Após protestos, governo Doria sinaliza que suspenderá fechamento de restaurantes em SP

Governador citou retração de casos de coronavírus no estado por duas semanas

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São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse nesta segunda-feira (1º) que deve anunciar medidas de relaxamento da quarentena no estado. Ele afirmou que, se a tendência queda de casos se confirmar, anunciará nesta semana a suspensão do fechamento de bares e restaurantes.

A declaração foi feita durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, na zona oeste de São Paulo.

"Com duas semanas consecutivas de retração no número de internações e caso esse cenário se mantenha em queda, na próxima quarta-feira (3) vamos anunciar medidas de suspensão das restrições impostas relativas aos horários de funcionamento do comércio, shopping, bares e restaurantes inclusive aos finais de semana", disse Doria.

A declaração de Doria sinaliza arrefecimento da quarentena em momento em que o governador sofre forte pressão do setor de bares e restaurantes, que já tinha até alguns representantes deste segmento pregando a desobediência às medidas do Plano São Paulo.

A coluna Painel S.A., da Folha, havia adiantado que haveria um anúncio com medidas de ajuda ao setor de bares e restaurantes na quarta.

Chefs, donos de restaurantes e funcionários do setor vêm protestando contra as medidas que preveem o fechamento deste tipo de comércio. Houve até casos de restaurantes que resolveram ignorar as ordens de fechamento.

A capital passou a ficar na fase vermelha aos sábados, domingos e feriados e também entre 20h e 6h nos demais dias. Com isso, o serviço presencial em restaurantes, mas também no comércio e em serviços não essenciais, caso de shoppings e salões de beleza, estão proibidos de funcionar.

A medida havia sido anunciada após a piora nos índices do estado. Só nos 21 primeiros dias deste ano o aumento de casos foi de 42% ante o mesmo período de dezembro passado. Morreram 39% mais pessoas de Covid-19 também neste intervalo.

Agora, as internações tiveram redução de 8% em relação à semana epidemiológica anterior.

"Se nós não tivéssemos agido da maneira que foi feita o sistema de saúde do estado teria infelizmente colapsado", justificou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn. "Reduzimos a ocupação dos leitos de UTI: 68,5% no estado, 67,9% na Grande São Paulo, lembrando que nas semanas anteriores tínhamos taxas superiores a 70%. Mil leitos a menos sendo ocupados frente ao controle da pandemia no nosso estado.
Conseguimos também estabilizar o número de óbitos em relação à semana epidemiológica anterior", disse.

A secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, afirmou que houve melhora na maioria das regiões. "Hoje, na prévia que tivemos, das 17 regiões do nosso estado 13 regiões se mantiveram na mesma situação com uma leve melhora. Três regiões que melhoraram muito: Grande São Paulo, Baixa Santista e Barretos estão com um cenário com tendência de melhora", disse.

Protesto de proprietários de restaurantes na avenida Morumbi, em São Paulo, contra o aumento das restrições por causa da entrada na fase vermelha
Protesto de proprietários de restaurantes na avenida Morumbi, em São Paulo, contra o aumento das restrições por causa da entrada na fase vermelha - Eduardo Anizelli/Folhapress

Ellen criticou a região de Bauru, que desobedeceu às medidas impostas pelo governo. "Agora temos um caso muito triste, que é a região de Bauru. A gente vê o custo da irresponsabilidade dos gestores públicos, quando eles não seguem a ciência. A região de Bauru agora está com uma ocupação de leitos de quase 89%", disse a secretária.

Doria ainda afirmou que a prefeita de Bauru, Suellen Rosim, faz "vassalagem" ao governo federal, invés de defender a população do coronavírus.

Doria vem sendo alvo de pressões e resistências desde o ano passado, devido às regras do plano São Paulo. Durante o período de festas de fim de ano, após o prefeito apertar as regras de quarentena, 20 cidades ignoraram as proibições.

Doria notificou as cidades paulistas que não seguiram a determinação que colocou todo o estado na fase vermelha da quarentena do novo coronavírus nos dias 25, 26 e 27 de dezembro.

No início de janeiro, em reunião com os prefeitos paulistas, o governo Doria falou sobre uma segunda onda de coronavírus no estado e no mundo, cobrou obediência a restrições sanitárias e disse que irresponsáveis vão para o fim da fila em atendimentos.

Na ocasião, uma frase do secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, gerou polêmica. "Vamos priorizar aqueles que seguem o Plano SP. Aqueles que forem irresponsáveis irão para o fim da fila nos atendimentos nesse momento, de forma muito clara e transparente", disse Marco Vinholi.

Em entrevista à rádio Band News FM nesta semana, Doria reconheceu dificuldade para o comércio, mas disse que "mortos não consomem".

"Sei que é difícil, complexo, sei que é muito duro para um comerciante, dono de bar, dono de restaurante, de um pequeno comércio suportar isso. Mas quero lembrar que mortos não consomem, mortos não vão a bares, mortos não vão a restaurantes, mortos não compram pão e mortos não consomem sapatos. Temos que preservar vidas para depois recuperar a economia. Vamos fazer isso, isso vai acontecer", disse na ocasião.

O comércio esperava um aceno ao setor nesta semana. O secretário de Turismo do estado, Vinicius Lummertz, confirmou ao Painel S.A. que estava trabalhando no assunto. Segundo Fernando Blower, diretor da ANR (associação do setor), disse a coluna, a principal reivindicação era a liberação das restrições de funcionamento, mas eles também pedem alívio na alta do ICMS e Refis.

No fim do ano passado, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), foi alvo de protestos e pressão do comércio. No fim, acabou dando autorização para reabertura dos locais. Neste ano, a saúde do Amazonas colapsou, com a morte de pessoas devido à falta de oxigênio.

VACINA

Segundo Doria, o governo chinês liberou a exportação de 5.600 litros de insumos da Coronavac até 10 de fevereiro, totalizando o suficiente para cerca de 8,7 milhões de doses da vacina. Há ainda quantidade similar prevista para chegar na quarta-feira (3).

Com as duas remessas, o cálculo é de 17,3 milhões doses da vacina.

O Instituto Butantan espera conseguir entregar 100 milhões de doses até julho deste ano.

Durante a entrevista coletiva, Doria também anunciou a criação de uma comissão médica para auxiliar no processo de volta às aulas e 587 mil doses da vacina Coronavac para idosos.

O governador afirmou que todos os quilombolas e indígenas do estado já receberam a primeira dose da vacina.


HISTÓRICO

- Em 24 de março de 2020, João Doria decreta quarentena no estado, permitiando apenas serviços essenciais. Bares e restaurantes só podem funcionar no sistema delivery.

- Cresce oposição a medidas de isolamento social. Em 18 de abril, um grupo faz carreta contra as ordens, na qual Doria é criticado

- Pouco mais de dois meses após o início da quarentena, o governo Doria lança, em 27 de maio, o Plano São Paulo, com flexibilização das medidas por região. A cidade de São Paulo inicia na fase laranja, o que permitiu a reabertura de lojas e shoppings

- O governo de São Paulo vai afrouxando a quarentena e, em 10 de julho, anuncia que só 17% permanecem na fase vermelha

- Menos de um mês depois, porém, em 7 de agosto, o estado adia para outubro a volta das aulas presenciais nas escolas, que estava marcado para setembro

- A pandemia começa a refluir e, em 4 de setembro, cinco regiões progridem para a fase amarela. Com isso, 95% da população passa a viver na quarentena mais branda, que permitia a abertura de bares e restaurantes

- A melhora dos números persiste, e, em 7 de outubro, o governo libera atividades extracurriculares nas escolas na cidade de São Paulo

- Em novembro, há aumento de casos. No dia 30, um dia após Bruno Covas (PSDB) se reeleger prefeito da capital, Doria recua em sua promessa de que não endureceria restrições após o pleito e anuncia que cidade de São Paulo iria regredir para a fase amarela.

- A três dias do Natal e temendo uma explosão de casos no período de festas, o governo anuncia que todo o estado irá regredir para a fase vermelha, a mais restritiva do plano de contenção da pandemia, durante os dias 25, 26 e 27 de dezembro e 1, 2 e 3 de janeiro

- A deterioração continua, e em 28 de dezembro a administração estadual notifica 20 cidades paulistas que não seguiram a determinação que colocou todo o estado na fase vermelha

- O número de casos continua a subir, e em 6 de janeiro o govern critica prefeitos que descumpriram quarentena, ameaçando retaliar desobedientes.

- O estado inicia novas restrições em 25 de janeiro, colocando todas as cidades paulistas na fase vermelha a partir das 20h, todos os dias da semana. Nos fins de semana e feriados, a medida vale durante o dia e a noite. Medida valeria até 7 de fevereiro.

- A medida provoca protesto do setor de bares e restaurantes no dia 27 de janeiro.

- Nesta segunda, 1o de fevereiro, o governo indica que deve anunciar suspensão da proibição na quarta (3) de bares e restaurantes funcionarem, inclusive aos finais de semana.

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