Descrição de chapéu Coronavírus

Testes positivos para Covid aumentaram 270% de outubro a fevereiro em SP

Embora quantidade total de exames também tenha crescido, elevação foi 1,5 vez mais do que a esperada

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São Paulo

O número de testes para o coronavírus com resultado positivo no estado de São Paulo cresceu 270% entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021. Esse número é 1,5 vez mais do que o esperado, considerando o aumento acumulado de novos testes devido ao recrudescimento da pandemia —no comparativo do total de testes, esse aumento foi de 150%, ou 1,5 vez.

Os dados são do Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi), do governo estadual, referentes aos exames RT-PCR, que detectam a presença ativa do vírus no organismo, e incluem casos de infecção no passado, detectados em exames de anticorpos (sorologia).

O aumento dos testes positivos é mais expressivo se comparado aos testes negativos no mesmo período, que tiveram crescimento igual do total de testes. Em outras palavras, embora o argumento de que o recrudescimento da pandemia fez com que mais pessoas buscassem exames para diagnóstico de Covid, o crescimento deveria ser o mesmo entre o total de testes realizados e, proporcionalmente, aos testes negativos e positivos detectados.

Ao contrário, quanto maior a proporção de testes positivos, maior é a taxa de positividade, que saltou de 22,1%, em outubro, para alarmantes 35,2% em fevereiro —ela chegou a quase 39% em janeiro, o que quer dizer que a cada dez exames feitos em SP, quatro tinham resultado positivo.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza uma taxa ideal de 5%, mas até 10% é razoável. Quanto maior o número de exames feitos na população, menor essa taxa, mesmo em locais onde o total de casos acumulados é elevado —os Estados Unidos, que lidera a posição de casos confirmados, com 29.668.173 casos até a última quinta-feira (18), apresenta taxa de positividade de 5,9%, segundo dados do Our World in Data (acessado no dia 19 de março).

Diminuir a taxa de positividade esbarra nas dificuldades de implementar uma estratégia de testagem em massa.

Segundo os dados do governo, foram feitos 2.531.929 exames RT-PCR no estado, de março do ano passado até o dia 18 deste mês, uma média de 7.000 exames por dia, ou, ainda, 55 exames por mil habitantes.

Promessa feita em abril de 2020, quando São Paulo enfrentou um gargalo de mais de 15 mil exames represados aguardando análise pelo Instituto Adolfo Lutz (Ial), o governador João Doria (PSDB) anunciou a criação de uma rede de laboratórios públicos e privados para zerar essa fila e ampliar a testagem no estado.

À época, São Paulo processava cerca de 1.700 exames por dia, com a expectativa de alcançar até 8.000 testes diários - o que foi superado em novembro, quando o estado registrou média de 8.825 testes/dia.

Até junho, a Secretaria do Estado de Saúde tinha usado apenas 10% do total de testes adquiridos.

Já em novembro, especialistas apontaram que os casos de Covid estavam aumentando no estado, mesmo com a queda de 22% dos testes de agosto a outubro.

Em agosto, foi inaugurado um centro de processamento de exames laboratoriais em Barueri, na Grande São Paulo, ligado ao Ministério da Saúde, com apoio tecnológico da rede de diagnósticos Dasa e equipamentos da Fiocruz.

Com a promessa de até 10 mil exames processados por dia, o laboratório vem operando com média de 1.300 exames por dia.

No laboratório estratégico do Instituto Butantan, foi feito investimento de mais de R$ 10 milhões para possibilitar o processamento de 2.000 amostras por dia, capacidade que seria ampliada, a partir de maio, a 5.000 exames por dia.

Segundo Sandra Coccuzzo, coordenadora do laboratório, essa capacidade foi atingida ainda no ano passado e, hoje, já há dias em que são processados mais de 6.000 testes, a depender da demanda.

Entretanto, a média de processamento do laboratório do Butantan em fevereiro foi de 500 exames diários, de acordo com os dados disponibilizados na plataforma do governo estadual. A assessoria do Instituto Butantan confirmou que essa média foi a mesma encontrada com os dados disponíveis na plataforma, mas informou que a mesma passa por processo de atualização e que os números ali representam dados ainda incompletos para 2021.

Segundo Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, a central estratégica está em plena operação e sua capacidade produtiva cresceu ao longo do tempo, mas os exames processados dependem do envio de amostras pelo Ministério da Saúde. “O volume de processamento depende muito do momento da pandemia, por isso há picos e vales, que acabam alterando a média diária, mas a central faz hoje parte do programa de testagem do ministério.”

Embora em todo o país tenham sido realizados 12.626.409 exames, a taxa de testes não está assim tão distante da encontrada no estado de São Paulo, o mais populoso e que realizou o maior número de exames proporcionalmente: são 60 exames a cada mil habitantes no país. Nos Estados Unidos, foram realizados 378.137.746 exames RT-PCR, ou uma taxa de 1.072 testes a cada mil habitantes.

Em dezembro, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que havia mais de 7 milhões de testes próximos ao prazo de validade armazenados em um galpão em Guarulhos (SP), com 6,86 milhões deles com vencimento previsto para janeiro.

A Anvisa analisou os testes e prorrogou a sua validade por até quatro meses. O Ministério da Saúde alegou que a distribuição aos estados e municípios era feita segundo pedido dos mesmos e que, por isso, houve o represamento dos exames no armazém.

Em São Paulo, pesquisadores da USP e Unesp responsáveis pela plataforma SP Covid-19 Info Tracker já haviam apontado, no dia 10 de março, que houve aumento de 46% de internações no estado em relação a janeiro, período em que a taxa de positividade era elevada. Sem uma política de testagem em massa, novos focos da pandemia não são detectados, explica Wallace Casaca, coordenador da plataforma.

Questionada sobre a testagem em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde informou que a rede pública de saúde de São Paulo, coordenada pelo Instituto Butantan, tem capacidade atualmente de liberar até 14 mil testes por dia --75% a mais do que os 8.000 previstos inicialmente, e que o placar de testes aponta crescimento especialmente a partir de outubro.

A mesma rede realiza a testagem dos pacientes que se enquadram nos protocolos que regem o SUS, e que questionamentos sobre a manutenção dessas diretrizes e envio de amostras devem ser encaminhados ao órgão federal.

Disse ainda que o aumento do percentual de positividade ocorre à medida que a circulação do vírus aumenta, como o é atualmente considerando a presença das novas variantes de atenção (P.1 e B.1.1.7).

"O Governo do Estado de São Paulo cumpriu a promessa de ampliar a testagem e tomou a iniciativa pioneira de criar a Plataforma de Diagnósticos de COVID-19, coordenada pelo Instituto Butantan, que atualmente capacidade para liberar até 14 mil testes por dia –75% mais que os 8 mil previstos inicialmente. Tanto é que os dados disponibilizados até o momento no Placar de Testes/SIMI apontam crescimento especialmente a partir de outubro."

"A Secretaria de Estado da Saúde desconhece a métrica adotada pela reportagem com relação à proporção de 100 mil habitantes e, assim, seria inoportuno tecer qualquer comentário, especialmente porque os dados de testagem em São Paulo estão em fase de atualização e, consequentemente, qualquer raciocínio com dado preliminar seria inadequado."

Ainda, segundo a secretaria, o setor de Tecnologia de Informação "reportou necessidade de equalização das bases de dados" com informações sobre testes realizados nas redes pública e privada, além da "necessidade de ajustes no script e consolidação dos dados finais". "Devido ao volume de dados, que certamente ultrapassa a ordem de 10 milhões de testes, o servidor ficou sobrecarregado e foi necessário alterar o ambiente de armazenamento e reiniciar o processamento. Justamente por isso, é necessário reiterar que quaisquer suposições e análises sobre os dados de testagem referentes a 2021 não são adequadas, no momento, uma vez que os dados disponíveis são preliminares e estão em fase de atualização."

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta reportagem dizia que São Paulo não conseguiu alcançar a meta de 8.000 testes diários. No entanto, o estado ultrapassou esse número em novembro, quando chegou a processar 8.825 testes/dia no mês. O texto foi corrigido

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