Nova diretoria da Anvisa reúne militar bolsonarista, apadrinhado do centrão e defensora da cloroquina

Novos integrantes vão assumir em momento crítico para a agência, com discussões sobre as vacinas contra a Covid-19

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Brasília

A lista dos novos diretores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reúne um militar muito próximo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), um apadrinhado do bloco político centrão e uma médica defensora do uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19.

Na terça-feira (20), o plenário do Senado aprovou os nomes de quatro novos membros para a agência, dos quais três são diretores e um é diretor-presidente. Todos poderão assumir após a publicação de seus nomes no Diário Oficial da União. Ainda não há previsão da oficialização.

Os novos diretores vão assumir em um momento crítico para a agência, com discussões e avaliações das vacinas contra a Covid-19, que precisam receber seu aval. O tema se tornou alvo de disputa política entre o presidente Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O presidente Jair Bolsonaro esvaziou na quarta-feira (21) o acordo anunciado na véspera por seu ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, para a compra de 46 milhões de doses da vacina contra a Covid produzida pela chinesa Sinovac e que será produzida pelo Instituto do Butantan, ligado ao governo paulista.

A liberação das vacinas não é fruto de decisão colegiada dos diretores, mas, sim, resultado de um processo técnico. No entanto, a diretora responsável pelo assunto, Alessandra Soares, terá seu mandato encerrado no fim do ano, e um novo sorteio de diretorias pode direcionar um dos novos aprovados para cuidar do tema.

O nome mais conhecido dentre os integrantes é o do diretor-presidente da Anvisa, o contra-almirante da Marinha Antonio Barra Torres. O militar já vinha atuando como diretor na agência e desde janeiro respondia como diretor-substituto.

Barra Torres é formado em medicina pela Fundação Técnico-Educacional Souza Marques, no Rio de Janeiro. Fez residência em cirurgia vascular e pós-graduação na área de gestão. Passou 32 anos na carreira militar e chegou ao terceiro posto da hierarquia da Marinha.

O militar é considerado muito próximo ao presidente Jair Bolsonaro. Em março, Barra Torres apareceu sem máscaras ao lado de Bolsonaro em uma manifestação a favor do presidente, contrariando a orientação da equipe de saúde do governo, que pregava distanciamento social.

Jair Bolsonaro conversa com o diretor da Anvisa, Antonio Barra Torres - Reuters

O militar já declarou que é natural que o presidente indique para a presidência da agência alguém próximo a ele, assim como fizeram mandatários anteriores. Durante a sabatina no Senado, o militar foi questionado sobre as pressões envolvendo vacinas. “Manter a discussão fora da ideologia é fundamental, e é exatamente isso que nós temos feito”, ele afirmou.

Outro diretor aprovado, Alex Machado Campos mantém bom trânsito no campo político, principalmente por conta de sua atuação como servidor efetivo da Câmara dos Deputados. Campos é apontado como uma indicação do chamado centrão, atualmente alinhado ao governo Bolsonaro.

“Sou suspeito para falar sobre ele [Alex Machado Campos], porque é meu amigo e uma das pessoas que eu mais admiro, porque tudo o que ele fez foi com mérito próprio”, afirma o deputado André de Paula (PSD-PE). O parlamentar afirma que não teve ligação com a indicação, mas apenas fez a ponte com alguns senadores de seu partido.

Fontes confirmaram à Folha, no entanto, que o nome de Campos foi levado ao presidente Bolsonaro por mais de um parlamentar pertencente ao bloco.

Campos é formado em direito. Além de sua atuação na Câmara, ele foi chefe de gabinete do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, onde teve boa interlocução com a Anvisa.

Também diretora, Cristiane Rose Jourdan Gomes é médica especialista em endocrinologia e graduada em direito. Até agosto deste ano, a médica foi diretora do Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Ela também detém experiência relacionada a planos de saúde.

Sua indicação foi a última feita por Bolsonaro, praticamente em cima da hora. Inicialmente, o presidente havia indicado Marcus Aurélio Miranda de Araújo, mas o nome foi retirado no fim de setembro. Nos bastidores da agência, comenta-se que se tratou de uma represália. Como diretor substituto da Anvisa, cargo que ocupa atualmente, Araújo votou contra a prorrogação do prazo para o início do banimento do agrotóxico paraquate, uma demanda do agronegócio.

Gomes tem uma linha de pensamento mais parecida com a do presidente Jair Bolsonaro. Em suas redes sociais, ela tem publicado links para artigos em defesa do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.

Procurada pela Folha, Gomes afirmou que, naquele momento, não se sentia “confortável em conversar sobre questões relacionadas à nova composição da diretoria da Anvisa antes de ser empossada oficialmente no cargo”.

A nova diretora também publicou artigos e outros conteúdos com críticas à imprensa, ao movimento Antifas e ao Supremo Tribunal Federal.

A única servidora de carreira da Anvisa aprovada como diretora é Meiruze Freitas, formada em farmácia com especialização em tecnologia farmacêutica.

Meiruze atua na Anvisa desde março de 2007, período em que atuou em diferentes áreas da agência e liderou projetos. A servidora já foi diretora-adjunta e, desde abril deste ano, atua como diretora substituta.

“O padrinho dela é a carreira dela”, disse o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que é líder do governo no Congresso e foi relator da indicação na Comissão de Assuntos Sociais.​

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