muito de local para local, mas na Suécia, por exemplo, um país em que não houve confinamento, ela é de 10,8%, de acordo com os números mais recentes.

Em Estocolmo, maior cidade do país, são 16% os que já tiveram contato com o vírus.

Mesmo que a porcentagem cresça, os cientistas ainda não sabem por quanto tempo dura a imunidade, e pode ser que mesmo os que já desenvolveram anticorpos possam adoecer de novo, afirmou o diretor da OMS.

Também não se pode traçar estratégias levando em conta apenas as probabilidades maiores ou menores de que a doença leve à morte, porque já se sabe que a infecção pelo coronavírus pode deixar efeitos de longo prazo da doença —isso vem sendo chamado de Covid-19 longa.

"Sabemos que há casos de sequelas no pulmão, no coração e no cérebro que ainda estamos estudando, e por isso precisamos impedir não só mais mortes mas também mais infecções", afirmou a líder técnica Maria von Kherkove.

Além disso, disse Ghebreyesus, ainda que os mais velhos e doentes crônicos tenham mais risco de morrer, pessoas de todas as idades perderam a vida por causa do coronavírus.

“Deixar o vírus circular e mais gente adoecer significa aumentar desnecessariamente o sofrimento e as mortes”, disse ele.

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Ele disse compreeder "a frustração que muitas pessoas, comunidades e governos estão sentindo à medida que a pandemia se arrasta e os casos aumentam novamente", mas afirmou que "não existem atalhos nem balas de prata".

No Reino Unido, David Nabarro, representante da OMS para a Covid-19 no país, disse que a organização "não defende os confinamentos como forma principal de controlar o vírus”.

“A única ocasião em que um confinamento se justifica é para ganhar tempo para reorganizar, reagrupar, reequilibrar os recursos, proteger os profissionais de saúde que estão exaustos. Mas, em geral, preferimos não fazer isso”, afirmou o médico especialista em saúde pública.

Brasil

O diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, afirmou que o fato de que os números de novos casos no Brasil estarem caindo deve ser comemorado, mas não indicam que a doença esteja vencida no país.

“O Brasil é um país muito vasto e diverso, e pode haver locais em que as infecções estejam crescendo, embora na média os números estejam caindo”, disse ele.

Ryan atribuiu a melhora da doença no Brasil aos esforços dos profissionais de saúde e das próprias comunidades, e afirmou que os governos devem continuar monitorando de perto os casos para impedir ressurgências.

“Uma coisa que aprendemos com o que está acontecendo agora na Europa é que conter a transmissão não impede que ela volte com força”, afirmou Ryan.

O diretor afirmou que o número de hospitalizações estão crescendo na Europa, e que isso preocupa porque a eficiência dos tratamentos cai quando o número de doentes aumenta, pois cresce o risco de falta de equipamento ou de profissionais, entre outros problemas.

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