Descrição de chapéu Coronavírus

Em meio à Covid, parte do litoral paulista vive epidemia de dengue

Guarujá e São Vicente temem colapso com combinação entre a doença transmitida por mosquito e o novo coronavírus

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Santos

Em meio à pandemia de Covid-19, parte das cidades do litoral sul paulista vive também nova epidemia de dengue neste trimestre de 2021.

Somando as nove cidades da região, são 1.030 casos registrados, sendo que Guarujá e São Vicente confirmam estado epidêmico e já temem por um colapso aliado aos números de crescimento da Covid-19.

“Em São Vicente, infelizmente, já está bem pulverizado por toda a cidade. Estamos em um processo de epidemia mesmo, com muitos riscos. O nosso índice geral de IDL (Índice de Densidade Larvária) está em 10,6, mas temos bairros que chegam até a 17, sendo que 4 já é considerado um risco alto de transmissão”, disse à Folha o chefe do departamento de controle de doenças vetoriais do município, Fábio Lopes.

Além dos 330 casos confirmados até aqui na cidade, número que sozinho já supera em apenas três meses os registros de 2020 (206 casos), 2019 (85 casos), 2018 (26 casos) e 2017 (92 casos), há outros 825 casos em suspeição, que ainda aguardam por resultados de exames.

A cidade também registrou dois óbitos pela doença, a última de um adolescente de 16 anos, com dengue hemorrágica.

Segundo o último boletim divulgado, São Vicente tem 80% de seus leitos de enfermaria ocupados por pacientes de Covid. Nas UTIs, seis de nove vagas estão disponíveis.

“Trabalho com isso desde 1995 e posso dizer que o mosquito se adaptou à casa das pessoas, hoje está em todo o estado de São Paulo. Eu já tive dengue três vezes. Se não frearmos, como internaremos com hospitais abarrotados? Estamos perdendo uma guerra”, acrescentou Lopes.

A situação de Guarujá, município de 312 mil habitantes, é considerada ainda mais preocupante. A prefeitura deve anunciar nos próximos dias a contratação de mais 15 agentes que ajudarão nos trabalhos de campo, visitando residências para minimizar focos de larvas do mosquito Aedes aegypt, responsável pela transmissão de dengue, chikungunya, zika e febre amarela.

Atualmente, a equipe de saúde da cidade é composta por 72 pessoas, sendo 48 agentes de campo.

“Existe um novo gráfico em que, se você permanece acima da média móvel por quatro semanas consecutivas, você está em uma epidemia. Estamos entrando nesta quarta semana aqui em Guarujá, portanto, já vivemos um quadro epidêmico e preocupante. A dengue ficou subobservada no Brasil e muita gente se contaminou”, explica Marco Antônio Chagas, diretor de vigilância e saúde de Guarujá.

“Aqui, o IDL está em 8,5, muito acima da classificação que seria considerada aceitável. Não conseguimos com uma equipe combater toda a cidade, precisamos priorizar bairros que estavam margeados ao porto de Santos, primeiramente, porque sabíamos que os índices eram maiores. O que mais nos preocupa, no momento, são os quadros de chikungunya”, completa.

Só em 2021 Guarujá já registrou 158 casos de chikungunya, superando a somatória entre 2015 a 2020 (57 casos). De acordo com o departamento de dados epidemiológicos da cidade, em apenas uma semana o município viu dobrar a quantidade de registros da doença.

“As pessoas nos pedem pelo uso do fumacê [nome popular utilizado para o inseticida], mas não temos um número de registros mínimos de casos no bairro para ir atendê-las e aplicar. As pessoas se tratam em casa e chegam aos hospitais com quadros agravados. É um recurso extremamente nocivo, que mata pássaros e atinge diretamente todo o ciclo dos animais. Precisamos de conscientização”, explica Chagas.

Em Bertioga, são 23 casos de dengue registrados, o menor número entre os nove municípios do litoral sul.

Santos atingiu a marca dos 67 casos, mas ainda refuta a condição de epidemia, com a justificativa de que existem diversos cenários de risco para as arboviroses (doenças transmitidas pelo Aedes), sem citar em qual delas o município se enquadra momentaneamente.

Outro município cuja evolução de casos chama a atenção é Praia Grande, com 51 ocorrências, número que também já supera os 30 registros de 2020. Há pelo menos outros 116 casos sendo investigados.

O vírus da dengue possui quatro sorotipos, que podem circular isolados ou simultaneamente. A preocupação se dá não só pelo número de casos, mas para a intensidade encontrada em algumas situações.

“Estamos vivendo um cenário que chamo de 'covidengue', que é quando a pessoa está com dengue e pega Covid, ou ao contrário. São duas mazelas circulantes em cidades como Piracicaba e no litoral paulista. Tive duas pacientes assim, em particular. Se tivermos uma explosão de casos das duas doenças, podemos chegar a um colapso”, analisa o chefe de infectologia da Unesp, Alexandre Naime.

De acordo com as prefeituras, a falta de conscientização da população tem causado dificuldades. Em uma semana, Guarujá registrou em uma mesma residência duas denúncias de focos de mosquitos. Após retirarem uma lona, com inúmeras larvas, voltaram e encontraram o mesmo material e cenário.

À Folha, a Secretaria Estadual de Saúde disse que o combate ao mosquito Aedes aegypti compete, principalmente, aos municípios. A pasta explicou que alerta para a importância de cuidados e incentiva a eliminação de criadouros, tendo registrado, em 2021, até a primeira semana de março, 11,9 mil casos de dengue e três óbitos no estado. Em 2020, foram 194.363 casos confirmados e 139 mortes.

Com relação a chikungunya, são 203 casos neste ano, contra 222 no ano passado. De acordo com a secretaria “há tendência de aumento da doença devido à sazonalidade, pois não houve muita intensidade nos últimos três anos”.

Especificamente no litoral, o estado já encaminhou técnicos de controle de endemias para prestarem apoio aos municípios da região devido ao crescente aumento. Em todo o último ano foram 2.014 casos de dengue e somente uma morte, em Itanhaém. Quanto à chikungunya, são 193 casos confirmados neste ano na região contra 87 de 2020.​

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