É enganoso o tuíte segundo o qual um laudo do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo havia demonstrado que a morte de um dos voluntários que participava dos testes da Coronavac, uma das vacinas contra a Covid-19, não foi decorrência de um suicídio. O laudo deixa evidente que a pessoa não morreu por conta do imunizante.
A postagem, verificada pelo Comprova, descartava a possibilidade de suicídio ao enfatizar que o laudo apontava morte por “intoxicação exógena”, em uma tentativa de atribuir a morte à vacina. Esse tipo de intoxicação, porém, é compatível com a possibilidade de suicídio e não tem nenhuma relação com a aplicação da vacina.
A hipótese de suicídio foi levantada pela Polícia Civil desde o início do caso, por conta de indícios coletados no local onde o corpo foi encontrado. O exame do IML detectou a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue da vítima, como confirmou ao Comprova a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Também ouvidos pela reportagem, o médico perito legista José Mário de Lima Júnior e o médico e diretor científico da ABMLPM (Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas), Jozefran Berto Freire, esclarecem que esse resultado apenas determina o que causou a morte de uma pessoa. Somente a investigação da Polícia Civil, que considera outros elementos da ocorrência, pode indicar, de fato, se uma intoxicação química ocorreu por tentativa suicida, acidente ou homicídio.
O Comprova também tentou contato, por e-mail, com o blogueiro Oswaldo Eustáquio, que publicou o conteúdo verificado, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Verificação
Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal ou as eleições municipais de 2020. Quando a publicação envolve tratamentos e vacinas contra o novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais importante, já que a informação equivocada pode levar pessoas a não se protegerem ou a adotarem tratamentos sem comprovação científica. O conteúdo verificado pelo Comprova teve 29,4 mil interações no Twitter e 2,8 mil interações no Facebook.
À medida em que avançam os testes de eficácia e segurança de vacinas contra o novo coronavírus, peças de desinformação têm tido amplo alcance, principalmente após a suspensão temporária de testes pela Anvisa, prática comum no processo de testagem de imunizantes.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que é retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
O Comprova fez esta verificação baseado em dados oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis no dia 18 de novembro de 2020.
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