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Sem mascarar a doença, documentário passa mensagem otimista sobre depressão

'Existir e Resistir', contudo, sai prejudicado esteticamente pela tradução simultânea e excesso de imagens de drone

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São Paulo

"Você é diabética? Como pode uma pessoa que tem tudo na vida ser diabética?”. A frase absurda, e que não costuma ser dita, é usada de maneira certeira pela psiquiatra Luciana Sarin em um trecho de “Existir e Resistir: O Desafio da Depressão” para exemplificar o estigma de que pessoas depressivas podem sofrer.

O documentário, que estreia nesta quarta-feira (9) no Discovery Channel, apresenta a jornada de seis pacientes latino-americanos que se recuperaram da depressão e retomaram suas atividades e conta com entrevistas de outros três médicos, além de Sarin.

A narração do jornalista e colunista da Folha Zeca Camargo confere familiaridade à produção, o que deve facilitar a comunicação de uma mensagem otimista que claramente conduz o argumento do filme em seus cerca de 50 minutos de duração.

Zeca Camargo em estúdio; colunista da Folha narra o documentário "Existir e Resistir", sobre depressão; o jornalista é grisalho, tem cavanhaque, e está sentado de fone, em frente a um microfone profissional
Zeca Camargo em estúdio; colunista da Folha narra o documentário "Existir e Resistir", sobre depressão - Divulgação

No Brasil, existem 11,5 milhões de pessoas com diagnóstico de depressão —isso nos torna o quinto país no mundo em número de pacientes da doença, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Sendo assim, falar abertamente sobre o tema é sempre benéfico. No caso de “Existir e Resistir”, dirigido por Rodrigo Astiz e patrocinado pela Janssen Brasil, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, a conversa passa muito por dados básicos e já conhecidos da depressão, abrindo mão de aprofundar aspectos menos divulgados do tema.

Uma boa surpresa fica por conta do depoimento de Rodrigo Martins Leite, psiquiatra sediado em São Paulo, que surge como personagem de ambos os elencos: ele é tanto o médico que auxilia pessoas diagnosticadas quanto paciente em remissão.

Sua participação ajuda a humanizar a doença e a mostrar que esse é um mal a que qualquer indivíduo está sujeito. Outro ponto alto é a história de Mauro, que personifica a resistência que homens podem ter a admitir que estão com um problema e que precisam de ajuda.

Mauro conta como conseguiu tratar o problema que o levou inclusive a uma tentativa de suicídio. Segundo dados da OMS, 20% das pessoas com depressão têm pensamentos suicidas. Um terço sofre de depressão resistente ao tratamento, a chamada DRT, quando o paciente já tentou dois ou mais tratamentos e não obteve melhora do quadro.

A ideia de retratar pacientes de perfis diversos e também da Colômbia e do México é boa, porque esclarece que se trata de um problema que não tem endereço nem identidade.

No entanto, a opção pela tradução simultânea no lugar das legendas, ainda que mais democrática, acaba revestindo o documentário de uma atmosfera incômoda comum às produções da TV a cabo. A opção por imagens de vias públicas feitas via drone, por sua vez, se mostra irrelevante e cansativa.

Fator importante da psicanálise, o ato de nomear as coisas é mencionado como ponto principal do tratamento por uma das pacientes apresentadas, que diz que foi só quando chamou sua depressão pelo nome correto que pode, enfim, progredir.

E é justamente porque cita nominalmente a doença, sem maquiá-la ou aos seus sintomas, que “Existir e Resistir: O Desafio da Depressão” vale a pena ser visto, especialmente por quem ainda busca informações iniciais sobre o tema, ou por quem quer se inspirar em histórias de superação para perseguir sua própria cura.

Existir e Resistir: O Desafio da Depressão

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