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Quem são os brasileiros que se voluntariaram para a vacina contra a Covid-19?

Moradores do Rio ouvidos pela Folha relatam sua participação em diferentes estudos de imunizantes

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Juliana Mesquita
São Paulo

Os ensaios clínicos são a última de três etapas para o desenvolvimento de uma vacina. É nesse momento que o imunizante é aplicado em seres humanos a fim de verificar sua eficácia e segurança.

Para que esses ensaios aconteçam, milhares de pessoas precisam se voluntariar. Mas quem são esses voluntários e por que eles decidiram participar dos testes?

Abaixo, conheça alguns voluntários no Rio de Janeiro.

Médica residente em oncologia, GIULLIA BORTOLINI DE LUCENA, 30, fotografada no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, Brasil.Resident physician in oncology, GIULLIA BORTOLINI DE LUCENA, 30, photographed at Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, Brazil.Photo © Eduardo Martino 25.11.2020
A médica residente em oncologia Giullian Bortolini de Lucena, 30, testa como voluntária a vacina de Oxford - Eduardo Martino

Giullia Bortolini de Lucena, 30

A médica residente em oncologia no Instituto Nacional do Câncer conta que descobriu sobre o ensaio clínico em um grupo do WhatsApp que mantém com outros colegas de profissão. Na ocasião, eles estavam falando sobre a vacina de Oxford, desenvolvida pela universidade britânica em parceria com o laboratório AstraZeneca, que estava sendo testada em uma das unidades do Instituto d’Or, no Rio de Janeiro.

A maior motivação de Giullia para participar do estudo foi a vontade de ajudar. Para fazer parte da fase de testes, a voluntária teve que assinar um termo de consentimento e participar da primeira entrevista, onde diversos exames foram solicitados.

Com os resultados em ordem, a médica passou para a segunda etapa, onde ela recebeu a aplicação da dose –a médica não sabe se tomou a vacina ou placebo (formulação sem efeito farmacológico).

”Durante um mês, a gente teve que preencher um questionário diário pelo computador mesmo, com perguntas relacionadas a sintomas, se teve febre, se o local onde aplicou a vacina está dolorido, se ficou enjoada ou se vomitou”, relata.

Giullia tomou a primeira dose em julho e a segunda, em setembro. Ela conta que, após as aplicações, ela continua indo até o Instituto para colher exames periódicos e avaliar a duração da imunidade de quem recebeu a vacina.

Valter da Silva Valente, 77, fotografado em sua residência na Urca, Rio de Janeiro, Brasil. Valter é voluntário no programa de testes da vicina contra Covid-19 da Johnson?s.Valter da Silva Valente, 77, photographed at his apartment in Urca, Rio de Janeiro, Brazil. Valter is a volunteer in the Johnson?s vaccine against Covid testing program.Photo © Eduardo Martino 01.12.2020
Valter da Silva Valente, 77, é voluntário no programa da vacina desenvolvida pela Johnson & Johnson - Eduardo Martino

Valter da Silva Valente Filho, 77

O economista aposentado foi informado do ensaio clínico por sua cunhada, que trabalha no Hospital dos Servidores.

Valter entrou para o estudo da vacina desenvolvida pela Johnson & Johnson. Segundo ele, seria uma oportunidade de contribuir com o estudo e, caso estivesse no grupo da vacina e não do placebo, ele poderia ser imunizado no processo.

“Em momento algum me passou o medo, sabe? Achei que era uma oportunidade de dar a minha pequena participação para chegarmos na única solução para esse problema, que é a vacina”, ressalta.

O aposentado tomou a sua primeira dose no dia 19 de novembro e a segunda, no dia 17 de dezembro.

Duas vezes na semana, Valter deve entrar em contato com a equipe para atualizá-los sobre seu estado e informar se ele desenvolveu algum sintoma de Covid.

Agora resta para o economista aguardar os resultados do estudo e descobrir se, de fato, ele recebeu a vacina.

Enfeirmeira Fernanda Carvalho de Almeida, fotografada em sua residência no Méier, Rio de Janeiro, Brasil. Luciana é voluntária no programa de testes da vacina contra Covid-19 do Instituto Fiocruz.Nurse Fernanda Carvalho de Almeida, photographed at home in Méier, Rio de Janeiro, Brazil. Luciana is a volunteer in the vaccine testing program against Covid-19 from Fiocruz Institute.Photo © Eduardo Martino 13.12.2020
A enfermeira Fernanda Carvalho de Almeida, 35, é voluntária no programa de testes da vacina contra Covid-19 do Instituto Fiocruz - Eduardo Martino

Fernanda Carvalho de Almeida, 35

A enfermeira participa do programa de residência em enfermagem na Clínica da Família Armando Palhares e, por isso, tem contato direto com pacientes com possível quadro de Covid-19 –algo que a preocupa desde o começo da pandemia.

Os cuidados em casa tiveram que ser redobrados, ainda mais por causa do seu filho de cinco anos. “Eu tive que conversar com ele e explicar que ele não poderia me abraçar quando eu chegasse em casa; ele teria que ficar no lugar onde ele estava, eu iria tirar minha roupa, tomar banho e só depois que eu tomasse banho, lavasse o cabelo e escovasse os dentes, ele poderia vir falar comigo”, relembra.

Segundo Fernanda, a Fiocruz e o Instituto Butantan já realizavam estudos na clínica em que ela trabalha e, por meio de uma pesquisadora, ela foi informada dos testes para a vacina Coronavac. No começo, a enfermeira ficou com receio, mas ao saber os detalhes do estudo, foi ganhando mais confiança.

Fernanda tomou a primeira dose em agosto. Ela diz que a equipe do estudo foi muito solícita, sempre perguntando se ela tinha alguma dúvida, explicando os exames que ela precisaria fazer e avisando que poderia haver desistência a qualquer momento. A segunda dose veio 14 dias depois; o acompanhamento termina ao final de 15 meses. Na próxima consulta, a enfermeira vai descobrir se, de fato, tomou a vacina ou se recebeu placebo.

“Se eu tiver recebido placebo, eles garantem que eu tenho prioridade para a vacinação assim que a Anvisa liberar."

Médico, MARCUS GRESS, 52, fotografado no Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil. Marcus é voluntário no programa de testes da vicina contra Covid-19 do Instituro D?Or.Physician, MARCUS GRESS, 52, photographed at Parque Lage, Rio de Janeiro, Brazil. Marcus is a volunteer in the Covid-19 viccine  testing program by the Instituro D?Or.Photo © Eduardo Martino 25.11.2020
O médico Marcus Grass, 50, é voluntário no programa de testes da vacina contra a Covid-19 do Instituto d'Or - Eduardo Martino

Marcus Grass, 50

Atuando como cirurgião vascular no Rio de Janeiro, Marcus não parou de trabalhar durante a pandemia. No começo, o sentimento predominante era de medo, tanto de contaminar a sua família quanto de adoecer e não poder prover o necessário para eles. O médico, inclusive, viu conhecidos perderem a vida para a Covid-19.

Marcus ficou sabendo do programa de voluntários no hospital em que trabalha, o Copa d’Or. Ele então decidiu fazer parte dos testes da vacina de Oxford.

Ele diz não ter tido medo de participar. “Eu, sinceramente, pensei como médico e julguei que o risco era baixíssimo. Também fui levado por duas razões: tanto contribuir para a viabilidade do estudo da maneira mais rápida, como que eu poderia ser sorteado já com a vacina”, diz.

A aplicação foi feita em duas doses. Antes, o médico teve que passar por uma série de exames. Após o reforço, Marcus continua fazendo acompanhamento periódico (presencial e por telefone) até o fim do estudo.

“A coisa funciona muito bem. Eventualmente, a gente recebe um WhatsApp com o link para responder sobre o estado de saúde, se você teve febre, se teve dor”, diz.

Cristiano Guedes Duque, médico oncologista, e seu filho Bernardo Guimarães Duque, fotografados em casa na Catete, Rio de Janeiro, Brasil. Cristiano é voluntário no programa de testes da vacina contra Covid-19 da Oxford / Instituto D?Or.Cristiano Guedes Duque, oncologist, and his son Bernardo Guimarães Duque, photographed at home in Catete, Rio de Janeiro, Brazil. Cristiano is a volunteer in the Oxford / Instituto D?Or Covid-19 vaccine testing program.Photo © Eduardo Martino 10.12.2020
O oncologista Cristiano Guedes Duque é voluntário no programa de testes da vacina de Oxford do Instituto d'Or - Eduardo Martino

Cristiano Guedes Duque, 43

O médico oncologista soube do programa por sua esposa, que também é médica.

Um dos motivos para que Cristiano aceitasse fazer parte do estudo era que ele sempre convidava pacientes para participar de pesquisas na área médica. Agora era a vez de ele ser o paciente.

“A pesquisa era aberta inicialmente só para profissionais de saúde, então era algo que a gente tinha que fazer também por uma vacina, por uma pesquisa que tinha que ter o resultado logo”, lembra.

Em julho, Cristiano tomou a primeira dose da vacina de Oxford, testada pelo Instituto d’Or. Em agosto, a segunda.

“Confesso que não tive medo. Foi mais o outro lado, de ser um pouco o paciente, de ter que preencher tudo, de ter que fazer todas as avaliações antes da pesquisa”, diz.

Já da Covid o oncologista admite ter medo sim. E fazer parte do estudo pode tê-lo ajudado a se proteger, uma vez que ele teve 50% de chances de ter recebido a vacina e não o placebo.

O ensaio com voluntários faz parte de uma iniciativa do projeto Equipe Halo, desenvolvido pela ONU (Organização das Nações Unidas). A ação reúne cientistas do mundo inteiro com atuação em pesquisas voltadas à Covid-19, que aceitaram o desafio de tornar a comunicação mais clara com o público.

Para isso, os cientistas mostram a rotina de trabalho, desmentem notícias falsas e tiram dúvidas dos internautas por meio das redes sociais, principalmente, pelo TikTok.

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