Descrição de chapéu Coronavírus

Imagens de sapatos destacam ausência deixada pelas 200 mil vítimas de Covid-19 no Brasil

Mais de cem familiares enviaram foto de calçados para representar a perda de parente ou amigo

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São Paulo

Em homenagem às 200 mil vítimas do coronavírus no Brasil, marco atingido nesta quinta-feira (7), a Folha preparou um especial com mais de cem fotos de pares de sapatos que representam a ausência dessas pessoas para seus familiares.

Jovens, profissionais de saúde, donas de casa, jornalistas, artistas, aposentados, políticos, professores estão entre as vítimas da doença. Além das fotografias, há um breve obituário de cada pessoa.

A TV Folha realizou, em agosto, um vídeo dedicado às 100 mil mortes do país e também o especial multimídia Aqueles que perdemos, que reúne obituários desde abril.

Montagem com sapatos de pessoas mortas pela Covid no Brasil em 2020 - Arquivo pessoal

Veja algumas das histórias abaixo:

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SALMITO DE ALMEIDA NETO (1952 - 2020) - Arquivo pessoal

SALMITO DE ALMEIDA NETO, 68, empresário, Fortaleza (CE)

Salmito era empresário, dono de uma padaria. Como trabalhava no comércio, não cumpriu o isolamento no auge da primeira onda da Covid-19 e acabou se contaminando. Foram quase dois meses lutando pela vida, sempre ao som de Luiz Gonzaga no radinho de pilha e assistindo à missa diariamente, como era costume em casa.

Mesmo sedado na UTI, tinha o radinho ao seu lado, gentileza da equipe de saúde. Ao morrer, a música que tocava era “A vida do viajante”. Deixou a esposa, três filhos e seis netos. O par de sapatos marrons era o seu preferido.

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MARIA JOSÉ DA SILVA SOUZA (1961-2020) - Arquivo pessoal

MARIA JOSÉ DA S. SOUZA, 58, faxineira, São Paulo (SP)

Maria José foi diarista durante 20 anos. Nascida em Guaporema, no interior do Paraná, veio para São Paulo depois de se casar. Logo no início da pandemia, foi afastada do trabalho por fazer parte do grupo de risco —era diabética e tinha hipertensão—, mas continuou recebendo. A sapatilha era sua companheira na hora de ir à igreja. Evangélica, era muito religiosa.

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BENEDITO TADEU GIANNINI (1949-2020) - Arquivo pessoal

BENEDITO TADEU GIANNINI, 71, marceneiro, Londrina (PR)

Corintiano, Benedito era apaixonado por futebol e, mesmo aos 71 anos, não deixava de praticar musculação. Religioso, tinha orgulho de ter lido a Bíblia inteira e relia seus trechos favoritos diariamente. Morreu quatro meses após a esposa, Neusa Maria, que foi vítima de um câncer. Em 51 anos de casamento, tiveram quatro filhos, seis netos e três bisnetos.

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DELBI DA SILVEIRA (1960-2020) - Arquivo pessoal

DELBI DA SILVEIRA, 59, agricultor, Canoinhas (SC)

Delbi morreu um mês antes de completar 60 anos, quando iria se aposentar. Nascido no interior de Santa Catarina, em Rio D’Areia Santa Emídia, viveu toda a vida na mesma cidade. Casado, construiu a casa onde criou seus seis filhos. Vivia da lavoura e era generoso com os ajudantes. Seu lema era que nada cai do céu e, portanto, era necessário correr atrás dos sonhos.

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CÉSAR AUGUSTO VISCONTI (1976-2020) - Arquivo pessoal

CÉSAR AUGUSTO VISCONTI, 43, piloto e empresário, São Bernardo do Campo (SP)

César era apaixonado desde criança por carros. Pilotava e dava aulas em Interlagos. Solidário e da paz, como diz sua família, morreu alguns dias antes de completar 44 anos. Do hospital, mandou mensagem à ex-mulher pedindo para ser cremado e ter as cinzas jogadas no Autódromo de Interlagos.

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ADIPE MIGUEL JÚNIOR (1951-2020) - Arquivo pessoal

ADIPE MIGUEL JÚNIOR, 69, engenheiro, São Paulo (SP)

Adipe tinha combinado com o filho, Adipe Neto, que, em seu velório, ele ficaria ao lado do caixão para contar quem estava ali. A Covid impediu até que o filho se despedisse do pai. Membro da comunidade metodista, o engenheiro deixou a profissão para editar publicações religiosas. Os sapatos eram do filho, mas o pai os confiscou porque achava que lhe deixava mais moderno.

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APARECIDA HELENA ROSSATO (1963-2020) - Arquivo pessoal

APARECIDA ROSSATO, 57, vendedora, Franca (SP)

Cida nasceu com uma deficiência na coluna que lhe causava dores fortes e, quando criança, impediu seu crescimento, motivo pelo qual sempre andou no salto. Não se deixou abalar pela deficiência. Escutava com frequência, da família e dos amigos, a pergunta sobre qual era o segredo para ser tão feliz. Juntava dinheiro para, no Réveillon, viajar à praia com as amigas.

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DOMINGOS JOSÉ DOS SANTOS (1964-2020) - Arquivo pessoal

DOMINGOS J. DOS SANTOS, 56, estofador, Tijucas (SC)

Domingos era apaixonado por duas coisas: seu ofício de estofador e o time do Flamengo. O tapeceiro, no ramo havia 40 anos, morava em Tijucas, cidade às margens da BR-101, de 38 mil habitantes. Nas horas de ócio, deitava na rede e ouvia música. Os sapatos eram usados no trabalho. A filha Thalita conta que o par era o único que ele gostava de usar, e só tirava para dormir.

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ELIANA APARECIDA SILVA SOUZA (1976-2020) - Arquivo pessoal

ELIANA APARECIDA SOUZA, 44, cuidadora, São José dos Campos (SP)

Missionária e frequentadora assídua da Igreja Evangélica Palavra Viva, Eliana era cuidadora de idosos em São José dos Campos. No tempo livre, liderava o grupo de mulheres da igreja em ações de voluntariado. Caminhadas para se exercitar também faziam parte da rotina e estão representadas no sapato selecionado pelo seu tio.

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ERMINIA MAGALI GOMES DE FREITAS COSTA (1960-2020) - Arquivo pessoal

ERMINIA MAGALI COSTA, 60, empresária, São Paulo (SP)

Erminia tinha uma pizzaria em São Paulo e, se necessário, colocava a mão na massa literalmente. Alegre, gostava de reunir amigos e familiares e não perdia uma festa. Suas duas filhas e o marido dizem que Erminia ajudava sempre os outros e que seu carinho se estendia aos cachorros da casa. O sapato da foto era usado para tudo, tanto para trabalhar como para sair.

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GEORGE FRANCISCO GOMES (1970-2020) - Marlene Bergamo/Folhapress

George Francisco Gomes, 50, motorista, São Paulo (SP)

Há dois anos, George trabalhava como motorista de aplicativo. Antes, levou jornalistas da Folha para reportagens em toda a cidade, ajudando muitas vezes na apuração. Era conhecido como Papai, porque era assim que chamava os repórteres. Morador da zona sul, era também promoter de bailes que reuniam até 5.000 pessoas. Nessas ocasiões, era o George Black.

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JAIR CÉSAR BARBOSA ZUZA (1954-2020) - Arquivo pessoal

JAIR C. BARBOSA ZUZA, 66, administrador, Rio de Janeiro (RJ)

O administrador Zuza gostava de um bom debate, inclusive nas redes sociais. Tirava seus argumentos da leitura e dos estudos. Escreveu alguns romances, ainda engavetados. Vibrou quando o filho, escritor, publicou seu primeiro livro. Além dele, deixa a esposa, com quem se casou há dez anos, e duas netas pequenas, com quem conviveu menos tempo do que gostaria.

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JOSÉ PINTO NETO (1946-2020) - Arquivo pessoal

JOSÉ PINTO NETO, 74, comerciante, Rio de Janeiro (RJ)

Com apenas o primário completo, José chegou a gerente de supermercado e assim trouxe os oitos irmãos de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Nos últimos 26 anos, dedicou-se, sete dias por semana, ao seu mercadinho. Dizia que ser comerciante o aproximava dos jovens, com quem compartilhava memes, fotos e emojis. O tênis foi usado no último Natal com a família.

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MARIA ANA DE ALMEIDA (1962-2020) - Arquivo pessoal

Maria Ana de Almeida, 57, comerciante, Ibirité (MG)

O bar Tente Outra Vez, de Maria Ana, era famoso em Ibirité. Ela ganhava o estômago do cliente com pratos como galopé, suã, feijão tropeiro e peixes. Mesmo na pandemia, não fechou o bar e trabalhava todos os dias, contra a vontade dos filhos. Maria Ana era do grupo de risco por ser diabética e hipertensa. Por causa da artrose, gostava de sapatos abertos e fáceis de calçar.

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JOSÉ FLÁVIO DE BESSA (1957-2020) - Arquivo pessoal

JOSÉ FLÁVIO DE BESSA, 63, farmacêutico, Mossoró (RN)

Primogênito de dez irmãos numa família humilde do interior potiguar, José Flávio foi o primeiro a conquistar diploma universitário. Formou-se farmacêutico e bioquímico e serviu de inspiração para familiares que trabalharam na área da saúde. No sítio, cuidava das plantações e do gado e pescava. Oriundo de uma família numerosa, não deixou por menos: teve nove filhos.

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PAULO CRISTOVAM LEITE DOS SANTOS (1965-2020) - Arquivo pessoal

PAULO CRISTOVAM SANTOS, 54, farmacêutico, Pesqueira (PE)

Muitos dos 65 mil habitantes de Pesqueira, município do agreste pernambucano, conheciam Paulinho. Trabalhava em um hospital municipal e era presença constante na farmácia da família, uma das mais antigas da região. Bondade e bom humor são características muito usadas para descrevê-lo. Usava as roupas novas com etiqueta, para brincar com quem estava ao redor.

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NELSON BORGES FURTADO (1960-2020) - Arquivo pessoal

NELSON BORGES FURTADO, 60, eletricista, São Paulo (SP)

Aos 11 anos, Nelson trocou Borrazópolis, no interior do Paraná, pela capital paulista, onde foi criado com os irmãos e virou eletricista. Ingressou no ensino superior aos 42 anos. Formou-se em direito, mas preferiu continuar como eletricista. Autônomo, ficou em casa por dois meses, mas teve que voltar a trabalhar. Aos três filhos, proporcionou uma vida confortável.

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RAFAEL BOEING SILVANO (1982-2020) - Arquivo pessoal

RAFAEL BOEING SILVANO, 37, comerciante, Braço do Norte (SC)

Ao lado da esposa, Rafael abriu uma loja de vendas de equipamentos para gastronomia. Nos finais de semana, ia pescar na Lagoa de Ibiraquera, a 90 km de Florianópolis, sua atividade favorita. Deixa a esposa Roberta, o filho Mateus, 4, e o enteado João Victor, 14, a quem tratava como filho. O tênis da imagem é o último que comprou.

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OLÍVIA MONTEIRO DE LIMA (1957-2020) - Arquivo pessoal

OLÍVIA MONTEIRO DE LIMA, 63, servidora pública, Bélem (PA)

Por mais de 40 anos, tia Lívia, como era chamada, trabalhou na Universidade Federal do Pará, onde era funcionária pública. Teve uma vida dedicada ao trabalho, adorava fazer artesanato e tomar uma cervejinha com os amigos no final de semana. Solteira e sem filhos, cultivou um amor imenso pelos sobrinhos. Devota de Nossa Senhora de Nazaré, não perdia uma procissão.

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VALDOMIRA BATISTA RAMOS (1944-2020) - Arquivo pessoal

VALDOMIRA B. RAMOS, 75, comerciante, São Paulo (SP)

Conhecida como Míriam, Valdomira nasceu em Tapiraí (SP) e, aos sete anos de idade, foi enviada pelos pais à capital paulista, onde viveu na casa de familiares até construir a própria família. Aos 24, casou-se com um amigo de infância. O casal abriu uma loja de móveis, criou as três filhas e realizou muitos sonhos, como conhecer a Europa. Leitora ávida, Míriam amava uma boa prosa.

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JOÃO DOS SANTOS MARTINS (1934-2020) - Arquivo pessoal

JOÃO SANTOS MARTINS, 86, comerciante, São Paulo (SP)

João morava na zona leste de São Paulo desde que veio da cidade interiorana em que nasceu, Candiba, na Bahia. Trabalhava com trocas de objetos, o famoso “rolo”. Mesmo que desse um objeto valioso em troca de outro de preço menor, adorava o que fazia. Conhecido por pregar peças, fazia os oito filhos darem muitas risadas. Era simples, inclusive na escolha do que calçava.

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CARIVALDINA DE OLIVEIRA COSTA (1941-2020) - Arquivo pessoal

CARIVALDINA DE O. COSTA, 78, quilombola, Búzios (RJ)

Quando um griô de uma comunidade tradicional morre, é como se uma biblioteca queimasse por inteiro. No Quilombo da Rasa, em Búzios, uma dessas bibliotecas vivas era Carivaldina, a tia Uia, neta de ex-escravos. Deixou seis filhos, oito irmãos e a mãe, dona Eva, de 110 anos, que morava com ela. Tinha apenas um sapato, de salto preto.

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NERCILIA RODRIGUES PEREIRA (1947-2020) - Arquivo pessoal

NERCILIA R. PEREIRA , 73, doméstica, São Paulo (SP)

Nercilia trabalhou como doméstica toda a vida e, sem registro na carteira de trabalho, não havia conseguido se aposentar. Mineira com orgulho, mudou-se para São Paulo quando casou com Robertino Pereira, há 45 anos, mas seu sonho sempre foi voltar à sua terra natal. Havia comprado uma casa no interior de Minas, onde pretendia passar o tempo da pandemia isolada.

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ANGELINA FROÉS (1944-2020) - Arquivo pessoal

ANGELINA FROÉS, 76, religiosa, Caçapava (SP)

Líder na pastoral da criança na Paróquia Santuário Santo Antônio de Pádua, Angelina dedicou a vida a ajudar famílias em situações precárias. Sempre ativa em projetos sociais, usava a sapatilha bege para andar pela cidade, de casa em casa. No Natal, reunia a comunidade em prol das crianças carentes que o Papai Noel não poderia visitar, mas em 2020 não teve tempo.

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Odilon Cardoso (1944-2020) - Arquivo pessoal

Odilon Cardoso, 75, empresário, São Paulo (SP)

Empresário, Odilon estava havia quase 40 anos à frente do Demônios da Garoa, conjunto vocal mais antigo do Brasil em atividade. Gostava de passar tempo com a família e brincar com os netos. Sofria de câncer no pulmão, estava internado no hospital e foi contaminado pela Covid. O par de sapatos acima o acompanhou em bons momentos da vida. Deixa dois filhos e netos.

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ROBINSON JOSÉ BIANCHI (1964-2020) - Arquivo pessoal

ROBINSON JOSÉ BIANCHI, 56, vendedor, Ribeirão Preto (SP)

Apegado à família, Robinson tinha duas filhas e esperava ansiosamente pelos netos. Vendedor, viajou o mundo a trabalho, morou em Goiânia e voltou à sua cidade natal, Ribeirão Preto, onde vivia com a namorada. Planejava morar na praia para ficar próximo à pesca marítima. Antes, porém, queria construir uma área de lazer para a família.​

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