Doria e Covas se desentendem sobre decisão da prefeitura de antecipar feriados em SP

Governador disse que faltou bom senso na prefeitura; Covas rebateu: 'menos falação'

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São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), se desentenderam sobre a decisão da Prefeitura de São Paulo de antecipar feriados na tentativa de aumentar o isolamento social.

Covas decidiu adiantar cinco feriados municipais para tentar conter o avanço da doença. Doria, no entanto, afirmou nesta sexta-feira (19) que faltou bom senso da prefeitura.

Embora os dois tenham tido outras discordâncias, o bate-boca foi visto no mundo político com um tom acima de atritos anteriores. A troca de um subprefeito indicado por Doria também pode ter ajudado a aumentar as tensões.

Agora, há um medo no governo que os feriados adiantados possam gerar uma onda de viagens ao litoral paulista. Por isso, foi anunciada a suspensão da operação descida do sistema Anchieta-Imigrantes, que leva ao litoral paulista. Com isso, haverá menos faixas para que a população trafegue rumo às cidades daquela região.

“As prefeituras têm autonomia para suas decisões, e nós reconhecemos isso. Mas há certas decisões que o bom senso recomenda que sejam compartilhadas previamente com o governo dado ao fato de que a decisão de uma cidade muitas vezes implica em impacto nas cidades vizinhas. Faltou aí um pouco de bom senso da Prefeitura de São Paulo em fazer esse compartilhamento prévio para evitar exatamente o mal-estar que acabou provocando", disse o governador, durante visita ao Instituto Butantan.

Doria e Covas após reeleição do prefeito tucano em São Paulo
Doria e Covas após reeleição do prefeito tucano em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Covas, após a manifestação do governador, emitiu uma nota: “O senso que falta é o senso de urgência. Aqui na Prefeitura tem menos falação, foco no trabalho e colaboração. Faço o máximo que posso para defender o povo da minha cidade. Sempre aberto a colaborar com outras cidades e com o governo do Estado. Mas cada um precisa assumir suas responsabilidades.”

Após o bate-boca, durante coletiva, o vice-governador Rodrigo Garcia também falou sobre o assunto e colocou panos quentes. "É fundamental a população entender que estamos vivendo uma guerra e nem sempre a comunicação na guerra é perfeita. Existe um alinhamento total do estado, da prefeitura de São Paulo, das prefeituras do interior", disse. "Nesses momentos de decisão sempre existe também opiniões divergentes. Nós temos que ter tranquilidade e serenidade nesses momentos difíceis que a sociedade vive. O estado está respaldando todas as medidas tomadas pela capital e por outras cidades do interior. ​

Covas e Doria já tiveram diversos momentos de discordância durante a pandemia.

Inicialmente, no começo da pandemia, Covas era adepto de tomar medidas mais duras, enquanto o governo estadual já ensaiava a possibilidade de flexibilizar a quarentena. Em 2020, o secretário de Transportes Metropolitanos de Doria, Alexandre Baldy, acusou a prefeitura de não avisar o governo sobre um megarrodízio para tentar aumentar o isolamento social na cidade em maio —posteriormente, a ideia do rodízio foi abortada.

Depois, conforme a pandemia avançou, a gestão Covas via índices da pandemia melhorarem e sua equipe começou a cobrar reabertura de alguns setores. A possibilidade de a cidade se manter com as mesmas restrições de locais onde a epidemia estava mais acelerada irritou técnicos do município, que chegaram a deixar de participar das reuniões com o governo estadual.

Segundo a reportagem apurou, um assunto de fora da pandemia também gerou tensão entre as gestões Doria e Covas. Nesta sexta (19), Covas exonerou o subprefeito do Butantan, Paulo Vitor Sapienza, uma indicação pessoal de Doria.

A troca já havia sido pensada antes e gerara uma situação tensa entre as gestões anteriormente. A decisão, porém, estava tomada e se somou às tensões acumuladas da pandemia.

Já era esperado que Covas, uma vez eleito, aumentasse o afastamento em relação a Doria. Em momento que o governador tem a liderança questionada dentro do partido, a eleição de Covas o tornou alguém que faz sombra para Doria dentro do PSDB.

Covas sempre manifestou diferenças em relação a Doria. Enquanto o prefeito procura reeditar o PSDB 'raiz', com um viés social-democrata, Doria procurou fazer do partido uma legenda mais à direita —conforme a disputa com Jair Bolsonaro (sem partido) se tornou mais pesada, ele se moveu mais em direção ao centro.

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