Descrição de chapéu Coronavírus

Pazuello lembra derrotas da Alemanha em guerras e pede para não se abrir CPI como 'frente política' contra Covid

Segundo ministro da Saúde, abertura de comissão de inquérito poderia ocasionar mais mortes

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Brasília

Ameaçado pela possibilidade de enfrentar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, lembrou as derrotas militares da Alemanha e pediu a senadores para não “abrirem uma frente política” da guerra contra o novo coronavírus.

Pazuello participa nesta quinta-feira (11) de uma sessão temática no plenário do Senado para explicar as ações e omissões no enfrentamento ao novo coronavírus e falar sobre atraso na vacinação.

Senadores protocolaram um pedido de CPI da Covid, que já conta com assinaturas suficientes para a sua abertura. A decisão final cabe ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que afirmou que preferia ouvir primeiro o ministro.

Pacheco afirma que o convite ao ministro havia sido feito antes que a CPI fosse protocolada, mas que seria agora “importante” ouvir suas explicações, antes de tomar uma decisão.

Sem mencionar especificamente o risco de uma CPI, Pazuello pediu aos senadores para não abrirem uma “nova frente” na guerra contra o coronavírus. E lembrou que a Alemanha nazista abriu uma nova frente de combates durante a 2ª Guerra Mundial e acabou derrotada no conflito.

“Queria fazer o meu alerta: a Alemanha perdeu a guerra duas vezes porque ela abriu a frente russa. Duas vezes: na 1ª Guerra Mundial e na 2ª Guerra. Todo mundo avisou ao ditador que não deveria abrir a frente russa. Duas frentes não tem como manter”, afirmou o ministro.

“Temos uma guerra contra a Covid, a guerra é contra a Covid. Ela é técnica, de saúde. Ela não é política. Se abrir a segunda a frente, política e técnica, vai apertar. Nesse momento nós temos que focar no técnico. Se entrarmos com uma nova frente nessa guerra, que é a frente política, vamos ficar fixados”, completou.

“Se nós fixarmos a tropa que está no combate, será mais difícil vencer a guerra. Então peço a todos os senadores que compreendam exatamente o que eu falei. Posições técnicas são discutidas abertamente, planejadas e executadas. É difícil separar política dentro do Congresso. O Congresso é político. Mas nós temos um inimigo em comum, que é o coronavírus, que é a Covid-19.”

O ministro em seguida afirmou que a abertura de uma “frente política”, novamente sem mencionar a CPI, vai significar em mais mortes em decorrência da pandemia.

“Se a gente abrir uma nova frente, a gente vai dificultar isso e, é óbvio, perder mais gente”, completou.

Após a sessão, Pacheco afirmou que a CPI será avaliada a partir desse momento, com base nas explicações dadas pelo ministro.

"Essa questão da Comissão Parlamentar de Inquérito deve ser avaliada agora, à luz de todas essas explicações que foram dadas pelo ministro. E eu vou conversar com todos os líderes partidários, com outros senadores, para avaliarmos sobre a conveniência e pertinência de nesse momento de se instalar a CPI ou não", afirmou.

O presidente do Senado, no entanto, sinalizou estar satisfeito com algumas declarações de Pazuello, principalmente em relação à previsão de vacinar toda a população passível de receber a imunização até o fim do ano.

"Eu preciso confiar nessa informação de que haverá por parte do governo federal a realização dessa imunização, a metade até o meio do ano e a segunda metade do povo brasileiro vacinado até o final do ano", afirmou.

"Nós vamos primeiros confiar que serão cumpridas. Se eventualmente não forem cumpridas, nós vamos buscar entender os motivos pelos quais não foi cumprida. O que não pode haver é descaso, é desleixo, é falta de estratégia."

Pacheco disse não ter enxergado a declaração de Pazuello sobre a possibilidade de mais mortes em caso de uma frente política contra a Covid como uma ameaça.

"O que não pode haver e quero crer que a mensagem do ministro da Saúde [seja nesta linha] é uma politização para fins eleitorais e isso definitivamente não podemos permitir que aconteça no Brasil nesse momento nessa quadra da história nacional", disse.

"Não identifico como ameaça, é uma ponderação do ministro dentro da sua liberdade de manifestação e liberdade de expressão. Quero crer que sua mensagem tenha sido de buscar a pacificação pelo diálogo, de técnica, de conversa constante de tarde, de noite e de dia para poder ter uma solução para esse problema."

Diferente das suas outras idas ao Congresso, o ministro enfrentou um ambiente mais hostil nesta quinta, no plenário da Casa. A cobrança foi generalizada, embora tenha sido mais forte por parte dos parlamentares da região Norte do país.

Pazuello foi cobrado mesmo por senadores mais próximos ao governo e chegou a ouvir termos como “genocida”.

“Ministro, ninguém duvida do esforço que o foverno federal está fazendo, mas todo esse esforço se perde quando se nega a ciência. Por mais esforço de falar sobre vacina, de discutir envio de recursos para os municípios, para os estados, ele se perde todo quando parte do governo, aliados do governo federal, negam a ciência. Isso tem prejudicado desde o primeiro dia que nós tivemos o primeiro caso de pandemia no Brasil”, afirmou Omar Aziz (PSD-AM).

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) usou as palavras mais duras contra o ministro, afirmando que ele pode responder criminalmente por suas ações, mencionando o termo “genocídio”.

“Senhor ministro e Presidente da República, as digitais de vocês estão nessas mortes. E eu tenho fé em Deus que tanto o senhor como o Presidente da República irão responder por genocídio, seja aqui no Brasil, seja no Tribunal Penal Internacional”, afirmou o senador.

Na audiência, senadores questionaram o ministro sobre a demora da pasta em adotar ações diante da crise em Manaus. Em resposta, Pazuello culpou hospitais e dificuldades técnicas pela crise no estado e afirmou que não cabe à pasta adotar medidas em relação ao fornecimento de oxigênio. "O Ministério da Saúde não tem qualquer competência para fabricação, transporte e distribuição e oxigênio", disse.

O grupo também questionou os motivos de o ministério ter lançado o aplicativo TrateCov, que indicava remédios sem eficácia contra a Covid. Em resposta, Pazuello disse que a intenção era ajudar o diagnóstico do médico, mas reconheceu que a plataforma "induzia a medicamentos".

"O que nós observamos: essa plataforma era aberta e fomos verificar que ela estava induzindo as ações de medicamentos. Nós mandamos tirar do ar imediatamente. Mandei abrir processo sobre o servidor e foi afastado", disse.

Pazuello voltou a negar que a pasta tenha um protocolo para a cloroquina, remédio ineficaz para a Covid, apesar de haver um documento que recomenda até dosagens para isso.

"O Ministério da Saúde não faz protocolo para uso de medicamentos. Não faz. O Ministério da Saúde, quando orienta, nós orientamos o atendimento imediato ou atendimento precoce. É atendimento. E é o médico que faz o diagnóstico e ele sim prescreve os medicamentos e define o tratamento", disse.

"As orientações que o ministério deu quanto aos medicamentos têm a ver quanto ao uso dos medicamentos. Caso o médico prescreva, atenção para as doses, atenção para as doses ideais, atenção para não ter excesso para aquele remédio", justificou.

O documento que orienta o uso da cloroquina, no entanto, foi lançado em meio a pressão de Bolsonaro para ampliar a oferta do medicamento contra a Covid. A medida foi uma das primeiras ações da gestão de Pazuello como ministro interino.

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