Descrição de chapéu Coronavírus Natal

Prefeituras sofrem para obter cilindros de oxigênio no Rio Grande do Norte

A capital Natal está com 95% das UTIs ocupadas com pacientes graves de Covid-19

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Luiz Henrique Gomes
Natal

A fila de espera por um leito de UTI no Rio Grande do Norte aumentou a pressão sobre as unidades hospitalares municipais, onde pacientes em estado grave aguardam a transferência em leitos de estabilização. Em pelo menos 60 municípios, empresas fornecedoras de oxigênio alertam para a dificuldade de atender a demanda atual do insumo.

Na capital, pacientes precisam esperar até dez horas em ambulâncias para serem recebidos em uma unidade. Natal é uma das 18 capitais com mais de 90% de ocupação nos leitos de UTI para casos críticos de Covid-19.

pessoas na porta de entrada de uma UPA em Natal
Pacientes em UPA de Natal (RN); na capital potiguar, unidades de saúde municipais têm pacientes na fila de espera por UTI - Luiz Henrique Gomes/Folhapress

Na tarde desta terça-feira (16), 130 pessoas em estado grave aguardavam uma vaga de UTI no estado, mas apenas sete leitos de UTI Pediátrica estavam disponíveis e não serviam para a maioria dos pacientes, por serem adultos.

Trata-se do pior momento da pandemia do novo coronavírus no Rio Grande do Norte, que bateu o recorde de 1.016 internações nesta segunda-feira e nunca teve tantos doentes à espera de um leito.

Enquanto aguardam a transferência, os pacientes ficam em leitos de estabilização, com o suporte de oxigênio, de hospitais e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) dos municípios. Isso elevou o número de internações e o consumo de oxigênio de maneira simultânea na maioria das cidades potiguares.

Pelo menos 60 delas (35,9%) estavam com dificuldades no abastecimento do insumo até esta terça-feira, segundo o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/RN).

Em Ceará-Mirim, município da região metropolitana de Natal, o prefeito Júlio Cesar (PSD) foi notificado nesta segunda-feira pela empresa fornecedora sobre a incapacidade de atender a demanda atual.

O consumo de oxigênio cresceu cinco vezes no último mês na cidade. “Os cilindros de oxigênio eram entregues ao hospital da cidade a cada 15 dias, mas agora precisam ser [entregues] a cada 3”, declarou o gestor.

Há duas semanas, a cidade está com os serviços não essenciais fechados e toque de recolher das 20h às 6h, mas segue com a ocupação máxima no hospital municipal.

Segundo o prefeito, a cidade viveu uma situação dramática na semana passada, quando 85% dos pacientes que realizaram o exame RT-PCR para a Covid-19 obtiveram resultados positivos.

O município deve abrir uma licitação emergencial para encontrar novos fornecedores de oxigênio nesta quarta-feira (17). Mas prefeituras que já buscaram outros fornecedores têm tido dificuldade para encontrá-los.

“Os fornecedores que encontramos dizem que estão com uma demanda muito alta e dificuldade para atender os contratos já vigentes”, disse o secretário municipal de São José de Mipibu, Jefferson Oliveira. O município também fica na Grande Natal.

No domingo (14), a cidade chegou a suspender o atendimento de novos pacientes na UPA. Num aviso colocado na porta da unidade, a prefeitura justificou a suspensão pela dificuldade de abastecimento de oxigênio.

“Com o estoque que o município tem hoje, a gente precisa racionar até encontrar novos fornecedores”, disse o secretário. "A situação que estamos vivendo é reflexo do esgotamento da rede estadual de saúde, que entrou em colapso. Isso faz os pacientes ficarem mais tempo nas UPAs em praticamente todas as cidades, causando uma elevação geral no consumo de oxigênio.”

Em Natal, as UPAs e os hospitais já operam com mais de 100% da capacidade de internação. Não há risco de desabastecimento de oxigênio na capital, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mas parte dos pacientes estão internados em leitos improvisados.

Nesta terça, uma idosa de 82 anos com suspeita de Covid-19 precisou aguardar dentro de uma ambulância do Samu durante 10 horas até ser atendida em uma das UPAs.

A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte (Sesap) vai realizar um aditivo no contrato nos próximos dias com a empresa que fornece oxigênio para a rede estadual, a White Martins, para aumentar o aporte do insumo e permitir a distribuição para os municípios que enfrentam o risco de desabastecimento.

Em nota, a Sesap afirmou que “investiu na manutenção dos tanques de oxigênio de todas as unidades hospitalares de gerência estadual, mantendo o abastecimento regular e afastando a perspectiva da falta de oxigênio” e “vem atuando em parceria com municípios que requisitam apoio aos seus hospitais e unidades de saúde para a questão do abastecimento de oxigênio.”

Diante do quadro de extrema gravidade, a governadora Fátima Bezerra (PT) anunciou que novas medidas serão apresentadas no final da tarde desta quarta-feira .

O comitê técnico-científico da Secretaria de Saúde recomendou o fechamento dos serviços nãoessenciais, mas a governadora não confirmou se vai adotar as medidas. O Rio Grande do Norte está sob toque de recolher até quarta-feira.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), anunciou na noite desta quarta-feira (17) o fechamento das atividades não-essenciais durante 14 dias. A medida entra em vigor no sábado (20) e vai até o dia 20 de abril.

Entre os estabelecimentos que serão fechados no período, estão shopping centers, academias e o comércio de rua não-essencial.

Fátima afirmou que as medidas "mais drásticas" são necessárias para "aumentar a taxa de isolamento social e conter a velocidade da transmissibilidade do vírus".

"Eu sei dos impactos que essas medidas têm para trabalhadores, empresários, para as famílias de vulnerabilidade social. Mas nesse momento, nós não temos escolha. São vidas."

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