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Doria decidirá na segunda-feira, após a eleição municipal, se haverá recuo no plano SP

Com salto de 22% nas internações por Covid em SP, conselheiros do governador pedem para endurecer quarentena

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São Paulo

Com uma alta na taxa de transmissão do coronavírus e nas internações no estado de São Paulo, o governador João Doria (PSDB) disse que poderá retomar as restrições de medidas de isolamento social.

“Infelizmente está acontecendo em todo o Brasil”, disse Doria, sobre o novo crescimento de infecções em entrevista à Bloomberg por vídeo na quarta-feira. “Temos que reconhecer que as pessoas estão cansadas, exaustas de isolamento, distanciamento, de usar máscaras.”

"O plano São Paulo avalia regiões para evolução da infecção ou sua involução, a evolução ou involução de óbitos e também o número de leitos de UTI e primários. Isso permite uma avaliação diária”, disse Doria. “Se tivermos em São Paulo que regredir para garantir a vida e a saúde das pessoas, nós o faremos.”

Parte dos técnicos do centro de contingência da Covid-19s defendia que todo o estado voltasse já ao estágio amarelo, que permite a abertura de estabelecimentos mas limita o horário.

Após reunião do governador com o grupo e todo o secretariado nesta quarta (26), ficou decidido que haverá uma nova reclassificação de todas as regiões do estado, mas as mudanças só serão anunciadas na segunda (30), no dia seguinte ao segundo turno das eleições municipais.

João Gabbardo, coordenador-executivo do centro de contingência, sinalizou que não haverá uma medida única para o estado todo. "Nós não concordamos que o estado tenha que ser colocado na mesma fase, que se dê o mesmo tratamento para cenários epidemiológicos diferentes. O Plano São Paulo se destacou justamente por isso, dar diferentes tratamentos epidemiológicos para cenários diferentes", disse ele, em entrevista coletiva nesta quarta.

O volume de pessoas internadas com Covid em UTIs no estado cresceu 22%, comparando esta quarta (25) com duas semanas atrás, segundo dados da Secretaria de Saúde de São Paulo.

O aumento foi ainda mais forte se considerada apenas a Grande São Paulo (30%). São 2.400 pessoas internadas em UTIs nessa região (o dado do governo considera média dos últimos sete dias).

A pasta informou que o problema na base do Ministério da Saúde no começo do mês, quando dados de novos casos e mortes não foram inseridos, não prejudicou a informação sobre internações.

Hoje, 76% dos municípios paulistas, inclusive a capital, estão na fase verde do Plano SP, que prevê reabertura controlada de quase todas as atividades, inclusive cinemas e teatros.

Em 16 das 22 subregiões do estado, o índice de contágio (RT), que aponta quantas pessoas serão contaminadas por um infectado e ajuda a estimar a velocidade de transmissão da doença, está acima de 1. O número deve estar sempre abaixo 1 para que a tendência de queda de casos se mantenha.

Nas regiões paulistas de Registro e Presidente Prudente, o RT está em 2,1 e 2,04, respectivamente. Na capital, em 1,55.

Os dados são do projeto InfoTracker, da USP e da Unesp, que monitora a pandemia no estado desde seu início. A plataforma fez um ajuste dos dias que ficaram sem atualização pelo Ministério da Saúde para mitigar o problema da notificação tardia.

Segundo o epidemiologista Paulo Menezes, professor do departamento de saúde preventiva da USP e que integra o centro de contingência, a situação é muito preocupante e se agravou na última semana.

“Houve um aumento importante da transmissão do vírus e isso agora reflete no número de casos e de internações. Óbitos levam mais tempo para aparecer.”

Para Menezes, apesar de o estado estar com taxas de ocupação de UTI inferiores a 50%, é fundamental que se interrompa a transmissão do vírus nesse momento.

“A sociedade, especialmente os adultos jovens, entendeu que o [estágio] verde é sinal verde para poder fazer o que quiser, ir a bares, baladas, festas familiares. E o reflexo foi rápido”, diz Menezes.

Na capital, das 811 pessoas internadas em hospitais municipais e contratados pela prefeitura até terça (24), 451 estavam em terapia intensiva —240, em ventilação mecânica. A taxa de ocupação de UTIs está em 47%.

“O aumento de casos começa a 'dar as caras' também no interior paulista. A impressão é que estão se espalhando da capital e Grande SP para o resto do estado”, afirma Wallace Casaca, professor da Unesp e coordenador do InfoTracker.

Segundo Casaca, esse aumento do contágio pode ser reflexo da combinação de três fatores: uma flexibilização “muito rápida” dos planos de retomada econômica, o não cumprimento das medidas básicas sanitárias por parte da população, e o período eleitoral, que acabou levando a aglomerações.

Menezes também aposta no relaxamento da população em relação à quarentena e às campanhas eleitorais, especialmente para vereadores. "Envolveram muito contato direto, muitas pessoas aglomeradas.”

No Brasil, todas as regiões estão com taxas de contágio do coronavírus acima de 1. No país como um todo, o RT está em 1,54 e já apresenta aumento em relação à taxa de 1,30 projetada pelo Imperial College de Londres, que levou em conta dados epidemiológicos até o dia 16.

A falta de testagem massiva, em especial para tentar identificar os casos suspeitos, também é vista como outro fator importante para o aumento de casos.

“Se eu não testo, incluindo não testar os casos mais leves, não consigo determinar os focos da doença. E essas pessoas transmitem para outras”, diz Casaca.

Segundo ele, muitas prefeituras têm optado em não testar os casos mais leves, preferindo só orientar essas pessoas a se manter em quarentena.

Para Suzana Lobo, presidente da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), o aumento de casos e internações também causa outra preocupação: o esgotamento dos profissionais de saúde.

“Está todo mundo querendo sair de férias. O pessoal não descansou e tudo começa a voltar de novo. Na primeira onda, estava todo mundo pronto para a guerra. Agora, está todo mundo meio combalido, não sabemos de onde vamos tirar forças, mas vamos ter que tirar.”

Em nota, o CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) do governo paulista diz que desconhece o denominador e a metodologia utilizados pelo Infotracker para cálculo de RT e, portanto, não comentaria o dado.

O CVE argumenta que a RT não é um indicador epidemiológico capaz de refletir isoladamente a circulação do coronavírus, nem o impacto efetivo da pandemia no estado, uma vez que o monitoramento e análise devem ser multifatoriais.

“Isso é feito no estado por meio do Plano de São Paulo, com sete indicadores diferentes, combinados de forma coerente para análise da capacidade de resposta do sistema de saúde e a evolução da pandemia e, consequentemente, classificação conforme as fases do plano.”

Lembra que o próprio governo de São Paulo já noticiou, com total transparência, o aumento de internações de Covid-19, e segue monitorando a rede de saúde para tomada de decisão com base na ciência e na saúde.

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