Descrição de chapéu Coronavírus trânsito

Vacinação em massa em Serrana (SP) gera filas para cadastro e aquece mercado imobiliário

Estudo do Butantan vai analisar contenção do coronavírus após todas as pessoas acima de 18 anos receberem o imunizante na cidade

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Serrana (SP)

Serrana, na região metropolitana de Ribeirão Preto (SP), é uma cidade como tantos outros municípios no interior do país: ruas silenciosas, quase nenhum prédio, com movimento maior em torno da praça da igreja matriz.

Com a diferença de que em dois meses toda a população adulta do município receberá a vacina contra a Covid-19.

Na pacata cidade de 45 mil habitantes, não se fala em outra coisa além da vacina contra a doença que matou 57 pessoas e infectou 2.401 por lá até a última terça (9) segundo a contagem da prefeitura.

O município fará parte de um estudo do Instituto Butantan, um dos fabricantes da Coronavac. A ideia é vacinar os cerca de 30 mil moradores que têm mais de 18 anos (não há autorização para usar o imunizante em menores de idade) e analisar o impacto disso na contenção do coronavírus.

A cidade foi dividida entre quatro grandes grupos, que receberão a primeira dose entre 17 de fevereiro e 10 de março.

Isso significa que toda a população adulta, mesmo jovens que não fazem parte de grupos de risco, estará vacinada. No restante de SP, a imunização de idosos com mais de 85 anos começa nesta sexta (12) e não há previsão de vacina para os mais jovens.

Nesta quinta (11), os serranenses formaram longas filas na porta de escolas para se cadastrarem para participar do estudo do Butantan.

“Meu pai e minha mãe ficaram dez dias internados no ano passado, foi muito desesperador. Era uma sensação de impotência tão grande, porque eu não podia nem falar com eles nem mandar nada, nada entra no hospital. Meu pai desenvolveu pressão alta depois da Covid. Agora, com a vacina, a sensação vai ser só de alívio”, conta a estudante Letícia do Valle, 24.

“Eu não digo nem por mim. Depois que proteger meus pais e minha tia, estarei satisfeita. Mas se puder vacino até os cachorros”, brinca Letícia, que diz que antes de ela própria pegar a doença não acreditava muito na gravidade da pandemia.

A notícia de que os moradores de Serrana seriam vacinados também gerou o aquecimento do mercado imobiliário da cidade.

A estudante Isabela Meghelli, 22, que trabalha na imobiliária dos pais, conta que na segunda-feira (quando o estudo foi anunciado) e na terça-feira recebeu cerca de 60 ligações por dia de pessoas de outras cidades e até outros estados (ela cita Paraná e Distrito Federal) à procura de um comprovante de residência.

As propostas foram as mais variadas, e incluíram compra de terreno à vista sem perguntar o preço até o aluguel de uma casa sem ao menos visitá-la.

“Muita gente só quer um comprovante para poder se vacinar. Quando a gente explica que isso não vai colocá-los no estudo, dizem ‘então tá, obrigado, passar bem’”, conta ela.

A própria Isabela contraiu o vírus em julho do ano passado. “Tive um quadro mediano, fiquei com alguns sintomas graves mas não precisei de internação. Eu sei como é a doença, vou me vacinar com certeza”, diz.

A palavra mais usada pelos moradores para definir o sentimento de estar prestes a se vacinar é “alívio”. A reportagem não encontrou quem se recusaria a receber o imunizante, mas houve quem brincasse com a situação.

“Eu é que não quero virar jacaré”, disse a atendente de uma farmácia em tom de piada se referindo à fala do presidente Jair Bolsonaro de que não se responsabilizaria caso algum vacinado virasse um jacaré.

Tania de Oliveira, 58, dona de um restaurante em frente à praça da igreja matriz, tem dois primos que morreram pela doença e diz que vai se vacinar assim que possível.

“Semana que vem tô aí de cobaia, imagina que chique”, brinca ela, que precisou fazer mudanças no restaurante e adaptou o antigo self-service em um sistema de pratos feitos.

Na cidade da vacina, são poucos os que usam máscara na rua, apesar do decreto estadual que obriga o equipamento na pandemia. Tânia, que usa máscara no restaurante, explica: “Não é que o pessoal não acredita, mas, vamos combinar, incomoda muito”.

Bruno Souza, 24, vendedor em uma loja de eletrodomésticos, teve Covid-19 em dezembro do ano passado e ficou com sintomas leves. Meses antes, o padrasto dele chegou a ficar bem ruim, e ele conta que conhece pessoas que morreram.

“Claro que vou tomar a vacina, lá em casa todo mundo vai. Só minha mãe que ficou meio assim, por não ter 100% de eficácia, e o pessoal fala umas coisas mesmo. Mas a gente vai se vacinar”, diz ele, que ainda vê outra vantagem na imunização: a retomada do movimento no comércio, em crise desde o começo da pandemia.

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