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Presidentes de entidades médicas criam comitê para ajudar no enfrentamento da Covid-19

Grupo emite manifesto com orientações da pandemia em vácuo de ação do governo federal

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São Paulo

Um grupo liderado pela Associação Médica Brasileira e mais 54 sociedades de especialidades médicas se uniu para criar um Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19 com o objetivo de juntar informações, fornecer orientações e ajudar a população brasileira no enfrentamento da pandemia do coronavírus no país.

Chamado de CEM, o comitê, segundo carta de apresentação, funcionará em regime permanente, enquanto durar a crise. O comitê vem em resposta à inação do governo federal no controle da pandemia no Brasil, que apresenta, em 2021, o pior momento da crise sanitária desde o início da mesma, em março de 2020.

Segundo o presidente da Associação Médica Brasileira, o médico ginecologista César Fernandes, apesar de reunir aquelas entidades que mais se aproximam da linha de frente no combate à pandemia, a iniciativa é também apoiada por diversas outras entidades de especialidade médica no país.

Em trecho da carta, os presidentes das associações afirmam que este é “o momento mais grave de emergência em saúde coletiva” e que a “Covid-19 se mantém em ascensão em todos os números e carências tendem a piorar, se não houver uma resposta firme e coordenada”.

O comitê afirma ainda que “monitorará permanentemente a pandemia em todo o território nacional e as ações dos órgãos responsáveis pela saúde pública, com o intuito de consolidar informações e, a partir de cenários atualizados, transmitir orientações periódicas de conduta para cuidados e prevenção aos cidadãos e aos profissionais da medicina".

“Nós, médicos, por ética, retidão e compromisso com os pacientes, dizemos claramente à nação: o controle da situação nos foge às mãos, pois não estão sob nosso comando as ações e nem a gestão da saúde.”

Além de citar os números da pandemia, com alta de internações e ocupação de leitos de terapia intensiva no país acima de 80% em 25 das 27 capitais estaduais, a carta atesta que só será possível enfrentar o momento com “obediência às regras de proteção, como o distanciamento, juntamente com a vacinação em larga escala”.

“Destacamos, por fim, que o momento torna necessárias comunicações recorrentes com esclarecimentos e orientações à saúde, por mais simples que pareçam. São elas: a vacina, o combate às fake news e a conscientização individual e coletiva para as medidas gerais de prevenção.”

Os quatro pontos elencados pela carta para combater a pandemia são a vacinação em massa, o distanciamento social (com a menor circulação possível de pessoas), a conscientização e a atitude cidadã, hoje dificultado por valores individuais e o cumprimento à risca das regras preventivas, tais como uso correto de máscaras, manter o ambiente bem ventilado e higienizado, ficar em isolamento respiratório assim que houver suspeita de Covid-19 e higienizar frequentemente as mãos.

Os signatários também criticam a falta de transparência do governo federal em relação ao número de doses disponíveis. O fato de o governo não divulgar um cronograma claro e conciso da vacinação dificulta o enfrentamento, causa desinformação e abre espaço para fake news, dizem os médicos.
Reportagem da Folha com dados de uma pesquisa realizada por entidades civis e a Rede de Pesquisa Solidária da USP apontou que mais de 70% das informações que o Ministério da Saúde divulga sobre as vacinas é incompleta, inconsistente ou indisponível.

Clóvis Arns, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou não ser possível sair da situação grave da pandemia sem as medidas de distanciamento social e vacinação em massa. No entanto, com a escassez de doses, a vacinação por si demorará muito a atingir a parcela da população necessária para conter a disseminação do vírus, por isso o distanciamento agora é tão fundamental.

Além disso, Irma Godoy, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, disse que falta uma voz unificada das autoridades de saúde para a comunicação adequada desses cuidados.

“Nós fizemos recentemente um manifesto para uso correto de máscaras, e não vemos uma mesma campanha feita pelo governo federal. Nosso tratamento é esse que estamos falando aqui: máscaras, distanciamento social e vacinação.”

Embora os membros afirmem que a divulgação da carta representa um ato prático de cobrança ao governo federal, o tom da petição é de exposição do grave momento da pandemia e um pedido à sociedade para cumprir as medidas de prevenção, sem citar diretamente as autoridades de saúde.

De acordo com Fernandes, qualquer pessoa que se posicione contra essas medidas "não tem o apoio, para esse ponto específico, da AMB”.

“O presidente Jair Bolsonaro é responsável pelo que fala e pelo que faz, tem o ônus e o bônus dessas atitudes. A AMB, que fique claro, não é contra nem a favor de Bolsonaro, não temos bandeira político-partidária. Temos um partido definido que é da prática médica. A AMB preconiza que essas medidas sejam no momento incrementadas e pede a todos os cidadãos brasileiros que tenham a consciência e a responsabilidade de cumpri-las”, afirma.

Questionados sobre a possível troca da pasta de saúde, os representantes das associações médicas afirmaram não se posicionar oficialmente sobre isso, mas fizeram comentários como visões individuais. Fernandes disse que a AMB não indica e nem contraindica nomes que são escolha do presidente por desejar “absoluta independência para fazer críticas não a pessoas, mas sim de atitudes e de ações”.

“Não vamos fazer apreciação de nomes, mas estaremos absolutamente vigilantes em relação ao encaminhamento das soluções que são muito simples, que apontam para a mesma direção: vacinação e cuidados para minimizar a transmissibilidade do vírus.”

O presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes, reforçou que o sentimento é compartilhado por todos de ter um direcionamento do país no combate à pandemia.

“As associações médicas e acredito que a imensa maioria dos médicos não acorda todos os dias pela manhã torcendo pelo anúncio de uma nova troca de ministro na pasta da saúde, mas sim com o ministro que venha dar notícia concreta e manifestar uma posição firme em relação àquilo que nós brasileiros precisamos, que são as vacinas.”

Carlos Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, reforçou que são os idosos os que mais morrem com a doença e que é preciso defender as medidas preventivas. “Nossa atuação é totalmente baseada na ciência e não é o que está sendo feito até agora.”

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