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Hospitais privados só têm remédios para tratamento da Covid por 3 a 4 dias, dizem associações

Importações emergenciais estão sendo feitas, mas instituições pedem que Ministério da Saúde distribua remédios requisitados de fabricantes

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São Paulo

Hospitais privados brasileiros dizem que só têm medicamentos para intubação de pacientes com Covid-19, como sedativos e relaxantes musculares, para mais três a quatro dias.

O alerta vem de duas associações, a Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), que reúne 118 instituições de excelência, como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês, e a FBH (Federação Brasileira de Hospitais), que congrega 4.200 unidades de pequeno e médio porte.

Hospitais e associações médicas já vinham alertando nos últimos dias o governo federal para a queda no estoque de analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares.

A escassez dos medicamentos tem obrigado equipes médicas a trabalhar com drogas de segunda ou terceira linha, de maneira racionada, o que pode causar mais sofrimento aos pacientes, além de prejuízo na adaptação à ventilação mecânica e mais mortes, segundo médicos intensivistas ouvidos pela Folha.

Em grupos de enfermagem visitados pela Folha, profissionais relatam que o desabastecimento já chegou a hospitais de ponta, como o Sírio-Libanês.

"Lá no Sírio a gente usava todas as sedações puras, e agora começamos a diluir porque não tá tendo. O Propofol [anestésico] 1% acabou, estamos usando o 2%, e o Cisa [Besilato de Cisatracúrio, bloqueador neuromuscular] também acabou e estamos usando o Rocurônio [relaxante muscular]", diz uma técnica de enfermagem.

Fernando Ganem, diretor de governança clínica do Sírio-Libanês, diz que houve mudanças para o equilíbrio do insumo, mas que todas elas estão contempladas em protocolo e que não causam nenhum prejuízo ao paciente. "Não há falta, apenas diminuição de algumas formas de apresentação", diz ele.

Para tentar evitar o colapso das UTIs, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu adotar medidas regulatórias emergenciais, como a possibilidade de importação direta de insumos por hospitais.

Mas, segundo as associações, isso não é o suficiente porque não há tempo hábil para essas importações. Elas pedem que o Ministério da Saúde faça uma distribuição de estoques requisitados diretamente dos fabricantes.

"Não conseguimos mais reabastecer nossos estoques. Hospitais do Rio, Goiás, Ceará, São Paulo, São Catarina, todos chegara ao limite", afirma Adelvânio Francisco Morato, presidente da FBH.

Ele lembra que, além dos pacientes com Covid, os hospitais serão obrigados a deixar de atender outras emergências, como politraumatizados. "Sem anestésicos, não tem como. E os pacientes crônicos, com AVC, doenças renais, oncológicas que estão nas UTIs não Covid? Eles precisam desses fármacos!"

Para ele, a atitude do Ministério da Saúde em requisitar administrativamente medicamentos para os hospitais púbicos também vai prejudicar os pacientes do SUS. "Cerca de 70% dos atendimentos SUS são feitos na rede privada. É uma incoerência", diz ele.

Morato afirma que o país caminha para um outro colapso na rede hospitalar. "Os pacientes que não morrerem por falta de leito de UTI, vão morrer por falta de medicamentos."

A medida, porém, é defendida pelos secretários estaduais da saúde como necessária para fazer os medicamentos chegarem na ponta do sistema público.

Prevista na Constituição, a medida permite, em situação de emergência, que o Estado use bens privados para resguardar o interesse público.

SindHosp cria consórcio para importar medicamentos em falta

O SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) está criado um consórcio para importar, de forma coletiva, os medicamentos para pacientes com Covid internados.

Segundo Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, a criação do consórcio objetiva organizar os hospitais, coletar pedidos e fazer uma compra coletiva o que daria melhores condições de negociação e preço com os fornecedores internacionais.

"Temos hospitais de todos os portes, mas a maior parte deles não possui expertise de importação e a compra conjunta fortalece nosso poder de negociação e pode agilizar prazos de chegada dos produtos nos hospitais", diz ele.

De acordo com uma nova resolução da Anvisa, dispositivos e medicamentos identificados como prioritários para o combate da pandemia foi facilitada.

A partir de agora, de forma temporária e emergencial, um rol de 34 medicamentos e dispositivos sem registro no país poderá ser importado de forma direta por órgãos e entidades públicas e privadas, bem como serviços de saúde.

Apesar da importação não exigir registro no país, os medicamentos devem ter registro em uma das dez agências reguladoras no mundo.

"A abertura da importação direta (embora temporária) pode ser um primeiro passo para agilizar e destravar o sistema de aquisição e registro de medicamentos no país”, diz Balestrin.

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