Tratamento precoce com hidroxicloroquina não evitou mortes em Porto Feliz

Post no Facebook engana ao desconsiderar que cidade no interior paulista registrou 16 óbitos desde agosto

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São Paulo

São falsas as informações divulgadas em um post no Facebook sobre a situação da Covid-19 em Porto Feliz, no interior de São Paulo. A cidade não é referência no combate à doença por ter tratado “precocemente” toda a população com hidroxicloroquina.

De fato, como verificou o Comprova, o medicamento passou a ser adotado pela cidade em abril, junto com outros remédios também sem eficácia comprovada contra a doença causada pelo novo coronavírus, como a ivermectina. No entanto, para a comunidade científica, não existe tratamento precoce para a enfermidade e não há, ainda, um tratamento com eficácia comprovada. Tampouco é verdade que a cidade tenha tratado 100% da população com o medicamento, como afirma o post.

Caixinha de hidroxicloroquina vista do fundo, onde lê-se "sulfato de hidroxicloroquina". A caixa é azul, branca e com uma tarja vermelha e uma amarela na parte da frente. Ela está sobre uma mesa branca e, ao fundo, aparece desfocada uma prateleira com remédios variados
Embalagem de hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a Covid-19 - Dirceu Portugal/Fotoarena/Agência O Globo

É falsa, também, a informação de que o município não tenha registrado nenhum óbito da doença após o “tratamento precoce” ser adotado. A cidade só começou a divulgar boletins em agosto. No dia 1º daquele mês, a cidade já tinha dez óbitos. Desde então, mais seis pessoas morreram de Covid-19 em Porto Feliz, totalizando 16 vítimas até esta quinta-feira (26).

A única informação verdadeira do post é sobre a reeleição do prefeito, o médico Dr. Cássio (PTB). Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele recebeu 92,1% dos votos no dia 15 de novembro deste ano.

Para todos?

A cidade não tratou toda a população com hidroxicloroquina. No mês de junho, segundo a reportagem da Agência Pública, o prefeito Dr. Cássio disse, numa entrevista via live ao jornalista Alexandre Garcia, que havia distribuído 1.500 kits à população e que nenhuma das pessoas que fez uso deles morreu ou foi intubada. Essa informação também foi fornecida pela prefeitura a agências de checagem em julho.

Mas nem todo mundo recebeu ou mesmo fez uso dos medicamentos –a população estimada da cidade, em 2020, é de 53,4 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O Comprova conversou com três moradores da cidade que comentaram no post de uma página do Facebook sobre o cancelamento de um show no dia 21 de novembro, justamente por conta da pandemia.

Procurada, a coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Porto Feliz respondeu que a informação de que “toda a população fez uso precoce da cloroquina para o tratamento da Covid-19 é fake”. A coordenadoria também tratou como falsa a alegação “sobre a cidade não ter tido nenhuma morte”.

Verificação

Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal, à pandemia ou às eleições municipais de 2020. A publicação investigada é falsa por afirmar não haver nenhuma morte pela Covid-19 na cidade de Porto Feliz depois de a população ter sido tratada precocemente por hidroxicloroquina. Nesse sentido, a verificação se torna fundamental e ajuda pessoas a não se exporem a medicações sem eficácia comprovada.

O conteúdo verificado pelo Comprova teve 2,1 mil interações no Facebook, na página Bolsonaro Presidente 2022. Na publicação, há uma foto do prefeito recém-eleito, Dr. Cássio Prado, com a mensagem de que ele é “ignorado pela grande mídia”. Na imagem há uma marca d’água do lado direito com o texto "Capitão Assumção, deputado estadual do Espírito Santo". O texto apresenta a cidade de Porto Feliz como referência no combate à Covid-19 com tratamento precoce da hidroxicloroquina. Outras páginas no Facebook fazem essa mesma afirmação –a que teve mais interações foi publicada no dia 26 com mais de mil compartilhamentos.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

A investigação desse conteúdo foi feita por Rádio Noroeste e Correio e publicada na sexta-feira (27) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, UOL, GZH, Estadão, Poder360 e NSC.

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