Descrição de chapéu Coronavírus

Mesmo com colapso, SP não abre leitos em hospital entregue antes da eleição

Unidade, em Santo Amaro, deveria estar operando desde janeiro; prefeitura diz que prédio precisa de adequações

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São Paulo

Mesmo diante de unidades de saúde lotadas e escassez de leitos para tratar doentes de Covid-19, a Prefeitura de São Paulo, sob gestão de Bruno Covas (PSDB), mantém em funcionamento parcial um hospital que deveria contar com 90 vagas de internação desde o fim de janeiro, mas até agora só é usado para consultas médicas e exames.

O Hospital Municipal Integrado Santo Amaro, na zona sul, foi inaugurado em 5 de novembro de 2020 —dez dias antes do primeiro turno das eleições para escolha de prefeito e vereadores. A unidade, que estava com a obra atrasada havia 11 meses, começou a funcionar com 25% de sua capacidade de atendimento e sob um contrato de gestão emergencial com a organização social INTS (Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde).

Na ocasião, o prédio espelhado ao lado da estação Adolfo Pinheiro da linha 5-lilás do metrô foi aberto com apenas três dos 13 andares funcionando, somente para consultas médicas e de especialidades e exames —todos encaminhados pela UPA Santo Amaro.

A unidade começou a atender pacientes mesmo sem oferta de leitos de UTI, internação e centros cirúrgicos. Segundo a prefeitura, o hospital seria entregue em fases. Assim, em dezembro de 2020, o local passaria a assumir as urgências e emergências da UPA Santo Amaro e em 25 de janeiro já estaria funcionando em sua totalidade —com capacidade para atender 60 mil pessoas por mês.

“Serão 13 andares, com 90 leitos para internação com atendimento em 15 especialidades clínicas [como endocrinologia, reumatologia, oftalmologia e cardiologia]. Também será oferecido atendimento em nove especialidades cirúrgicas, como oftalmologia, ginecologia, ortopedia, cirurgia geral, pediatria, entre outras. O corpo clínico contará com 463 profissionais, sendo 240 médicos”, diz trecho de texto no site da prefeitura a respeito da inauguração da unidade.

Mas parte dessa previsão não foi cumprida. A Folha esteve no hospital na manhã desta quarta-feira (24) e a unidade ainda não realiza qualquer tipo de pronto-atendimento. Além disso, não possui leitos de internação.

Fachada do Hospital Municipal Integrado Santo Amaro, entregue ela prefeitura em novembro. Unidade ainda não teve os 90 leitos de UTI ativados - Rivaldo Gomes - 4.nov.20/Folhapress

Dos 13 andares, o térreo e outros três estão em funcionamento, sendo um deles para o setor administrativo. Os dois elevadores estão parados, aguardando regularização de uso pelo Corpo de Bombeiros. No local são feitos apenas exames e consultas com especialidades médicas para pacientes encaminhados de unidades básicas de saúde da região sul da cidade.

Segundo funcionários, não há previsão de abertura dos leitos, já que as obras para que eles entrem em funcionamento não foram concluídas. Eles não souberam informar por qual motivo a área de internações, que era para ter ficado pronta em janeiro, ainda não foi terminada.

Essa informação também foi confirmada pela médica Marília Oliveira, da Coordenadoria Regional Sul, durante reunião da Comissão Executiva do Conselho de Supervisão Técnica do Campo Limpo sobre RUE (Rede de Atenção de Urgências e Emergências), ocorrida em 17 de março.

Na ata do encontro, ao qual a Folha teve acesso, Oliveira afirma que o hospital Integrado Santo Amaro tem capacidade para 90 leitos, mas estes “não estão construídos”. Ela ainda afirma que o hospital foi aberto para realização de cirurgias eletivas, porém está mudando e poderá receber leitos não Covid, para assim desafogar o Hospital Municipal do Campo Limpo.

A conselheira da supervisão de saúde de Campo Limpo Raquel Plut Fernandes, que também participou da reunião, afirma que o hospital Campo Limpo, assim como a UPA Campo Limpo, que só está atendendo casos de Covid-19, estão completamente lotados e precisam de um “respiro”.

A reportagem esteve nesta terça-feira na UPA e constatou a alta demanda por atendimentos. Segundo funcionários, em um espaço em que antes havia 39 leitos, agora há mais de 90 pacientes infectados pelo coronavírus.

Nesta sexta (26), a capital registrou 91% de ocupação em dos 1.358 leitos de UTI para Covid. Essa taxa chegou a 82% nos leitos de enfermaria, que somam 1.247 vagas.

“Em uma situação em que as pessoas estão morrendo sem leitos, onde está tudo superlotado, usar essa estrutura seria muito importante. Se for necessária uma obra, que se faça o quanto antes”, diz Oliveira.

A urgência na abertura de leitos na região também é destacada pela conselheira da supervisão de Saúde de Cidade Ademar e coordenadora do Fórum Regional Sul, Adriana Matos Pereira.

“Nós vemos a prefeitura afirmar que está tentando ampliar a rede para evitar o colapso na saúde, mas temos esse espaço enorme, sem uso. Não dá mais para esperar”, desabafa.

O hospital Integrado Campo Limpo foi alvo de polêmica antes mesmo de ficar pronto. Previsto para ser entregue em dezembro de 2019, a unidade ainda estava em obras nessa ocasião.

Mesmo sem funcionar, a prefeitura já havia feito repasses na casa de R$ 28 milhões para a organização social Associação Congregação Santa Catarina, que faria a gestão do local.

Adequações

A Secretaria Municipal da Saúde informou, por meio de nota, que o hospital ainda passa por adequações estruturais para atender os usuários e que a unidade programou a sua abertura em fases.

A pasta afirma que serão "implementados gradativamente" 90 leitos de enfermaria e 20 de UTI após "o término das obras", sem citar a data prevista para que isso occorra.

A secretaria também destaca que desde sua abertura, em novembro, já foram realizados 64.361 exames no hospital, além de 30 mil consultas.

Sobre a UPA Campo Limpo, a pasta informou que a unidade atendeu, na quarta-feira (24), 121 casos para quadro respiratório e outros 121 para casos suspeitos de Covid-19, sendo 44 confirmados. "A unidade também teve 39 leitos ocupados para observação de estabilização e 97 em observação para Covid-19."

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