Descrição de chapéu Coronavírus

Mesmo com restrições, paulistanos seguem para o litoral no megaferiado

Barreiras sanitárias montadas pelas prefeituras geram filas de turistas

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São Sebastião

Apesar das medidas de restrição para evitar a entrada de turistas nas cidades do litoral, paulistanos insistiram em viajar durante o feriado antecipado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB).

Nem mesmo as barreiras sanitárias feitas pelas prefeituras foram suficientes para barrar a entrada dos viajantes. Assim como todo o estado de São Paulo, as cidades litorâneas enfrentam o pior momento da pandemia e de colapso no sistema de saúde.

A Prefeitura de São Sebastião montou uma barreira sanitária na rodovia Rio-Santos, todos que estiverem em carros com placas de outras cidades precisam parar e realizar um teste rápido de Covid-19 para que possam ficar na cidade.

Se o teste for positivo, a pessoa deve voltar para sua cidade de origem. No início da tarde desta sexta (26), um jovem, acompanhado de dois amigos, discutiu com os funcionários da Vigilância em Saúde do município ao receber o resultado positivo para a Covid-19.

"Estamos tentando proteger nossa cidade, que já está em colapso, que já está mandando doentes para serem internados em outros municípios. Mas as pessoas não entendem. Acham que seu direito de vir para cá descansar e se divertir é maior do que proteger nossos moradores", disse Maria Ângela de Moraes, secretária adjunta de Saúde do município.

O grande volume de turistas formou uma fila de carros com espera de mais de duas horas. A maioria dos veículos tinha placas da capital paulista. Muitos dos passageiros e motoristas reclamavam da demora para passar pela barreira.

"Se querem fazer barreira, que façam direito, com estrutura. É um desrespeito nos deixarem duas horas esperando para fazer o teste", disse Sônia Maria dos Reis, 62.

Moradora de São Paulo, ela disse ter casa em São Sebastião há mais de dez anos, por isso, "tem direito de ir e vir" das duas cidades quando quiser. "Eu pago imposto, posso decidir onde quero fazer a minha quarentena."

A Folha presenciou o momento em que um homem desce de seu veículo e ordena à diretora de Vigilância em Saúde para que adote medidas para acelerar a abordagem na barreira sanitária. "Vocês têm que fazer andar [a fila]."

Um policial teve que pedir para o homem se afastar e aguardar a sua vez dentro do veículo.

A diretora Fernanda Paluri disse que os funcionários têm sido alvo constante de ofensas e até ameaça de turistas que se irritam com a barreira ou de serem impedidos de ficar no município. "É lamentável sermos agredidos no nosso trabalho, no nosso município. As pessoas acham que, por ter poder aquisitivo alto, podem fazer o que quiser."

Além dos que dizem ter residência na cidade, também viajaram pessoas que alugaram casas na região. O estudante Lucas Andrade, 20 anos, aproveitou o feriado para viajar com dois amigos.

"O risco de pegarmos ou transmitir Covid-19 é o mesmo aqui ou em São Paulo, por isso, decidimos vir para cá. Só vamos ficar em casa", disse o jovem.

Segundo a Prefeitura de São Sebastião, somente nesta sexta foram feitos 459 testes no bloqueio sanitário, 19 foram positivos. "Todos os positivados regressaram às suas cidades de origem", diz nota da administração municipal.

Todas as praias do litoral paulista estão com acesso proibido às praias durante a fase emergencial. Apesar da fiscalização, as prefeituras tiveram de recorrer a barreiras físicas nos acessos para impedir que banhistas burlassem as regras.

Na praia da Barra do Una, em São Sebastião, foram colocados tapumes de madeira nas ruas que dão acesso às faixas de areia. A cidade tem tido dificuldade de impedir a entrada dos turistas já que o número de policiais e guardas civis é insuficiente para fiscalizar as dezenas de praias, algumas delas com pequenas entradas.

"Estamos com o contingente todo da cidade atuando para que os turistas respeitem as regras de restrição. Nossa cidade está em colapso e, infelizmente, as pessoas não têm consciência", disse André Maciel, comandante da Guarda Civil.

Em Maresias, onde não havia nenhum bloqueio à faixa de areia, algumas pessoas aproveitavam para nadar, se exercitar e sentar na orla. Questionado pela Folha, um casal, que bebia cerveja na praia e não quis se identificar, disse desconhecer as regras de restrição.

No local, não havia nenhuma fiscalização ou barreira física para impedir que as pessoas acessem a praia. Pessoas que estão em outras áreas da cidade têm ido à Maresias ou Juquehy para entrar no mar, já que não há bloqueios.

Em Camburizinho, alguns dos acessos tinham bloqueio físico, no entanto, as pessoas encontraram outros pontos para acessar a praia. Na orla das praias da Baleia e Boiçucanga também havia pessoas na faixa de areia e no mar.

Na entrada de Riviera de São Lourenço, em Bertioga, também foi montada uma barreira sanitária. A cidade não está testando quem vem de fora, mas só autoriza a entrada de pessoas proprietárias de imóveis no local. A abordagem gerou filas de veículos.

Só na manhã desta sexta, 300 carros de outras cidades tentaram entrar no local, 21 não tinham documento que comprovava propriedade no local e tiveram de retornar.

Segundo a Prefeitura de Bertioga, foram implantadas 3 barreiras sanitárias, com funcionamento 24 horas por dia, em pontos estratégicos para controlar o acesso de veículos à cidade. Desde quarta (24), foram abordados 6.326 veículos com placas de fora e 507 tiveram de retornar para seus municípios.

Também foram instaladas manilha de concreto e faixas de sinalização no acesso às praias. "As pessoas que burlarem as barreiras serão multadas, por meio das câmeras de monitoramento 24 horas", diz nota da prefeitura.

​Depois que Covas adiantou cinco feriados na capital, as cidades litorâneas decidiram por adotar medidas mais rígidas por receio de uma enxurrada de turistas. As 9 cidades da Baixada Santista decretaram lockdown e conseguiram que o governador João Doria (PSDB) suspendesse a operação descida no sistema Anchieta-Imigrantes.

Já as cidades do litoral norte, como São Sebastião, estabeleceram regras mais rígidas que as previstas no Plano São Paulo. No entanto, não chegaram a decretar lockdown. Também não conseguiram que o governo estadual fizesse bloqueios ou outra intervenção nas rodovias, que dão acesso a elas, para dificultar a entrada de turistas.

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