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Ivermectina não tem evidência de eficácia contra a Covid-19, diz produtora da droga

Farmacêutica diz não haver base científica pré-clínica ou evidência clínica significativa para uso do medicamento contra o coronavírus

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São Paulo

A farmacêutica Merck (MSD no Brasil) divulgou um comunicado, na quinta-feira (4), no qual afirma que não há evidências pré-clínicas nem clinicas de eficácia da ivermectina no combate à Covid-19. A empresa foi a produtora inicial da droga.

O comunicado afirma que os cientistas da farmacêutica "continuam a cuidadosamente examinar os achados de todos os estudos disponíveis sobre eficácia e segurança do uso da ivermectina para tratamento de Covid-19".

Diz, porém, que a análise da empresa aponta que os estudos pré-clínicos não mostram "base científica para potencial efeito terapêutico contra a Covid-19" e não há "evidência significativa de eficácia clínica em pacientes com Covid-19".

Há, ainda, diz a farmacêutica MSD, uma preocupante falta de dados sobre segurança de uso da droga na maioria dos estudos disponíveis.

Dessa forma, a empresa conclui que vê que os dados disponíveis não dão suporte para segurança e eficácia da ivermectina além da dose e populações indicadas para uso da droga. A farmacêutica aponta que o medicamento é indicado para tratamento de doenças, como a cegueira dos rios, causadas por parasitas.

Em seguida, a nota elenca contraindicações, possíveis efeitos adversos e limitações de uso e de conhecimento para populações específicas, como gestantes, crianças com menos de 15 kg e pessoas a partir dos 65 anos.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), apesar de estudos não apontarem benefícios do uso da droga, sugere o uso precoce da ivermectina contra a Covid.

O próprio Ministério da Saúde também faz indicação da medicação. Documentos do ministério e o aplicativo TrateCOV, criado pelo governo para ser usado por profissionais de saúde, indicam o uso da droga contra a Covid-19. O programa, agora fora do ar para o público em geral, chegava a indicar o uso de ivermectina, cloroquina (destinada a uso contra malária), azitromicina e doxiciclina até mesmo em bebês.

Com caixa de cloroquina e fazendo um joia, Bolsonaro divulga foto após resultado negativo de PCR para Covid-19
Bolsonaro, após resultado negativo de PCR para Covid-19 em 2020, com caixa de cloroquina, outra droga, além da ivermectina, que o presidente costuma indicar para uso precoce contra a Covid - Reprodução/Twitter

Essas drogas fazem parte do "kit Covid", conjunto de medicamentos que, pelo dados disponíveis, não tem efeito contra a Covid, que ganhou impulso com o constante incentivo de Bolsonaro e do Ministério da Saúde.

O alerta da empresa ocorre pouco tempo depois de começar a circular um artigo não publicado em revistas científicas e ainda em pré-print (ou seja, ainda não revisado por outros pesquisadores) que diz que a ivermectina poderia reduzir substancialmente as mortes por Covid-19.

Ademais, não se trata de ensaio clínico, mas de análise de outros estudos, muitos dos quais também não publicados –os autores recomendam estudo clínico robusto, pois uma possível eficácia contra a Covid continua não comprovada.

A ivermectina inicialmente era destinada ao uso veterinário. Na fim da década de 1970, porém, o cientista da MSD William Campbell sugeriu o uso da droga para o tratamento de cegueira do rio (ou oncocercose), doença causada pelo nematoide Onchocerca volvulus e transmitida pelo mosquito-pólvora (Simulium sp). Os estudos para uso da droga nesse sentido começaram no início da década de 80.

No final do decênio em questão, a MSD anunciou que faria um programa de doação da droga para ajudar a conter a doença, comum em áreas tropicais e subsaarianas na África e que pode levar à cegueira. A farmacêutica deteve a patente da ivermectina até 1996.

Campbell, um dos desenvolvedores da ivermectina, foi laureado com o Nobel de Medicina em 2015 junto com Satoshi Ōmura ( cuja pesquisa ajudou no desenvolvimento da droga) e com Tu Youyou, com atuação importante na produção de drogas contra a malária.

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